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A CREDULIDADE DOS HUMANOS
Acadêmico: José Renato Nalini
Daí o sucesso do filme "Não olhe para cima", que é bem a situação do mundo atual

A credulidade dos humanos

Sabe porque ainda é praticado o estelionato? Porque as vítimas colaboram. Praticamente se acumpliciam com o criminoso e se inebriam com suas fantasias. É inacreditável. Pessoas letradas, eruditas, são vítimas dos mais incríveis contos. Entregam-se, espontaneamente, às falcatruas.

O drama dessa inocência que tangencia a simploriedade, quando não a ignorância, é que vastas parcelas de pessoas embarcam nas versões, desprezando a verdade. As teses conspiratórias, o negacionismo, a militância ativa contra a vacina, o terraplanismo. Tudo isso ainda existe e está mais próximo de nós do que gostaríamos.

O pior ocorre quando a informação errônea vem de pseudocientistas. Não raro, contratados pelo setor econômico interessado. Fatos reais, como o da indústria do tabaco, a financiar estudos tendentes a desvincular o fumo do câncer. Ou uma parcela do negócio sucroalcooleiro a divulgar teses comprobatórias de que a fauna do canavial é superior, em biodiversidade, àquela da Mata Atlântica.

Os cineastas exploraram bastante essa patologia. Quem puder, assista "Uma verdade inconveniente", sobre o aquecimento global. Há também "A Campanha contra o clima", o documentário mostra como as maiores petroleiras do planeta financiam, há décadas, campanhas que afirmam a inexistência do
aquecimento global.

São entrevistados jornalistas e um jovem de 19 anos, que ganha dinheiro para publicar notícias falsas nas redes sociais. Parece surreal, mas não é. Ainda há quem acredite que a Terra é plana, lembra uma pizza, e não uma laranja ou maçã. O documentário 'A Terra é Plana" entrevista os líderes desse movimento que grassa nos Estados Unidos e também possui adeptos no Brasil. Por mais que a ciência evidencie a forma esférica, as naves intergalácticas tenham fotografado o planeta, a crença persiste.

Em 1996, na Inglaterra, a pesquisadora Deborah Lipstadt, especialista no Holocausto, foi processada por David Irving, um negacionista que insiste em asseverar que não existiu o sacrifício dos judeus nos campos de extermínio nazista. O processo judicial rendeu o filme "Negação", dirigido por Mick Jackson e disponível no You Tube.

Alguns brasileiros têm noção de que há um campo minado na desinformação, na ideologização de inverdades para convencer os incautos de que há uma conspiração global cujo alvo é o Brasil. Dois filmes tratam disso: o primeiro é "Cercados", que examina a atuação da imprensa durante a pandemia da Covid-19 em nosso país e mostra as dificuldades no combate ao negacionismo e as fake News sobre o vírus que continua a matar mais de cem brasileiros por dia e cuja cifra, em 07.2.22, já ultrapassava os 632 mil.

O segundo é "A conspiração antivacina", que narra como surgiu essa falácia, fazendo o Brasil reviver o bizarro episódio da "Revolta da Vacina" quando da gripe espanhola em 1918. Há lideranças nesse movimento, uma delas é Andrew Wakefield, médico britânico que publicou em 1998, um estudo manipulado em que relacionava o autismo ao uso da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo e caxumba.

Mas entre nós, há médicos que acreditam - ou pelo menos propalam acreditar - que a vacina modificará o DNA do imunizado, ou que este se transformará num jacaré, ou que contrairá AIDs, ou que receberá um chip e seus dados serão imediatamente conhecidos pela China. Chegam a atribuir mortes à vacina!

Daí o sucesso do filme "Não olhe para cima", que é bem a situação do mundo - e, nele, do Brasil, - quanto à descrença em tudo o que está hoje escancarado: o aquecimento global, causador dos desastres ambientais na Bahia, Minas, Goiás, a seca no Rio Grande do Sul, o criminoso desmatamento da Amazônia e de todos os biomas. Meryl Streep, como presidente dos Estados Unidos, está mais preocupada com sua reeleição do que no objeto do espaço que colidirá com a Terra e fará desaparecer toda espécie de vida nela existente.

Nada que nos recorde o Brasil de hoje Ou você identifica alguma semelhança?


Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 13 02 2022





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