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EVOLUÇÃO CRIATIVA
Acadêmico: José Renato Nalini
Teilhard acreditava no advento de um Humanismo Cristão

Evolução criativa

Fui apresentado à obra do jesuíta Teillhard de Chardin no ano de 1966, nas aulas de Cultura Religiosa ministradas pelo Padre José Narciso Vieira Ehrenberg, na Faculdade de Direito da PUC-Campinas. Não tinha - como acredito ainda não tenha - a profundidade necessária para apreender o pensamento desse polímata, a um tempo cientista, filósofo, moralista, teólogo, místico e santo. Como cientista, foi simultaneamente paleontólogo, geólogo e antropólogo. Nasceu em 1.5.1881, em Sarcenat, numa propriedade familiar, próxima a Clermont Ferrand. No último primeiro de maio seriam celebrados 140 anos de nascimento. Morreu na Páscoa de 1955, 10 de abril, em Nova Iorque.

Ele acreditava que o Cristianismo estava se fortalecendo, "pois justamente devido às novas dimensões que o Universo tomou a nossos olhos, ele se revela ao mesmo tempo como mais vigoroso em si e como mais necessário para o mundo do que nunca".

O conteúdo mais revolucionário do Cristianismo é a fórmula como relaciona matéria e espírito: "o Espírito não sendo mais independente da Matéria, nem oposto a ela, mas emergindo laboriosamente dela pela inclinação para Deus, através de síntese e de centramento".

Na sua privilegiada visão, "o Cristianismo é muito mais que um sistema fixo e estabelecido, para sempre, de verdades a serem admitidas e conservadas literalmente. Por mais fundado que seja num núcleo "revelado", ele representa de fato uma atitude espiritual em via de contínuo desenvolvimento: o desenvolvimento de uma consciência crística na medida e a pedido da crescente consciência da Humanidade".

Teilhard acreditava no advento de um Humanismo Cristão, pois o Cristianismo fora destinado a ser a religião do amanhã. Por mais possa parecer obsoleto para os gentios contemporâneos, "retomará instantaneamente e integralmente seu poder inicial de ativação e sedução".

Dentre todas as formas de adoração nascidas no decorrer da caminhada humana pelo planeta, o Cristianismo é a única provida do "espantoso poder de energizar ao extremo, amortizando-as, tanto as potências de crescimento e de vida quanto as potências de diminuição e de morte, no coração e ao longo da Noogênese que nos envolve".

Para o cientista-teólogo, Noogênese faz parte do conceito abrangente de Cosmogênese, um fenômeno global da evolução do Universo. Mais especificamente, uma concepção que se alicerça no fato de o Universo estar em formação contínua, desde o início dos tempos. É uma ideia que se contrapõe à superada tese de um Cosmos estático. O conjunto desse movimento geral é percebido pela humanidade como biogênese - a gênese da vida, antropogênese, gênese da espécie humana, noogênese - gênese do espírito e Cristogênese - gênese do Cristo total.

Faz bem à inquietação da consciência dos cientistas, saber que "o Cristianismo ainda e sempre, um Cristianismo renascido, que tem a certeza, como nos primeiros dias, de triunfar amanhã - por ser o único capaz (através da dupla virtude, totalmente unificada enfim, de sua Cruz e de sua Ressurreição), de tornar-se a Religião especificamente motora da Evolução".

Se antigamente parecia existir apenas duas atitudes geometricamente possíveis para o homem - amar o Céu ou amar a Terra - "eis que, no espaço novo, uma terceira via se abre: ir para o Céu através da Terra. Existe uma Comunhão (a verdadeira) com Deus através do Mundo. E trilhá-la não é fazer o gesto impossível de servir a dois Senhores".

É a única religião capaz de elevar a Humanidade acima do Tangível, num amor comum. A Religião da Evolução, o Cristianismo, "se vê levado a descobrir abaixo de Deus os valores do Mundo - enquanto o Humanismo é levado a descobrir acima do Mundo o lugar de um Deus. Dois movimentos inversos e complementares". Melhor ainda, duas faces de um único acontecimento, o marco para a Humanidade carente dos primórdios de uma nova era.

Essa visão de esperança é que deveria alimentar as mentes dos que procuram uma "terceira via" calcada em interesses imediatos, superficiais, desvinculados de transcendência. Numa passagem tão efêmera pelo planeta sacrificado, a humanidade ganharia mais se meditasse a respeito de seu futuro. Ler e compreender Chardin não faria mal às mentes ociosas.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 02 12 2021



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