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Acadêmico: José Renato Nalini Impressionante quantos afrodescendentes fizeram parte da nossa história
Tem de visitar Atendendo à recomendação de Maria Adelaide Amaral, fui visitar a exposição sobre a Semana de Arte Moderna de 1922 no Museu Afro-Brasileiro, no Parque do Ibirapuera. Já sabia da qualidade da mostra. Mas extasiei-me diante da consistência do projeto. Espero que todo esse trabalho seja convertido em publicação, para que muitos outros tenham condições de acompanhar o significado que teve o brado de alguns jovens há exatamente cem anos e o que isso significou para o Brasil. Mário de Andrade, a figura maiúscula da Semana, era o único partícipe que nunca foi à Europa, eis que não milionário, pardo e sem vínculos com a elite cafeeira a que pertenciam Paulo Prado e, de certa forma, Oswald de Andrade. Ele merece espaço considerável da exposição. Muitos textos, poesias, a explicação do que significou Macunaíma, a Pauliceia Desvairada, o Turista Aprendiz. Impressionante constatar o que Mário escreveu sobre o Tietê e verificar o quão sinuoso e aprazível era esse rio, fotografado por Militão e retratado por tantos pintores da época. Uma tristeza comparar com o Tietê de hoje: um esgoto imundo, morto e fétido, a atravessar toda a insensata conurbação paulistana. Estão presentes e com o devido destaque, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Oswald, Vicente do Rego Monteiro, Lasar Segall, Di Cavalcanti. Seus doze ensaios sobre o Brasil são de uma atualidade incrível. Tudo aquilo que ele reproduziu com seu traço genial, ainda ocorre nesta República. Até mesmo a célebre frase: "A questão social é um caso de polícia". Uma belíssima coleção de esculturas de Victor Brecheret, quadros dos pintores mais prestigiados à época, assim como Oscar Pereira da Silva, Georgina de Albuquerque, Regina e John Graz, e tantos outros. Aproveitei para conhecer o acervo permanente do museu que Emanoel Araújo administra com excelsa categoria. Quanta maravilha amealhada para comprovar o que os lúcidos já sabem: a contribuição dos povos africanos para a cultura brasileira. Em todos os campos, esses irmãos brilharam. O Padre José Maurício, que Júlio Medaglia compara aos maiores compositores europeus, era um erudito afro-brasileiro. Impressionante o conjunto de pinturas do Padre Jesuíno do Monte Carmelo, que em Itu deixou pinturas que tornam a Candelária um dos templos artísticos mais valiosos em todo o planeta, amealhado por Emanoel e expostos à visitação no museu. Todos os apóstolos foram alvo de sua criatividade, assim como os santos mais cultuados. Impressionante o número de brasileiros afrodescendentes que fizeram a melhor parte da história desta nossa nação. Luiz Gama, José do Patrocínio, Teodoro Sampaio, Francisco Otaviano, ao lado de Edson Arantes do Nascimento, Grande Otelo, Ruth de Souza, Ruth Guimarães, Nilo Peçanha Agostinho dos Santos, Ismael Silva, Dolores Duran e tantos outros. A visita ao museu Afro-brasileiro deveria ser obrigatória para todas as escolas. Há uma reconstituição de época da capital paulista bastante eloquente das modificações pelas quais passou a pequena povoação dos jesuítas em 1554, até o seu esplendor no quarto centenário, justamente a ocasião em que se construiu o Parque do Ibirapuera. Para os que têm certa idade, esse passeio vale para rememorar tempos idos e bem vividos. Tive o privilégio de fazê-lo, com vagar e serenidade, ao lado de minha irmã Jane Rute, que também se deleitou com o passeio. Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 05 05 2022 voltar |
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