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Acadêmico: José Renato Nalini Os bons exemplos precisam ser divulgados, as iniciativas particulares incentivadas, para que o Brasil se converta e reassuma a sua liderança promissora, que levou tanto tempo a edificar, mas que o obscurantismo ignorante conseguiu demolir em brevíssimo lapso, o que arremessou o País à condição de pária ambiental.
Inteligência ecológica Evidente a ampliação conceitual do termo inteligência. Durante muito tempo ela significou faculdade de conhecer, compreender e aprender, ou conjunto de funções psíquicas e psicofisiológicas que contribuem para o conhecimento, para a compreensão da natureza das coisas e do significado dos fatos. Hoje se fala em inteligência emocional, inteligência sensitiva, inteligência artificial. Todos somos por ela manipulados, queiramos ou não. Os algoritmos nos conhecem melhor do que nós mesmos. Só que agora nos interessa uma vertente nova de inteligência: a inteligência ecológica. Ela parte de uma ideia de E. O. Wilson, que elaborou o conceito de “biofilia”, essa “afinidade que pode estender-se a um sentimento ecológico, um sentimento pelo habitat”. O pensador Howard Gardner, que formulou a teoria das múltiplas inteligências – matemático-lógica, visual-espacial, cinestésica, social, etc. – já reconhece como categoria distinta a inteligência biológica, da qual se extrai – com a urgência que os tempos requerem – a inteligência ecológica. Ela já existe e está disseminada entre os seres sensíveis que se preocupam com o acelerado ritmo da destruição da cobertura vegetal, da escassez hídrica, da poluição crescente, com o caos ambiental instaurado nos últimos anos. Embora o governo federal tenha – lamentavelmente – abandonado o percurso promissor da vocação ético-ambiental iniciada há décadas, existem brasileiros que permanecem na luta praticamente anônima, individual, em defesa da natureza. São legiões de crianças que recolhem sementes, semeiam e plantam, além de protagonismo aparentemente isolado, mas que faz toda a diferença na salvação da humanidade, de pessoas intuitivamente naturalistas. São seres humanos generosamente dotados dessa consciência ecológica que falta a quem – paradoxalmente – é pago pelo povo para garantir condições ambientais que permitam a sobrevivência no planeta. Quem não conhece heroicos jardineiros, paisagistas, fazendeiros conscientes, horticultores, observadores de pássaros, ressuscitadores de cursos d’água, mantenedores de reservas particulares de proteção à natureza, que lutam, bravamente, contra a corrente? Os professores que, em sala de aula, incentivam os seus discípulos a se converterem para a causa ecológica? Os escritores que se dedicam a produzir obras de ética ambiental, contos edificantes que levem as novas gerações a se preocuparem com o único habitat disponível, que é esta sofrida e maltratada Terra? Quantos artistas plásticos ornamentam o mundo com a beleza de obras-primas voltadas à proteção do que é gratuito e natural, incomparável com a tosca preocupação consumista e típica a um capitalismo selvagem, que passa ao largo do conceito ESG. A existência de próceres ecológicos, a despeito da nefasta orientação oficial no âmbito federal, só pode ser explicada à luz de uma intercessão da Providência Divina, ou de se pensar – no âmbito agnóstico – na possibilidade de tal inteligência ecológica provir, tal como a habilidade linguística e a inteligência musical, de uma espontânea e nítida base neurológica. Algo que pode ser mais plenamente desenvolvido pela experiência e pela educação, mas que, não obstante, é inata. Os bons exemplos precisam ser divulgados, as iniciativas particulares incentivadas, para que o Brasil se converta e reassuma a sua liderança promissora, que levou tanto tempo a edificar, mas que o obscurantismo ignorante conseguiu demolir em brevíssimo lapso, o que arremessou o País à condição de pária ambiental. O momento ideal foi ontem. Mas é preciso agir agora. Em poucos dias o mundo se reunirá em Glasgow, na Escócia, para discutir as providências a serem tomadas para que o aquecimento global não impeça a continuidade da aventura humana sobre o planeta. O Brasil ainda tem condições de se apresentar como o território mais propício à obtenção dos trilhões disponíveis para o grande projeto mundial de descarbonização, com o objetivo de obviar o impiedoso e ameaçador processo de emissão de gases venenosos, causadores do efeito-estufa. A lucidez nacional tem de se articular para levar a voz da sociedade civil, o conjunto dos cidadãos que são os únicos detentores da soberania estatal e que elaboraram, por ação do constituinte de 1988, o mais belo dispositivo fundante do século 20, o artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil. Cumprir o que o preceito dispõe é obrigação do Estado. Para isso, não precisa mendigar recursos financeiros do Primeiro Mundo. Basta cumprir o que produziu como norma cogente, dever indeclinável, do qual não pode escapar. Desse cumprimento depende a sobrevivência das futuras gerações. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 22.10.2021 voltar |
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