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JUNDIAÍ TEM "GUARDIÕES DA SERRA"?
Acadêmico: José Renato Nalini
Jundiaí tem "guardiões da Serra"?

Jundiaí tem "guardiões da Serra"?

A Serra do Japi é o diferencial mais emblemático e mais valioso da região. No mundo em processo de devastação, com a "boiada solta", preservar esse único remanescente da Mata Atlântica, encravado na insensata conurbação ao derredor, é graça e privilégio.

Na administração Walmor Barbosa Martins, havia a ideia de uma "guarda montada", servidores municipais a cavalo que percorreriam a mata e cuidariam de prevenir incêndios, ocupações clandestinas, destruir arapucas e outras mazelas perpetradas pelos humanos.

Na administração Ary Fossen, cuidou-se de ampliar a dimensão da Serra, sempre ameaçada pela especulação imobiliária. Ela "vende" a serra como atrativo, usa do marketing e vai pondo em risco a área envolvente. O adensamento é sempre um perigo. Tudo o que se faz contra a natureza é obra humana. Não se culpe o clima. Este é resposta para a insanidade da criatura que se autodenomina racional.

A Serra é um tesouro que precisa de muita vigilância. Deve existir, embora em reduzíssimo número, um pugilo de amantes da natureza que, espontânea e gratuitamente, cuide da natureza. Apesar das dificuldades e dos óbices, da incompreensão até por parte de quem é pago para defender o ambiente, eles insistem a lutar, na adversidade, para proteger esse patrimônio que não é só nosso. É dos que ainda vão nascer.

Recentemente, tomei conhecimento de uma "guardiã da floresta" que mora em Mogi das Cruzes. Chama-se Maria Cristina Oliveira, vive sozinha no pico de uma serra, no distrito de Quatinga, a 40 km do centro de Mogi. Observa os animais, bebe água pura. Mas vive em permanente luta, pois teve de acionar as autoridades diante das barbaridades perpetradas. Mais de vinte boletins de ocorrência contra loteamentos clandestinos - são criminosos, não nos esqueçamos! -caça ilegal, desmatamento, cultivo irregular dessa praga chamada eucalipto.

É muito difícil obter êxito nessa luta contra o ambiente indefeso e o interesse egoísta, insensível e cego dos "desenvolvimentistas". Ignorantes, desprezam o que a ciência diz, exterminam o futuro por causa de dinheiro que não compra saúde, nem vida digna para os que nos sucederão.

O próprio Estado, que é pago com a suada contribuição daqueles que trabalham e que sustentam paquidermes ineficientes, anacrônicos e movidos pela cultura da política profissional, atua contra o ambiente. É manifesta a política antiecológica do governo federal, com seu Ministério contra o meio ambiente. Mas a burocracia é outra causa impeditiva da tutela que o constituinte previu com tanta acuidade em 1988.

Exemplo dos entraves burocráticos: a guardiã da floresta de Mogi pediu, em março de 2014, que a Fundação Florestal reconhecesse a sua propriedade como RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural. Não conseguiu o objetivo. É também surdo ao clamor que a sensibilidade emite em defesa da floresta, o Estado que coloca empecilhos à verdadeira e altruística destinação de uma propriedade particular, colocada a serviço de todos. Inclusive daqueles que só terão ambiente saudável, se os ora viventes passarem a ter juízo e não prosseguirem na loucura dendroclasta.

Sei de moradores tradicionais da Serra do Japi que encetam idêntica batalha. Inglória, pois não obtêm o beneplácito das autoridades. Ao contrário, assim como a Cris de Mogi, sofrem represálias. Desde que passou a defender o seu verde, a guardiã teve os quatro pneus de sua caminhoneta danificados, sua casa já foi furtada após uma reclamação. Tudo se faz para que ela paralise a atividade em defesa da Serra.

Um governo municipal efetivamente amigo da natureza procuraria identificar esses verdadeiros heróis e colaboraria com a obra meritória que supre a ausência de Estado, situação crônica em todas as prestações públicas prometidas pela entidade arrecadadora. Deficiências na educação, na saúde, na moradia, no emprego, no saneamento básico, em tudo aquilo que permite distinguir uma civilização de um arcaísmo em evidente retrocesso.

Sobressai, nas deficiências detectadas, a criminosa ausência de uma educação de qualidade. Que primasse por tornar as pessoas essencialmente ecológicas. Quem ama o verde, os rios, os pássaros, as flores, só pode ser alguém melhor. Menos propenso à violência e a outras chagas tão frequentes numa sociedade que se esqueceu da ética e do amor ao próximo. Dias melhores virão? Quais os guardiões da Serra do Japi em nossa cidade?

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 24 03 2022



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