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CIDADANIA & PANDEMIA
Acadêmico: José Renato Nalini
Diante do descalabro nacional, é urgente recrutar docentes

Cidadania & pandemia

Não se chega a um acordo sobre se a pandemia do coronavírus se converteu em endemia ou se novas cepas surgirão, até se esgote o alfabeto helênico. De forma açodada ou não, liberou-se o uso da máscara. Mas é só consultar o número de mortos a cada dia, ainda por força da covid 19. Aos poucos, lenta mas constantemente, cresce o número das partidas precoces, principalmente dos não vacinados.

O advento da Guerra da Ucrânia fez com que o foco das atenções deixasse o noticiário da saúde para o da violência institucionalizada e patrocinada pelos que se arrogam a condição de "donos do mundo". Isso não quer dizer que a vida comum deixe de retomar sua rotina e se faça necessário voltar os olhos, a mente e os cuidados para as sequelas da crise sanitária.

Talvez a mais grave delas seja a causada à educação. A escola brasileira já não vinha bem. Permaneceu antiquada, anacrônica, superada, a transmitir informações que são obtidas com um "clique" nos mobiles. As crianças já não se submetem ao adestramento para decorar dados e repeti-los quando solicitadas nas avaliações. O mundo é outro. Dinâmico e virtual. Tudo transmitido de imediato, a cores, com som e movimento. A sedução do universo web é incomparavelmente maior do que as aulas prelecionais ministradas - quanta vez - sem entusiasmo por docentes desalentados, ressentidos e se considerando vítimas do sistema.

Como a educação é direito de todos e é dever do Estado, da família e da sociedade, não há quem possa invocar irresponsabilidade nesse tema. O mais importante para a redenção do Brasil, o único talvez suficiente para que nosso país deixe a condição de "pária escolar". Numa vergonhosa disputa com a situação de "pária ambiental", troféu já entregue pela comunicada internacional, mercê do tratamento infligido à natureza nos últimos anos.

A insuficiência da escola brasileira tem sido provada no contínuo vexame evidenciado nas avaliações PISA da OCDE. A Organização voltada ao Desenvolvimento Econômico das nações realiza, a cada três anos, um exame para aferir a condição do ensino e o Brasil, sistematicamente, está nos derradeiros lugares. Seus alunos não sabem fazer contas aritméticas rudimentares, não sabem ler, não sabem interpretar e, em ciências - o que de fato propicia progresso - naufragam ruidosamente.

Todas as cidades têm professoras aposentadas e estas costumavam ser exemplares. Houve um tempo em que professor era um ser respeitado, reverenciado e até - pasmem! - amado pelos discípulos e por suas famílias. As alfabetizadoras eram providas de um talento invulgar. Sabiam fazer com que aquelas crianças tatibitate se tornassem leitoras em alguns meses. Incentivavam o amor à leitura.

Elas existem. Já cumpriram sua missão. Mas num momento de fragilidade como a que se encontra a Pátria nesta quadra histórica, elas precisam ser recrutadas para ajudar a resgatar o prejuízo que a pandemia intensificou. Mas que já vinha em ritmo decrescente antes da Covid 19.

Ao mesmo tempo em que ajudarão as crianças se libertarem dessa cegueira - quem não consegue ler não enxerga o mundo - podem conscientizá-las de que pestes como a covid têm várias causas, uma das quais é o aquecimento global, causado pela crueldade humana em relação à natureza.

Poderão fazer com que jovens ainda inconscientes se tornem ambientalistas. Aqueles que recolhem sementes, fazem mudas, repõem árvores perdidas. Semeadores de biodiversidade, em lugar de produtores de desertos.

Mais ainda, as educadoras - quase sempre mulheres, pois a mãe também acumulava a missão de responsável pelo "currículo oculto" das palavras mágicas: muito obrigado, com licença, desculpe-me, perdão, até o trivial "bom dia", - podem fazer com que as novas gerações aprendam o que é tolerância, comiseração, respeito pelo próximo.

Não é possível sentir-se em paz e sem remorsos, enquanto cresce a legião dos iletrados. O atraso no desenvolvimento nacional se potencializa quando a escola não consegue cumprir sua missão. Educar é despertar para a exploração dos talentos e qualidades até se atingir a plenitude possível, qualificar para o trabalho e capacitar para o exercício da cidadania.

Diante do descalabro nacional, é urgente recrutar docentes. O esforço é de guerra. Não cruenta, mas tão nefasta quanto.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 31 03 2022



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