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Acadêmico: José Renato Nalini Pouco se fala na importância de Napoleão para a História do Brasil. Ele mudou o destino de nossa Pátria.
É bom revisar a História O aprendizado da História é fascinante. Mas, de quando em quando, é bom revê-lo. Quanto já se escreveu sobre a fuga da família real portuguesa de Lisboa, acossada pelas hostes napoleônicas. Pouco se fala na importância de Napoleão para a História do Brasil. Ele mudou o destino de nossa Pátria. O jornalista Hipólito da Costa, que vergastava os maus costumes em seu “Correio Brasiliense”, aborda a política expansionista de Bonaparte: “A História não refere outro exemplo de uma nação, que de um vôo mais rápido chegasse ao cúmulo da grandeza e se conservasse nela por tanto tempo. A mesma Roma, no maior esplendor de sua glória, jamais conquistou tantos Estados, não se apossou de tantos cetros, nem agrilhoou tantos reis. Para todo homem que contempla, deve ser um espetáculo digno de admiração ver o Estado mais pequeno da Europa tornar-se, por efeito de seu valor unicamente a primeira potência do mundo”. Ele defendeu Dom João quanto à transferência da Corte para o Rio. Tudo era preferível a ficar “fora das garras dos tiranos”, “sem se ver obrigado a assinar os documentos de renúncias nulas, que para salvar as vidas assinaram os Soberanos da Espanha”. Mas critica a forma encontrada para acomodar quinze mil pessoas vindas de Portugal, o que obrigou ao despejo escandaloso e sem respeito algum ao sagrado direito de propriedade. O Coronel Manuel Alves da Costa, proprietário de uma chácara na Glória, teve de “cedê-la” à Duquesa de Cadaval. Nela residiu essa nobre durante onze anos e embora depositando normalmente o aluguel, o proprietário recusou-se sempre a recebê-lo. Todos sabemos que o “PR”, de Príncipe Regente, colocado na porta de uma propriedade, era traduzido pelos cariocas como “Ponha-se na Rua”. Destemido, Hipólito da Costa vergastava a prática: “Chega a Corte ao Rio de Janeiro e entra a deitar fora de suas casas os proprietários para acomodar aqueles que lá iam buscar asilo, e estendeu-se isso até para a acomodação de negociantes estrangeiros, que vão somente buscar seus lucros. Apenas se pode sofrer um ataque tão direto aos sagrados direitos de propriedade, qual o de mandar sair um homem para fora de sua casa para acomodar outro, que a ela não tem direito”. Condenava também Hipólito a transferência da Corte sem qualquer adaptação ao cenário brasileiro. Houve um transplante de todos os órgãos administrativos portugueses para o Rio. Muita coisa desnecessária para cá veio e, pela lei da inércia, permaneceu. O governo novo não inovara. Seguira a realidade portuguesa. Como se a guarda para evitar contrabando fosse a mesma que servia ao Tejo, de tamanha estreiteza, para a Baia de Guanabara, com toda a sua extensão. Porque em Lisboa existiam o desembargo do Paço, o Conselho da Fazenda, a Junta do Comércio e tantas outras exteriorizações do Estado monárquico, aqui tudo isso também foi erigido. Algo que depois também se perpetuou, foi “o guardarem-se em profundo segredo as Contas da Receita e Despesa da Nação; isto dá motivo a grandes abusos; porque o dinheiro falta, não se sabe o caminho que levou, e os interessados arrumam entre si as coisas como lhes parece”. Os “interessados” eram os ministros. Hoje, continua a existir essa categoria de interessados, acrescida de parlamentares e de empresários que negociam com a viúva. O jornalista fazia ironia com o ministério, chamando os ministros de “relógios”. Assim podia brincar dizendo que havia os que se atrasavam, os que se adiantavam, os que não funcionavam, etc.. E também dizia que os ministros da Corte se assemelhavam a um certo pasteleiro que tinha aprendido a fazer uma só qualidade de molho e o aplicava a quantos guisados fazia. Qual o motivo que permitia a existência de tão maus administradores? O sistema do “filhotismo”. Ascensão dos privilegiados e afastamento dos competentes e, portanto, dos mais capacitados na administração pública. Além disso, não foi chamado ao ministério de Dom João um só brasileiro. Isso indignava Hipólito: “os naturais do Brasil, quando vinham a Portugal eram olhados como estrangeiros pelo Governo, e como macacos pela plebe”. Os portugueses, quando chegavam ao Brasil, eram recebidos como nobres e faziam os naturais da terra cederem suas casas, ficando desguarnecidos de moradia e de alfaias, tudo para atender à Corte. O pior é que essa ideia de “Corte” impregnou a vida nacional. Ou tudo isso que Hipólito da Costa criticava deixou de existir? A conferir. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 17 04 2022 voltar |
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