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Acadêmico: José Renato Nalini Antenar-se com o que se passa no mundo não faria mal às escolas e educadores brasileiros.
Vuca & soft skills Poucos enxergam a inconsistência da educação estatal brasileira, aferrada ao sistema ultrapassado de só cuidar da memorização. Vozes isoladas iniciaram a pregação em torno às chamadas competências socioemocionais, muito mais importantes do que a anacrônica tarefa de transmitir informações para serem decoradas pelo educando. Tudo demora muito a chegar a este Brasil paradoxal. Laboratório antropológico onde vicejam flagrantes antagonismos. Por isso o atraso a investir em conceitos como o VUCA, das iniciais em inglês para os verbetes Volatility (volatilidade), Uncertainty (Incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (Ambiguidade). É o reconhecimento de que os robôs não conseguem responder a situações voláteis, incertas, complexas e ambíguas. E os humanos têm condições de fazê-lo. Desde que se preocupem com isso. A educação contemporânea tem de cuidar dessas habilidades tão humanas, que é improvável sejam substituídas um dia pela inteligência artificial. Recebi estes dias mensagem que dizia mais ou menos: “Não temo a inteligência artificial. Temo é a imbecilidade humana”. Há certa razão para esse temor. O dever dos pensantes – não são a maioria – é fazer com que a humanidade se humanize. Assim como a de obter o milagre de se democratizar a democracia. As tendências universais contemplam a resiliência como o atributo mais necessário, assim como a comunicação, a empatia, a capacidade de trabalhar com perfis distintos, a compaixão, a comiseração, atributos que sequer são cogitados pelos “educadores”. A obtenção de títulos universitários precisa se ajustar à realidade. Insuficiente um diploma para garantir ao seu portador a capacidade de subsistência num espaço de tamanha competitividade, sob o ritmo da obsolescência imposto pela Quarta Revolução Industrial. Formação técnica não é sinônimo de absorção pelo mercado de trabalho. Por sinal que pesquisas da Universidade de Stanford comprovaram que 85 do sucesso provém de atitudes positivas, aquelas obtidas sob a conformação genérica de soft skills e apenas 15 derivam de preparo técnico, que se alcança por hard skills. Apesar dos fabulosos avanços científicos e tecnológicos, o ser humano continua a ser aquela criatura angustiada, que não sabe exatamente responder a questões básicas, tais como – por que nasci? Por que estou aqui? Para onde vou depois da morte? – e isso tem de ser enfrentado com a permanente busca da felicidade. As grandes empresas, cujos CEOs são recrutados com critérios suficientemente sólidos para a melhor seleção possível, sabem que o importante é focar as hapiness skills, não o currículo dos interessados em contratação. As habilidades vinculadas à felicidade humana possível, de acordo com a Universidade de Wisconsin, são a resiliência, a forma de superar crises e de atravessá-las incólume, a mindfulness, a atenção plena sem julgar, savoring, a apreciação de coisas simples e generosidade. O verdadeiro “adestramento” a que são submetidas as crianças e jovens na escola pública não tem servido para fazer com que os educandos se conheçam melhor, invistam em seus talentos e lapidem suas deficiências. Não se investe em meditação ou mindfulness, não se incentiva a prática manual para artesanato, o exercício da música em suas múltiplas configurações – aprender a manejar instrumentos, canto coral, composição, dança, etc – e o resultado é uma evidente falta de amor à escola e aos professores. Trazer a escola para a vida real, incentivar a prática do voluntariado, criar e manter oficinas de arte, evita episódios como o da Escola Brasil, em Suzano, e também o burnout, resultado do excesso de estresse por longos períodos. Tão defasada está a educação oficial da verdade no mundo de trabalho, que expressões e conceitos aqui frequentemente utilizados, são desconhecidos na escola. Ou tente-se indagar a professores e alunos o que eles entendem por ambiente tóxico, avaliação 90, 180 ou 360 graus, benchmarking, brand persona, branding, briefing, carreira em W, C-level ou C-suit, coach e outros, quase sempre ignorados por quem exerce a missão de formar as novas gerações para um futuro incerto e a cada dia mais complexo. Antenar-se com o que se passa no mundo não faria mal às escolas e educadores brasileiros. Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 02.01.2022 voltar |
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