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Acadêmico: José Renato Nalini Será que o mundo não viu a floresta ardendo em chamas?
Quantas árvores Jundiaí plantou? Assisti, com satisfação, o movimento que os moradores de Goiânia fizeram há alguns dias. A população toda plantou milhares de árvores. Quer fazer da capital de Goiás a capital mais verde do Brasil. Nosso país tem um déficit de árvores que os cientistas calculam em bilhões. Todavia, não se enxerga um trabalho exitoso no sentido de fazer com que todos - governo e cidadania - se encarreguem de repor as árvores arrancadas, eliminadas para abrir espaço para o veículo mais poluente, pois nutrido por combustível fóssil: o automóvel. Também não se vê a consciência ambiental disseminada em todos os níveis. Tenho visto surgir uma série de condomínios caros e serem edificadas uma casa junto à outra, sem o verde que seria a presença da natureza e o respeito pela ecologia. A volúpia de utilização de cada centímetro quadrado para a edificação, o amor ao concreto, ao cimento, ao ladrilho, a tudo o que impede a existência de árvore, parece uma doença que contaminou muita gente. Enquanto isso, o País pagando vexame atrás de vexame na comunidade internacional. Dizer que a Amazônia está intacta, igualzinha ao que era em 1500 é de uma estupidez impressionante. Será que o mundo não viu a floresta ardendo em chamas, não tomou conhecimento do incentivo a grileiros, a madeireiros, o desrespeito aos indígenas, a anistia aos criminosos dendroclastas? Outra afirmação que envergonha o Brasil é a de que floresta equivale a pobreza. Indigência mental de quem não consegue enxergar o patrimônio da biodiversidade que aguardou, por muitos séculos, que a inteligência humana viesse a descobrir os infinitos usos da vegetação, para ser exterminada antes de iniciadas as pesquisas. O Brasil já foi uma promessa ecológica reconhecida por todo o planeta. Afinal, desde 1934 possuía um Código Florestal. Em 1981, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. Em 1988, o constituinte tupiniquim produziu a mais bela norma fundante do século 20, o artigo 225 da Constituição Cidadã. Teve a coragem de erigir o nascituro ao status de titular de direito: o direito ao meio ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida. Em 1992, recebeu chefes de Estado para a ECO-92, na qual Mikhail Gorbatchev alertou o mundo: a humanidade só teria mais 30 anos para mudar seu modo de vida, o consumismo irrefreado, o uso inconsequente e insano de recursos finitos. Depois disso, o que aconteceria: a Terra continuaria a existir, mas prescindiria da espécie humana para isso. Já foram trinta e três anos e os resultados pífios da COP-26 estão aí para mostrar que a criação do bicho-homem foi um projeto fracassado. A Terra cansou de emitir sinais de exaurimento. Mas a insensatez continua. Em todos os lugares. Inclusive em nossa cidade. Beneficiada com a Serra do Japi, um fragmento de Mata Atlântica muito frágil, pois a camada de terra é de alguns centímetros sobre um solo de quartzo e calcário, precisa de muita proteção. Mas a especulação imobiliária vai avançando. Não respeita a área de envoltório que é essencial para que o ecossistema sobreviva. O skyline da Serra já está cheio de prédios. E condomínios. E nestes, idêntica opção por ojeriza do verde. Uma casa junto à outra, sem árvores, sem bosque, sem reserva natural. Como se a Serra sufocada e povoada pudesse continuar a produzir o maravilhoso microclima que já ofereceu a toda a região durante séculos. Vejo obras, vejo construção de novas pistas, alargamento para servir ao trânsito. Mas não vejo preocupação maior com o plantio de árvores que foram desaparecendo e que se tornam raras. Inveja de Goiânia e de seu povo. A passividade da sociedade civil também é preocupante. Para muitos prevalece a cultura do "repasse": quem tem de fazer isso é o governo. Eu já pago meus impostos. Bruno Covas, já enfermo, prometeu plantar uma árvore para cada vítima da covid-19. Assim que ele morreu, o discurso cessou. Não vi qualquer iniciativa para honrar sua promessa. Também vejo com inveja o movimento dos Registradores Civis de outras cidades, que plantam uma árvore a cada nascimento. E outros plantam uma árvore a cada falecimento. Enfim, há muito a ser feito. E fica a pergunta. Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião Em 28 11 2021 voltar |
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