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Acadêmico: José Renato Nalini O planeta está preocupado com a mudança climática, efeito do aquecimento global causado pela danosa ação humana.
Inconsciência conveniente O planeta está preocupado com a mudança climática, efeito do aquecimento global causado pela danosa ação humana. O planeta todo? Aparentemente os países que mais precisariam estar aflitos continuam alienados. Precisa dizer quem é o “pária ambiental” que não está envolvido nas estratégias de mitigação das catástrofes? Poucas as vozes sensatas que lembram o brasileiro, residente no quinto país que mais emite gases venenosos do efeito estufa, de que ele precisa mostrar ao governo quem é o verdadeiro titular da soberania. Das emissões tupiniquins, mais de 90 derivam de desmatamento e queimadas. Estas não acontecem por acaso. Os devastadores, verdadeiros exterminadores do futuro, ouviram e observaram o recado do “soltar a boiada”. Trabalham num ritmo alucinante e o resultado será um cenário de terra arrasada. Não é só a Amazônia que está sendo extinta. Todos os biomas estão sofrendo. Imagine-se que o Pantanal mato-grossense, região naturalmente coberta por água em boa parte do ano, também entrou em combustão. E a Mata Atlântica, da qual pouco resta em São Paulo, cedeu lugar a um clima saariano, desértico. Até fenômenos dos solos áridos agora acontecem. Várias tempestades de areia e poeira se formam, derrubam casas, árvores, quebram fios elétricos, matam! Pelo menos cinco mortos resultaram desse evento que só acontece no Saara. Estes dias, o biólogo Roberto Saack, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, alertou que o Brasil está jogando fora a oportunidade de voltar a um protagonismo que já teve, a partir da década de setenta. Ele participou do movimento “Uma Concertação pela Amazônia”, que congrega mais de quatrocentos empresários, economistas, pesquisadores, alguns poucos políticos e lideranças da sociedade civil. O governo é não só omisso, mas conivente com os infratores. Estes são incentivados, anistiados, recebem carta branca para levar madeira de lei para a exportação ilícita, invadem terras indígenas para explorar o garimpo, deixam destruição e morte por onde passam. É ilusório acreditar que um governo que já se mostrou nefasto para a natureza, agora abra diálogo com os ambientalistas que eles consideram fanáticos, pagos pelo comunismo internacional, a serviço da conspiração que quer sufocar a soberania brasileira. Esta é invocada como razão para que o Brasil destrua sua cobertura vegetal, já que ‘outros povos o fizeram há muito tempo. Agora chegou a nossa vez!”. O ceticismo daqueles que tiram proveito da inércia e da omissão criticam o conceito ESG, que seria apenas uma espécie de marketing da sustentabilidade, mas que não se sustentará por muito tempo. Especialistas pagos pelos que têm a vocação de fabricar desertos, fazem “estudos” e se dedicam a palestras – pagas, é óbvio – para dizer que o Brasil tem um excesso de área verde. Chega-se a defender que esta Nação possui mais área verde do que sua própria dimensão territorial. Acredite quem quiser. Pesquise-se a serviço de quem se faz esse tipo de bizarrice, travestida de artigo científico. Não se espere gesto sadio de parte do governo. Quem precisa agir é o empresariado, a Universidade, a Academia, as pessoas de bem, os brasileiros que não se conformam com o que está sendo reservado para as suas proles e a descendência que dela provirá. Nós precisamos fazer com que haja mais Chicos Mendes, que Marina Silva e Fábio Feldman voltem a ocupar espaço na mídia espontânea, suscitar o surgimento de nossas “Gretas”. É impossível acreditar que não tenhamos crianças e jovens preocupados com o espetáculo de terror que ocupa todos os dias o noticiário, a relatar o crime que se perpetra em relação ao maior patrimônio brasileiro. Um patrimônio que está sendo eliminado, muito antes de se conhecer a sua real potencialidade como fator de resgate de uma economia combalida e deficitária, outro maléfico fruto da antipolítica perpetrada nestes tempos sombrios. As redes sociais que têm servido para a polarização da sociedade brasileira, que disseminam falsidades, meias verdades, que ridicularizam figuras públicas, que semeiam ódio e secessão, precisam ser utilizadas para boas causas. A melhor e a mais urgente causa contemporânea é o meio ambiente. O Brasil já errou muito e está pagando por esses erros. Abandonou a ferrovia, para endeusar o automóvel. Usa combustível fóssil, um veneno que mata. Não dá educação de qualidade para suas crianças, que crescem também como se fossem inimigas do ambiente. Os seres racionais e sensatos – e eles ainda existem, por incrível que pareça – devem assumir a liderança dessas comunicações em rede, para acordar o Brasil. Enquanto é tempo. Há quem diga que o ponto de inflexão já foi superado. Mas vamos acreditar na possibilidade de mitigação dos males impostos ao ambiente, reajamos e deixemos de lado, para sempre, essa inconsciência conveniente. Estamos com as cabeças enterradas na areia e pretendemos não ouvir o que está acontecendo ao nosso lado. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 18.10.2021 voltar |
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