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Acadêmico: José Renato Nalini Como 'prêmio' para quase meio século de reinado, a Família Imperial teve bens confiscados
Ingratidão republicana Aprendemos na escola que a República foi proclamada como conquista democrática, para ajustar o Brasil à fórmula encontrada pelos Estados Unidos, exemplo mundial de cidadania plena. Só que, no decorrer da era republicana tupiniquim, não é difícil constatar que se colecionou mais fracassos do que êxitos. É que tudo começou muito mal. Não poderia dar bons frutos um golpe que humilhou um estadista respeitado, um homem bom e culto, respeitado em todo o planeta. Escorraçado, obrigado a embarcar em plena noite, com seus bens confiscados, pouco mais teria duração a sua fecunda existência. O mundo ficou atônito com o tratamento que o golpe conferiu à Família Imperial. Infelizmente, a ingratidão dos brasileiros, que não tinham recebido de sua Imperatriz senão benefícios e as emoções de toda sorte, porque o que Teresa Cristina teve de passar durante os melancólicos dias de novembro de 1889 agravaram sua condição cardíaca. Algumas semanas após sua chegada à Europa, caiu de cama no Porto e não mais se levantou. Quem sofreu de perto foi a Condessa de Barral, que fora preceptora das duas princesinhas, Isabel e Leopoldina. Ela não teve o consolo de rever sua augusta senhora e amiga. "Vejam bem, dizia em lágrimas a seu filho, que vocês estavam errados impedindo-me de cumprir meu dever de ir a Lisboa e por isso fui castigada". Ela também teve sua saúde abalada. Tão robusta até então, emagreceu a olhos vistos e em um ano parecia ter envelhecido dez. A "proclamação da República" também a matou. A única alegria foi receber durante um mês toda a família imperial em seu castelo de Voiron e de abrigar a infelicidade sob o teto da amizade. Prolífica missivista, escreveu centenas de cartas à Imperatriz e ao Imperador, entre 1859 e 1890. A primeira delas, após o golpe republicano, exprimia sua dor: "Não sabendo para onde Vossas Majestades vão, acharam melhor que eu esperasse Suas ordens aqui, sem ter o consolo de ser a primeira a lhe beijar a mão na terra do exílio! Mas fique Vossa Majestade certa de que pode dispor desta Sua dedicadíssima criada, quando e onde quiser Lhe fazer a honra de a chamar. Nada digo do ocorrido porque me parece impossível fazer o menor comentário e mal posso acreditar em tamanha ingratidão! Para mim não há mais pátria. Perdi-lhe todo o amor que lhe tinha e cubro-me de vergonha quando me falam no Brasil. Estou persuadida de que Vossas Majestades nos darão o exemplo da resignação cristã, mas eu não o poderei seguir". Quando da morte da Imperatriz, ela escreveu a Pedro II: "Não tenho expressões com que possa dizer a Vossa Majestade quanto eu sinto profundamente Sua dor tão cruel". Continuou, fidelíssima, a se corresponder com o Imperador destronado. Em 22 de fevereiro de 1890, dizia: "A revolução do Brasil só nos trouxe a consolação de ver os amigos... Não se passa dia que, quando eu acordo, não cuide ter tido um pesadelo, lembrando-me da ingratidão com que trataram Vossa Majestade!". Como prêmio para quase meio século de reinado magnânimo, invejado no restante do mundo, a Família Imperial teve, além do exílio, todos os seus bens confiscados. A Barral tentava animá-lo. Em 27.4.1890, escrevia: "Parece que Vossa Majestade também vai se aguentando, caindo e levantando cada vez mais nédio. Assim Deus o conserve por muitos anos". Não era a vontade de Deus. O Imperador, que nascera em 2.12.1825, no Palácio São Cristóvão, no Rio de Janeiro, morreu em Paris, no Hotel Bedford, em 5.12.1891. Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 29 05 2022 voltar |
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