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Acadêmico: José Renato Nalini A política de “terra arrasada” se impôs e o mais lamentável é que não haja movimentos populares para chamar o governo à ordem!
Prometer é fácil Outro dia mesmo, foi em novembro último, o mundo realizava mais um encontro com vistas à situação da natureza. Cada vez mais vilipendiada e, no Brasil, condenada ao extermínio. Proclamações bombásticas e edificantes foram registradas pela intensa cobertura midiática. “É hora de dizer “chega”! Chega de nos matar com carbono. Chega de tratar a natureza como banheiro. Estamos cavando nossa própria cova. Mesmo no melhor cenário, a temperatura poderá subir mais que dois graus”, disse António Guterres, Secretário-Geral da ONU. Boris Johnson, Primeiro Ministro britânico, profetizou: “Se falharmos, não seremos perdoados”. Para Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, “Glasgow deve ser o pontapé inicial de uma década de ambição e inovação para preservar nosso futuro”. Enquanto isso, Barack Obama, o notável ex-Presidente americano, convocava o planeta: “Preparem-se para uma maratona, não para uma corrida, porque resolver um problema tão grande, tão complexo e tão importante nunca aconteceu de uma só vez”. Tudo muito bonito. Reflete a opinião de lideranças planetárias para o maior perigo que a humanidade enfrenta. Só que os resultados práticos desse encontro são quase nulos. Quando se estabelece um prazo como os estabelecidos nesses documentos – 2050, 2100 – a ninguém ocorre que os signatários estarão todos mortos nessas datas? Como políticos podem ser tudo, menos ingênuos, está evidente a hipocrisia na fixação de metas inatingíveis. Isso tem sido a crônica de todos os encontros realizados para cuidar da questão ecológica. Os países ricos acenam com recursos destinados a investimentos nos países pobres. Mas esse auxílio não vem. Enquanto isso, investem em seus próprios territórios, que não estão imunes à nefasta ação das catástrofes climáticas, mas que têm uma civilização consolidada e podem suportar com resiliência maior os efeitos do aquecimento global. É muito diferente falar em incêndio na Califórnia e incêndio em favela brasileira. Qual o parâmetro entre altas temperaturas no Canadá e a canícula que abatia apenas o Nordeste, mas que agora – em virtude do desmatamento – se espalha por todo o Brasil? Furacões e inundações nos Estados Unidos, na Europa e na China são muito diferentes daquelas registradas na Bahia e em Minas Gerais. Aqui a pobreza invade áreas de risco, o Estado descumpre suas obrigações e consolida situações inaceitáveis. Quando vem a tragédia, quem morre é o pobre. Não causa indignação nas altas esferas, mais interessadas em eleição e em reeleição e em destinar recursos para sustentar Fundos Eleitorais e Fundos Partidários. Vozes isoladas não ecoam e não sensibilizam o governo brasileiro. Carlos Nobre, respeitado climatologista do Instituto de Estudos Avançados da USP é um desses que clamam num deserto de boa vontade. Para ele, quando da COP-26, “a credibilidade das políticas atuais do governo brasileiro é muito baixa, e é baixa em Glasgow também. É difícil alguém apostar muito nas ações efetivas do governo”. Desavergonhadamente, o Brasil faz promessas e não as cumpre. Aliás, nem seria necessário prometer. Bastaria cumprir a Constituição Cidadã, que desde 1988 está vigente, inclusive seu desamado e desrespeitado artigo 225. Parece surreal que se tenha acenado com a cobrança de auxílio financeiro a ser propiciado pelas grandes potências, para que a República Federativa do Brasil viesse a cumprir a Constituição que ela mesma produziu. Quanta falta faz uma educação de qualidade! Se ela fosse uma preocupação dos responsáveis por esse direito de todos – Estado, família e sociedade – uma cidadania ativa, esclarecida e crítica não pactuaria com os desmandos até delitivos perpetrados por quem recebe do povo para concretizar a política pública ecológica. Um povo cada vez mais sacrificado por uma exorbitante carga tributária, condenado ao desemprego, à falta de saúde e saneamento básico, à falta de perspectiva. Enquanto o Estado tentacular cresce e estrangula a iniciativa privada, onerando de forma intolerável os brasileiros que ainda querem produzir em solo pátrio. A política de “terra arrasada” se impôs e o mais lamentável é que não haja movimentos populares para chamar o governo à ordem! O povo que desacredita da Democracia Representativa por acaso confia nas promessas feitas na COP26? Quem é que pagará essa conta? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 20 01 2022 voltar |
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