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Acadêmico: José Renato Nalini Não é a pandemia o maior perigo que ronda a humanidade. É o aquecimento global.
Toda cidade tem de ter Jardim Botânico Não é a pandemia o maior perigo que ronda a humanidade. É o aquecimento global. Ainda são poucas as vozes que reverberam a situação de risco extremo imposto aos viventes, por insanidade do bicho-homem. Já não dá para dizer que “não tenho nada com a Amazônia”. A falta de chuva no sudeste é resultado do inclemente desmatamento incentivado pelo governo. Ninguém fala da reposição do bilhão de árvores cruelmente exterminadas. Volta à tona o lema ecológico dos primeiros tempos: “pensar globalmente, agir localmente”. Por isso é que o município tem o dever de realizar, dentro de seu território, o que for possível para mitigar os efeitos da catástrofe. Uma das formas é criar um Jardim Botânico. Mas de verdade, não apenas se servir do rótulo para uma iniciativa que deixe de atender aos reais objetivos a serem considerados. A ideia de Jardim Botânico surgiu com a chegada de Dom João VI ao Brasil. Foi criado no Rio de Janeiro em 13.6.1808, com 144 hectares, dos quais 55 abertos à visitação. Hoje é uma das grandes atrações da cidade que foi sede do Império e da República. Dispõe de mais de cinquenta pontos de relevância entre espécies botânicas, todas identificadas com placas contendo o nome científico e o nome popular. Existe ali um museu do meio ambiente e uma biblioteca. Ambos promovem o diálogo entre os diversos campos da cultura e setores das ciências, com o objetivo de sensibilizar a opinião pública para a urgência do entretenimento inteligente e criativo dos grandes problemas ambientais contemporâneos. Já a biblioteca existe desde 23.6.1890, originada a partir da coleção botânica doada pela Família Imperial. Uma das curiosidades é a fruta-pão, árvore muito antiga, que faz parte das primeiras remessas de mudas e sementes de plantas cultivadas em Caiena e doadas a Dom João VI. Podem ser apreciados alguns exemplares de pau-brasil, que era abundante na Mata Atlântica e que foi o primeiro bem da colônia explorado pela metrópole. Hoje pode ser considerada a caminho da extinção. Existe um cactário, com inúmeras espécies de cactos e um orquidário, ora em reforma. O Brasil possui exuberante número de orquídeas. Poderia equilibrar sua balança comercial incentivasse os jovens “nem-nem-nem” (nem estudam, nem trabalham e não estão nem aí…) a se dedicarem a seu cultivo, em vez de focarem sua energia em baladas, funks, forrós, que são divertimento legítimo, porém que não geram sustento. Ao menos para a imensa maioria dos que se devotam a eles. Outra atração é o bromeliário, a recordar que o Brasil é campeão em bromélias, mas não se dá conta disso, nem leva a sério a potencialidade de explorá-la para exportá-la. Como se não necessitássemos de intensificar o nosso relacionamento comercial com o mundo que compra. Havia enorme palmeira imperial, a Palma Mater, que um raio fulminou em 1972. De uma semente dela, originou-se a Palma Filiae. Há uma linda aleia de Palmeiras Imperiais no portão principal de acesso. O passeio é magnífico. Há uma cascata chamada Floresta Atlântica, um caminho repleto de palmito jussara, grutas, lago com vitórias régias e que recebe o nome de Frei Leandro do Sacramento, que em 1824 deu início à organização paisagística do Jardim Botânico. Os visitantes também gostam de apreciar a canela, originária da ilha de Ceilão, lugar em que a cultura esteve concentrada até o século XVI. Foi plantada pelos jesuítas no litoral do Rio de Janeiro e da Bahia e introduzida no Jardim Botânico em 1809, trazida da ilha de França. Atrai ainda o interesse a estufa das plantas insetívoras e plantas raras como a árvore do viajante e a sumaúma, além de outras típicas à nossa flora: a jaqueira e a castanha do Pará. Um jardim de plantas medicinais exibe a multidiversidade brasileira e deveria servir de recado aos que se recusam a proteger nossa floresta, acervo inesgotável de recursos que vão sendo exterminados da face da Terra, antes mesmo de sabermos para que servem e o quanto poderiam reduzir nossa miséria. Enfim, cada cidade precisaria ter um Jardim Botânico. Além de instrumento de educação ambiental, seria um atrativo a mais para municípios que precisam do turismo interno. E há cidades que já nasceram prontas para fazerem jus a seus nomes: Jaboticabal, Limeira, Pitangueiras, Palmital, Palmeira d’Oeste. Não seria um bom começo mostrar à população que existem muitas espécies do vegetal com que foram batizadas? Por sinal, Bruno Covas prometeu fazer um bosque para homenagear as vítimas da Covid19. Ao menos uma árvore para cada alma ceifada ao nosso convívio. Alguém está cuidando de honrar seu compromisso? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 20 12 2021 voltar |
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