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NOSSA 'SANTOS A JUNDIAÍ'
Acadêmico: José Renato Nalini
Mauá foi vítima de sócios desonestos e lhe foi denegada Justiça

Nossa 'Santos a Jundiaí'

Um estadista injustiçado, verdadeiro patriota, foi Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá. Ele está ligado à nossa cidade, pois foi o responsável pela construção da Estrada de Ferro "Santos a Jundiaí", a "SJ", depois denominada "São Paulo Railway".

Foi uma iniciativa corajosa, que gerou efeitos desastrosos para Mauá. Foi a principal causa de sua falência. A autorização para a edificação da ferrovia se deu pela Lei 838, de 12.9.1855. O decreto 1.759, de 26 de abril de 1856 cuidou da concessão aos Marqueses de Monte Alegre, Costa Carvalho e de São Vicente, Pimenta Bueno, além do Barão de Mauá. Eles foram autorizados a incorporar a companhia.

O privilégio duraria 33 anos, com garantia de juros de 5 sobre o capital de dois milhões de libras esterlinas. As plantas foram aprovadas pelo decreto de 11 de março de 1858. Incidia ainda um juro provincial de 2, dado posteriormente, e o grupo contou com um auxílio direto de cem mil libras, concedido pelo Governo do Império.

Critica-se em Mauá o fato de recorrer ao governo. Como se empreitadas dessa dimensão e envergadura pudessem dispensar o incentivo do Estado. Na verdade, ele hesitou bastante em aceitar o beneplácito imperial. Em sua autobiografia, confessa: "A magnitude da empresa criou alguma hesitação no meu espírito: e durante algum tempo resisti às solicitações dos meus amigos, cedendo afinal sob a promessa de unirem eles seus nomes prestigiosos na política do país ao meu humilde nome, impondo-me eles nessa ocasião, como condição, o não partilharem de qualquer benefício pecuniário que daí lhes pudesse provir".

Pimenta Bueno era um paulista orgulhoso de sua terra natal e senador por São Paulo desde 1853. Costa Carvalho, baiano de nascimento, havia, em época remota, servido como juiz em São Paulo, entre 1821 e 1822, onde veio a constituir família. Redigiu no "Farol Paulistano" em 1827 e ajudado pela parentela influente de sua mulher, foi deputado por São Paulo à 4ª legislatura da Assembleia Geral em 1838. Presidiu a província bandeirante no período da Revolução Liberal de 1842.

Ambos já haviam sido ministros em 1848 e conselheiros do Estado. Quiseram Mauá porque ele já fizera a primeira estrada de ferro no Brasil e crescia em prestígio. Ele custeou os estudos enquanto se cuidava de levantar capital em Londres. Tais estudos, que analisaram as condições da Serra de Cubatão, levaram três anos e ocuparam uma equipe de engenheiros ingleses que ele pagou: Roberto Milligan, D'Ordam, Fox, Brunlees, C.B.Lane e outros. Era uma façanha grandiosa: "enfunilar num despenhadeiro, a caminho do oceano, toda uma riqueza que ainda hoje mal começa a aparecer e ainda não está calculada".

Os contratempos eram grandes. Passados mais de seis anos na execução dos trabalhos ferroviários, iniciados em 24.11.1860, os empreiteiros ingleses Roberto Sharp & Filhos faliram. Para salvar a estrada, Mauá assume os serviços, quase paralisados pelos desabamentos na Serra entre 1864 e 1865 e que foram abandonados pelos empreiteiros arruinados. A dívida era superior a duzentos mil libras. Os ingleses o abandonam e Mauá conclui a estrada à sua custa, contando que ela viesse a se pagar com o funcionamento.

Falido, alquebrado e idoso, Mauá não desiste de tentar receber seus direitos. Mas a Justiça inglesa sequer examinou o mérito da causa: a dívida prescrevera. Mauá foi vítima de sócios desonestos e lhe foi denegada justiça.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 29 05 2022



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