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Acadêmico: José Renato Nalini O ser humano é um animal consumidor e autossuficiência é algo utópico
Consumo em tempos de pandemia O ser humano é um animal consumidor. Está em seu DNA. Ninguém consegue subsistir sem recorrer ao ofício ou à arte alheia. Autossuficiência é algo utópico para a humanidade. Principalmente nesta era, em que existe crescente demanda e simultânea oferta de produtos e serviços. Mas veio a pandemia. E o consumidor que estava acostumado a adquirir pessoalmente aquilo que considerava imprescindível, teve de se resignar a uma postura passiva. Ainda bem que o delivery já vinha se desenvolvendo, para atender os mais comodistas. Agora, tornou-se material de primeiríssima necessidade. À primeira vista, dir-se-ia que a crise do coronavírus foi golpe de morte à economia. Shoppings vazios, assim como restaurantes e bares. Lojas, então, nem se fale. Houve evidente e súbita queda nas compras. Ocorre, porém, que as necessidades persistem e têm de ser atendidas. Aperfeiçoa-se o sistema da compra online. Difícil? Para o iniciante sim. Há necessidade de se familiarizar com o uso das redes sociais e estas não eram tão íntimas a algumas gerações, como o são para os millenials. Quando a necessidade chega, o homem tem de responder. E os mais resistentes se resignaram a fazer suas buscas e suas compras. Acostumado a ver os seus direitos respeitados, principalmente após a vigência do Código de Defesa do Consumidor, o comprador da crise pode se assustar um pouco. Verificará que há muitos produtos indisponíveis. Talvez as carências humanas sejam muito comuns e uma grande legião, num determinado momento, está a faltar um produto que todos procuram. É ter paciência e pesquisar. Setores que mantinham a venda virtual para atender a um nicho, hoje atendem a toda uma população. Esta vai também aprendendo a administrar o mercado eletrônico. Talvez a qualidade intensificada do consumo seja uma característica para uma categoria diferenciada, que estava acostumada a frequentar excelentes restaurantes e a se munir de bens muito selecionados. Esta faixa não só procurará manter o seu estilo, como o tornará ainda mais exigente. O que resta ao recluso senão adquirir um bom prato, obra-prima de um chef respeitado ou degustar o vinho mais recomendado? Não haverá queda para esse mercado da sofisticação. Até porque, aquele que se considera punido, de certa forma injustiçado, por permanecer trancafiado, considerar-se-á merecedor de algo condigno com o seu bom gosto. Compensará o isolamento com a aquisição de tudo o que primar pela excelência em qualidade. Excelente oportunidade para que haja diversificação, multiplicação de ofertas, detecção daquilo que agradaria mais a uma clientela muito singular. Simultaneamente, há de se pensar naquele que enfrenta idênticas dificuldades e não dispõe da largueza de recursos que permitam o consumo sem restrições. A criatividade dos fornecedores haverá de encontrar fórmulas bastantes para atender a todas as categorias de consumo. Não por acaso, em toda a França, mas principalmente em Paris, é comum que os grandes restaurantes trabalhem com o menu tradicional e com suas "formules", que são pratos executivos, de dispêndio menor e à altura daquele que tem de economizar. Os serviços também devem sofrer uma revolução. O tempo de entrega é um fator convincente para dirigir uma compra. A honestidade de ambas as partes, com a transparência daquilo que se promete e daquilo que se entrega. Enfim, o consumo deixará muitas lições para a humanidade que se viu perplexa, mas que sobreviverá à pandemia. Não deixou e nunca deixará de consumir. É algo ínsito à espécie. Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 19 05 2022 voltar |
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