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RELIGIÃO & PRECONCEITO
Acadêmico: José Renato Nalini
A Ciência tornou inúteis Deus e as religiões

Religião & preconceito

A França, quem diria, que produziu São Luís, Vicente de Paulo, Joana D'Arc proíbe presépios em suas cidades e fez uma classe inteira de alunos saírem de um cinema em plena exibição de um desenho animado. Era a conhecida visão do Natal, sob a ótica dos animais que o protagonizaram.

Pouco aprenderam com Teilhard de Chardin, o sábio jesuíta que melhor explicou o fenômeno cristão na contemporaneidade. Ele parte da ideia que se difundiu ao longo do século 19, de que as religiões exprimiriam um estágio primitivo e superado da Humanidade. "Os homens imaginaram em outros tempos a Divindade para dar conta dos fenômenos naturais cuja causa ignoravam. A Ciência, descobrindo a explicação experimental desses mesmos fenômenos, tornou inúteis Deus e as religiões. Tal é o novo Credo de muitos de nossos contemporâneos".

Mas a religião não é a etapa transitória no percurso da humanidade pelo sofrido, maltratado e exaurido Planeta Terra. "Quanto mais o homem for homem, mais lhe será necessário poder e saber adorar. O fenômeno religioso é apenas uma das faces da "hominização". E como esta, ele representa uma grandeza cósmica irreversível".

Não há conflito entre Fé e Ciência. Esta nunca substituirá a primeira. Tese e antítese postas, é a síntese que solucionará a questão. Uma única e mesma vida anima as duas. "Religião e Ciência, as duas fases conjugadas de um mesmo ato completo de conhecimento, o único que pode abarcar o Passado, o Futuro e a Evolução, para contemplá-los, medi-los e realizá-los".

Religião responde à necessidade que o homem tem de explicitar um Deus. É, portanto, co-extensiva não ao homem indivíduo, mas à inteira Humanidade. Na religião, exatamente conforme ocorre na Ciência, "acumulam-se, corrigem-se e pouco a pouco se organizam, infalivelmente, uma infinidade de pesquisas humanas".

Religião e Ciência se completam. Religião "não é uma crise - ou uma opção, ou uma intuição - estritamente individual, mas representa a longa explicação, através da experiência coletiva da Humanidade toda, do Ser de Deus. Deus se refletindo pessoalmente na soma organizada das mônadas pensantes, para garantir uma saída certa e fixar leis precisas para as suas atividades hesitantes. Deus debruçado no espelho da Terra tornada inteligente, para nela imprimir os primeiros traços de sua Beleza".

É preciso ter cegueira d'alma para não enxergar o Criador nas infinitas expressões de uma natureza complexa, colorida, sedutora, instigante.

Na história de que fazemos parte, cujo verdadeiro início é o nascimento do Homem-Jesus, um feixe de pensamento religioso surgiu na massa humana. Um feixe de convicções luminosas cuja presença "não cessou de influir, cada vez mais largamente e profundamente, nos desenvolvimentos" do pensamento evolutivo da criatura racional. "Em nenhum outro lugar, fora dessa notável corrente de consciência, a ideia de Deus e o gesto da adoração tomaram tal claridade, tal riqueza, tal coerência e tal leveza. E tudo isso sustentado, alimentado, pela convicção de responder a uma inspiração, a uma revelação vinda do alto".

Para provar que Ciência e Religião se completam, Teilhard explica: "Do ponto de vista realista e biológico, que é eminentemente o do dogma católico, o Universo representa: 1) a unificação laboriosa e personalizante em Deus de uma multiplicidade de almas, distintas de Deus, mas suspensas a Ele; 2) por incorporação ao Cristo - Deus encarnado; 3) através da edificação da unidade coletiva humano-cristão (Igreja)".

Disso decorre que uma tripla fé é necessária e suficiente a alicerçar a atitude cristã: 1. Fé na Personalidade (personalizante) de Deus, foco do Mundo; 2. Fé na Divindade do Cristo histórico (não apenas profeta e homem perfeito, mas objeto de amor e de adoração; 3. Fé na realidade da vida cristã, em cuja Igreja e ao redor de quem o Cristo continua a desenvolver no Mundo sua personalidade total.

A solidez do pensamento do jesuíta Teilhard de Chardin é motor convincente de conquista de cientistas para a fé cristã, alimentada pelo amor. Única energia capaz de nos devolver a esperança numa convivência harmônica e fraterna.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 16 12 2021



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