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Acadêmico: José Renato Nalini O homem público Ives Gandra da Silva Martins, verdadeiro polímata brasileiro, escreveu mais um livro. Chamou-o, singelamente, “Reminiscências de um cidadão comum.
Reminiscências de um ser extraordinário O homem público Ives Gandra da Silva Martins, verdadeiro polímata brasileiro, escreveu mais um livro. Chamou-o, singelamente, “Reminiscências de um cidadão comum. Nada a ver com o conteúdo. O jurista completo – constitucionalista, tributarista, administrativista, comercialista, – o docente, o poeta, o acadêmico, o cristão autêntico é tão diferenciado, tão provido de talentos e de qualidades pessoais chamadas “virtudes”, que pode ser considerado espécime raríssima. Nunca poderia ser considerado um “cidadão comum”. Verdade que nasceu num lar privilegiado. Cheguei a conhecer seu pai, José da Silva Martins, frequentador assíduo de nossa “Pensão Jundiaí”, o cenáculo de Mariazinha Congílio, segunda esposa de Geraldo de Camargo Vidigal. Ouvi, mais de uma vez, ele declamar “A Ceia dos Cardeais”, tenho dele alguns livros. Inclusive a biografia de Fernando Martins, ancestral da família, mais conhecido como Antonio de Pádua. O santo taumaturgo cuja ubiquidade começa pelas duas Pátrias: Portugal e Itália. Os quatro Martins são geniais. João Carlos, paradigma de superação, José Eduardo e José Paulo. Mas o primogênito se destacou em áreas insólitas. Por trabalhar desde cedo, teve a oportunidade de morar na França, em Paris e em Grasse. Aprendeu a desvendar os segredos da perfumaria e se relacionou com Jean Marais, Jean Cocteau, Gary Cooper e teve contato com outras celebridades, como Olivia de Havilland, Clark Gable Kirk Douglas e Errol Flynn. Quem imaginaria que Ives Gandra chegou a presidir o Partido Libertador em São Paulo, convidado pelo Senador Mem de Sá? E que treinou boxe em 1961 e karatê em 1962? Ele era o único do grupo de karatê que quebrava tijolos, telhas e madeira com as duas mãos, indistintamente. Pense-se em oito telhas emparelhadas, quatro tijolos superpostos e dois pedaços de madeira de uma polegada, tudo junto, não resistia à força das mãos de Ives, tanto a esquerda, como a direita. Uma de suas características é se lembrar de pessoas que o influenciaram e tiveram papel importante em sua vida. Recorda-se do poeta Dalmo Florence, de quem o nosso querido e saudoso Paulo Bomfim também contava episódios quase folclóricos e homenageia uma pessoa que também conheci e que era um dos últimos cavalheiros desta era: o desembargador Fernando Euler Bueno. A mais enternecedora presença no livro é a de D. Ruth, que a Covid levou há um ano. Foi a mensageira da Providência, colocada na existência de um homem singular, para que ele fosse um dos pilares da Igreja Católica e, dentro desta, talvez o mais eminente dos integrantes da “Obra”, o movimento criado pelo hoje Santo José Maria Escrivá. A história de amor entre Ruth e Ives é daquelas que comprovam a possibilidade concreta de uma união conjugal insuscetível a traumas, resistente às vicissitudes, solidificada com o ingrediente de que grande parte das famílias se ressente: a presença de Deus. Esse o antídoto infalível contra a desunião entre casais e outras patologias. Ruth foi permanência terna e inspiradora. O poeta escreveu centenas – talvez mais de milhar – de sonetos em sua devoção. Tenho “O Livro de Ruth”, testemunho do romance que permaneceu vivo durante quase setenta anos e que todavia subsiste, pois para o verdadeiro crente, a peregrinação é uma etapa. A verdadeira vida vem depois. A crença explica a vocação de Ives Gandra da Silva Martins, prolífico escritor, corajoso em sua coerência, aberto à participação em inúmeras batalhas, desde que não comprometa a sua fidelidade à Igreja. Um pai de seis filhos bem sucedidos, o avô extremado de seus netos, o torcedor do “São Paulo FC”, o integrante de quase meia centena de Academias, algumas das quais presidiu, o detentor de dezenas de títulos de Doutor honoris causa, o entrevistador da TV da Família, não é um “cidadão comum”. Este homem extraordinário escreveu vários decálogos: o do advogado, o “do não” e o decálogo da convivência, aqui reproduzido e que serve para todos nós: “Buscar a paz interior. Viver o espírito de serviço. Fazer tudo com alegria. Agir com paciência. Manter serenidade nas conversas. Procurar não julgar intenções. Mostrar afabilidade com as pessoas. Passar segurança no que faz. Ter coragem de enfrentar o erro, preservando o errado. Ser humilde”. Isto é uma humílima síntese do que representa, para a sociedade de nossa época, a figura tão louvada de Ives Gandra da Silva Martins. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 05 04 2022 voltar |
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