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VIDA NOVA A CADA NOVA VIDA
Acadêmico: José Renato Nalini
De qualquer forma, o plantio de uma nova árvore a cada nova criança que nasce é algo que poderia ser adotado em todos os mais de seis mil municípios brasileiros.

Vida nova a cada nova vida

No momento em que a Terra emite eloquentes sinais de exaustão, a consciência da humanidade ainda não se compenetrou da gravidade do problema. O uso abusivo e até cruel dos recursos naturais inviabiliza a continuidade do percurso existencial pelo planeta. Está cada vez mais próximo o termo final dessa aventura. Se não houver brusca ruptura na maneira que se escolheu para viver, o caos será a próxima etapa.

O Brasil, que já foi promissora esperança na conversão ecológica, tornou-se o mais emblemático exemplo de vilão ambiental. “Soltou a boiada” e conseguiu multiplicar a área dizimada em todos os seus biomas, a começar pelo mais expressivo deles, a Amazônia.

Faltam bilhões de árvores num território que perdurou verde e intacto até há meio milênio atrás. Hoje, a caminho da savanização e da desertificação.

Nesse melancólico panorama, faz sentido o esforço aparentemente inócuo de reagir no plano individual, doméstico, a desenvolver-se no micro-espaço em que se atua. Tudo é válido, quando o perigo se agiganta e ameaça a sobrevivência de todos.

Louve-se, portanto, a iniciativa de senhoras do Rotary Clube de Garibaldi, no Rio Grande do Sul, que lançaram o projeto “Árvore da Vida”. A cada criança que ali nasce, é plantada uma árvore. Está dando certo a ideia, estabelecida a parceria com a Prefeitura local e o Hospital Beneficente São Pedro. O relato de Diego Nuñez no Estadão de 9.1.2022 é inspirador e tomara sirva a motivar outros amigos do ambiente maltratado.

Todo nascimento é celebrado mediante o plantio de uma muda de ipê, com cerca de metro e meio de altura, ao pé da qual consta uma plaquinha de metal, em forma de pezinho de bebê, com o nome do recém-nascido e a data em que veio à luz.

Parece pouco, a considerar que em Garibaldi nascem por volta de duzentas crianças por ano. Mas é significativo o gesto de tentar vincular essas vidas: presentear uma nova vida com outra nova vida. A ideia é fazer com que a criança acompanhe o desenvolvimento de sua árvore e passe a ser, naturalmente, uma cuidadora.

Projetos assim existem e funcionam. Apenas em escala minúscula, quando deveriam se multiplicar. O Prefeito Bruno Covas havia prometido plantar uma árvore para cada vítima da Covid. Era uma outra face de um plano de restauração da flora: vida vegetal em substituição à morte humana. Não sei se essa promessa está sendo honrada pelo Prefeito Ricardo Nunes.

E ganharia robustez se os Registradores Civis das Pessoas Naturais se incorporassem a essa cruzada de regeneração de nosso verde.

Os titulares dos Registros Civis das Pessoas Naturais são aqueles que têm o contato mais direto com a nova gente. São eles que lavram o assento de nascimento dos brasileiros que chegam para reposição dos mais de seiscentos e vinte mil semelhantes ceifados pela Covid. São eles que oferecem a sua contribuição diuturna para alimentar o Consórcio formado entre empresas de comunicação e demais representantes da sociedade civil que suprem a incompetência estatal e fornecem dados atualizados sobre a pandemia que ainda não arrefeceu.

Essas delegações extrajudiciais foram consideradas “ofícios da cidadania” e acrescentaram aos seus atributos o reconhecimento de que são capazes de fazer ainda muito mais pelo Brasil. Detêm um valioso acervo de informações, capaz de orientar a adoção de políticas públicas na área da educação, da saúde (ex: controlar a vacinação), das necessidades para o saneamento básico, para a moradia, transporte e outras exteriorizações do amplo direito a uma existência digna.

Têm condições de atuar também nessa área de tão deficitária atuação estatal: a tutela do ambiente, sem a qual estará em risco toda a civilização. Um plano factível, ao alcance de qualquer comunidade, é esse de entregar ao Planeta Terra uma vida nova a cada nova vida que nele surge. Mais importante até do que a reposição do que a insânia levou, no corte indiscriminado de tantas árvores, é a semente que ficará na consciência dos pais e das próprias crianças, de que o mundo precisa de carinho, cuidado e amor.

Parabéns a Garibaldi e que seu exemplo venha a ser seguido em todas as cidades brasileiras, de preferência com adesão da ARPEN e entusiasmo dos Registradores Civis das Pessoas Naturais do nosso país.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 25.01.2022



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