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Acadêmico: José Renato Nalini Quem se detiver a cotejar o comportamento da última Família Imperial brasileira, cujo “pater famílias” era Pedro II e aquele das famílias presidenciais, pode se chocar.
Família Imperial na intimidade Quem se detiver a cotejar o comportamento da última Família Imperial brasileira, cujo “pater famílias” era Pedro II e aquele das famílias presidenciais, pode se chocar. Tudo aquilo que hoje não existe e não parece merecer respeito, era praticado de forma natural no âmbito doméstico da “Primeira Família” do Império. Assim é que a Imperatriz Teresa Cristina cozinhava as refeições diárias da família imperial, pois fora educada nas regras da aristocracia real italiana. Era auxiliada por uma empregada assalariada, paga com dinheiro de Pedro II, não do Império. Não havia mordomias, legiões de funcionários públicos, o equivalente ao cartão de crédito, além de outras benesses. Os filhos imperiais eram educados inicialmente pelo “currículo oculto” dos próprios pais. O Imperador Pedro II era um sábio, verdadeiro polímata. Entendia bem de tudo. Seus netos, filhos da Princesa Isabel, chegaram a editar um jornalzinho em Petrópolis, com linha moderna e inteiramente abolicionista. Quando, aos quinze anos, em 1840, Pedro II viu decretada sua maioridade e teve de reger o Brasil, embora com a ajuda de regências trinas e unas – aulas de História em revisão! – 92 da população brasileira era analfabeta. Inteiramente incapaz de soletrar, de ler ou de escrever. Já em 1889, seu último ano de reinado, abruptamente interrompido por um levante que o tornou verdadeiro mártir, tendo de sair do Brasil à noite, sem se despedir e sem levar o mínimo de seus pertences, o Brasil estava com 56 de analfabetismo. Isso em virtude à sua preocupação real e efetiva com a educação. O Colégio Pedro II, modelo até hoje, era um lugar assiduamente frequentado pelo Imperador, que assistia às aulas, participava para dar depoimentos, conversava com professores e alunos. Foi um grande incentivador da criação de escolas e da disseminação de um modelo de educação para a vida concreta, algo que não se verifica hoje. A educação, para o governo, é primeiro um gasto excessivo – daí a busca de não se vincular verba – e serve como espécie de marketing para a matriz de todos os males brasileiros: o instituto da reeleição. Daí as avaliações que se fazem para aferir o adestramento dos educandos obrigados a decorar informações, negligenciando-se as suas competências socioemocionais. Isso explica a quase-falência do processo de ensino brasileiro: gasta-se relativamente bastante. Mas o mercado de trabalho não tem pessoas qualificadas. Os cérebros são cooptados para atuar em outros países. Em vez de investir em tecnologia de ponta, insiste-se no método da preleção. Como se o docente fosse o detentor de um conhecimento indevassável e o aluno uma tábua rasa, desprovida de qualquer saber ou talento. É suficiente cotejar o que era o Brasil no Império e o que é o Brasil de nossos dias. Em 1880, o Brasil era a quarta economia mundial e o nono maior Império da História da Humanidade. Entre 1860 e 1889, a média do crescimento econômico foi de 8,81 ao ano. E hoje? Tivemos até “crescimento negativo”. Rumo ao caos? Em 1880, o Brasil possuía catorze impostos. Hoje são uma centena. Com uma carga adicional de obrigações acessórias que tornam o contribuinte uma vítima obrigada a ir espontaneamente para o patíbulo. Entre 1850 e 1889, a média da inflação foi de 1,08 ao ano. Hoje já está no segundo dígito! A atormentar com ameaças reais, uma geração que sequer sabia o que isso significava. Em 1880, a moeda brasileira valia o mesmo que uma libra esterlina e um dólar? Hoje, a cada tirada tosca o dólar sobe e as Bolsas despencam. Em 1880, o Brasil tinha a segunda maior e melhor marinha do mundo, à exceção apenas da Inglaterra. Hoje, os desfiles de sucatas soltam fumaça. Entre 1860 e 1889, o Brasil foi o primeiro país da América Latina e o segundo do planeta a dispor de ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais. Em 1880, o Brasil foi o maior construtor de estradas de ferro do mundo, com quase trinta mil quilômetros. O que aconteceu depois? Optou-se pelo automóvel à combustão, que funciona com o poluente mais perigoso, aquele que emite gás carbônico e causa efeito-estufa, gerador do aquecimento global. O que se fez da ferrovia? Primeiro ela foi transformada em empresa estatal – ou seja, ineficiente, sujeita a corrupção e antro de más práticas – depois, graças ao governo, simplesmente extinta. A Imprensa sob Pedro II era livre para pregar o que quisesse. Inclusive a praga da República. O historiador José Murilo de Carvalho conta que “diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros”. Pedro II era atacado e continuava sereno, a banir a censura. Dizia ‘Imprensa se combate com imprensa”. Será necessário continuar com essas informações que constam de documentos guardados na Biblioteca Nacional, para concluir se fizemos bem ao proclamar a República? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 22.09.2021 voltar |
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