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QUEM CONSEGUE SER OTIMISTA?
Acadêmico: José Renato Nalini
Preocupo-me com a destruição do verde, com o desperdício de nosso maior patrimônio, aquele que geraria recursos para o sustento de várias gerações.

Quem consegue se otimista?


Gostaria muito de transmitir mensagens otimistas, que dessem a todos a certeza de dias melhores para esta pátria sofrida. Mas não dá. Sou ambientalista por vocação. Preocupo-me com a destruição do verde, com o desperdício de nosso maior patrimônio, aquele que geraria recursos para o sustento de várias gerações.

No momento em que o mundo precisa levar a sério as mudanças climáticas geradas pelo aquecimento global, o desvario corre solto. Todas as pessoas bem pensantes estão angustiadas. O mês de abril registrou um salto de 74 de desmatamento a maior, em relação ao abril de 2021. Mais de mil quilômetros quadrados de florestas foram destruídos.

Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental – PROAM, lembra o que a Ministra Cármen Lúcia mencionou em seu antológico voto na “Pauta Verde”: o Brasil vive temos de “caquistocracia”, ou seja, o governo dos piores. Tudo programado, em atenção ao recado de “soltar a boiada” na fatídica reunião ministerial de abril de 2020.

Essa “Pauta Verde” é a tentativa da racionalidade por cobro à nefasta ação dendroclasta. Só que “pedidos de vista” parecem destinados a blindar o governo federal, o fabricante de desertos.

A Vale, mineradora bem conhecida por sua influência e também pelos desastres ambientais, obteve direito à exploração mineral na região de Marabá. Só que as invasões de grileiros e exploradores clandestinos, evidentemente ligados à delinquência, não permitem que ela faça o seu trabalho. Por isso a Vale quer vender os seus direitos minerários de exploração de oito áreas gigantescas de manganês na região de Marabá, no Pará. São mais de doze mil hectares de potencial abundância em manganês, só que o comprador terá de assumir o passivo ambiental da área.

Imagens fornecidas por satélite mostram vigorosa extração ilegal de manganês, com uso de equipamento pesado e centenas de caminhões que retiram milhares de toneladas de minério, em plena luz do dia, sem qualquer dificuldade. A lavra clandestina data de 2014. As denúncias à ANM – Agência Nacional de Mineração e à Polícia Federal datam de oito anos. Mas nada se faz. E agora, com o desmanche das estruturas tutelares da ecologia, os criminosos agem com desenvoltura.

A Vale sequer acompanhará os interessados em visitas ao local, pois a reação dos delinquentes será violenta. Converge com essa informação, a notícia de que um general da reserva lobista da mineradora Potássio do Brasil esteve pelo menos dezoito vezes no Palácio do Planalto durante esta gestão. Dados comprovados pela consulta à tabela de registro de visitas ao Planalto, fornecida pelo GSI – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, com base na Lei de Acesso à Informação.

Essa empresa – Potássio do Brasil – é tida pelo Ministério Público Federal como agente de cooptação de indígenas do povo “mura” para exploração mineral na Amazônia, principalmente na região de Autazes, entre os rios Madeira e Amazonas.

Isso evidencia o interesse financeiro na exploração mineral na Amazônia, sob argumento de que o Brasil necessitará de potássio para atender ao agronegócio, já que a guerra da Ucrânia impôs restrição à importação de fertilizantes.

O Parlamento aprovou urgência para um projeto com essa finalidade, sob a unção do Presidente da Câmara e do chamado “Centrão”, grupo fisiológico de apoio ao governo.

Tudo isso comprova o descaminho da tutela à natureza consagrada na Constituição da República, no artigo 225. É tamanha a gravidade da situação, que pelo menos 20 das microbacias da Amazônia já estão impactadas por hidrelétricas, mineração e garimpo ilegal, estradas e agropecuária. Esta a conclusão do novo índice, o IIAA – Índice de Impacto nas Águas da Amazônia, criado pela Ambiental Media, com apoio do Instituto Serrapilheira e participação de pesquisadoras.

Embora a tragédia se localize principalmente na região amazônica, não há biomas brasileiros efetivamente protegidos. Assim é que a mineração na Serra do Curral, em Minas Gerais, põe em risco o abastecimento de água na capital mineira, Belo Horizonte. O empreendimento causará o rebaixamento do aquífero e diversas nascentes e cursos d’água da Serra, que abastece o Rio das Velhas, irão secar.

Enfim, o descalabro está em todas as partes desta Nação que nasceu rica, mas acabará paupérrima, com a destruição de seu verde e sua biodiversidade.


Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 31 05 2022



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