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Acadêmico: José Renato Nalini … perdoar é divino! É o que se apregoa. Não há como evitar o erro. Difícil é alguém errar e assumir a deliberação de agir contrariamente ao que seria considerado o certo.
Errar é humano… … perdoar é divino! É o que se apregoa. Não há como evitar o erro. Difícil é alguém errar e assumir a deliberação de agir contrariamente ao que seria considerado o certo. Quase sempre, o erro deriva de uma boa intenção. Com a melhor das intenções, perpetram-se erros incríveis. Não é necessário ir longe para constatar isso. Erramos na vida pessoal e erramos em grupo. O arrependimento por certas escolhas é o atestado de que reconhecemos o equívoco e, se pudéssemos fazer os ponteiros do relógio – ou os sinais da computação – regredirem para o passado, então consertaríamos as opções nefastas. Mas não é assim que acontece. Temos de enfrentar a queda e não desanimar. “Levanta, sacode a poeira, dá volta por cima”, na música tão pouco ouvida em nossos dias de bate-estaca. Erra-se sozinho e erra-se em grupo. O gregarismo não é sinal de acerto absoluto. Todas as sociedades humanas, as micro e as macro, erram de maneira adoidada. E os resultados são penosos para uma comunidade difusa de prejudicados. Quem não poderia errar, mas erra também, é a empresa. Uma instituição voltada à exploração de um bem ou serviço de utilidade e serventia, tem de calcular seus passos. Há setores de planejamento, há cansativas – digo mais, exaustivas – reuniões. Não está garantido o acerto em todas as medidas adotadas. O economista Oliver Sibony, professor na HEC Paris, mas que já esteve em Oxford e na London Business School, escreveu três livros, dentre os quais: “Ruído: uma falha no julgamento humano”. E agora lança o instigante “Você está prestes a cometer um erro terrível: como lutar contra as armadilhas do pensamento e tomar melhores decisões”. Será que funciona o método de “desarmar as armadilhas”? Temos condição de identificá-las? Para o autor, elas são nove. Derivam de pré-compreensões ou preconceitos. Ideias formatadas à base da cópia. Um exemplo é mirar os exitosos, que são muito poucos, sem cogitar dos loosers, os perdedores. No mundo empresarial, submetido aos desafios de uma tecnologia avançada que caminha celeremente e ignora planos e ambições, há mais perdedores do que vitoriosos. Muito sucesso pode advir do acaso. Ou de uma imaginação criadora, capaz de pensar naquilo que ainda não foi pensado. Quem é que inventou o uber, por exemplo? Quem pensou em fazer aluguel imobiliário sem intermediação? Foi difícil acreditar no estrondoso sucesso do airbnb? Alguém acreditou e cacifou. Deu certo. Quem investiu num serviço de entregas rápidas? Os riscos estão sempre ali, à espreita. Para as pequenas empresas e para as grandes. Mas fechar os olhos para o mundo ao redor é o que explica o desaparecimento de algumas delas. Conglomerados poderosos como a Kodak, onde estão hoje? O bom empresário precisa detectar, na difícil arte da futurologia, como poderá ser o mundo daqui a cinquenta anos. Acompanhar a ciência, as pesquisas, o desenvolvimento de ideias que pareciam ficção, mas que se tornaram reais. Pense-se há quanto tempo se falava em “educação por correspondência”, “curso vago”, sempre com um olhar crítico, pois a ideia alimentava algo pouco sério. De repente, a EAD se tornou a alternativa à impossibilidade de reunir presencialmente futuros contaminados pela peste. E ela veio para ficar. O ensino remoto continuará e se mostrou bastante atraente e satisfatório. Quem agradece é o trânsito e, por tabela, a natureza. Menos combustível, menos lotação em todos os tipos de transporte. Há dissabores, é certo. Falta o abraço, o toque, o aperto de mão. O cafezinho coletivo. Mas o ganho é espetacularmente maior. Tudo tem de partir dessa análise singela: o cotejo entre custo e benefício. Também ter coragem e ousadia. Quem fica definitivamente a pensar, não chega a inovar. Confio mais no discernimento e na audácia. Parece-me algo óbvio dizer que “o empreendedor de sucesso é aquele que assume riscos calculados e nunca arrisca mais do que pode”. Como calcular riscos? Quem ensina isso? Em que curso se aprende evitar os riscos incalculáveis? A educação de que a humanidade precisa no século XXI é aquela de aceitar as adversidades, adaptar-se ao inesperado, não se apegar a padrões rígidos, pois a surpresa está à espreita. O espírito empreendedor tem de ser flexível para as inevitáveis alterações de rota. Com resiliência, sem desespero. Reconhecer a finitude humana, a duração efêmera da vida, aproveitar os breves momentos de alegria gratuita e genuína. E ser humilde, porque é da essência da humanidade aceitar-se com limitações e fragilidades. Aprender com o erro, na certeza de que outros ainda serão cometidos. Enfim, aceitar que é melhor errar do que morrer. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 10 09 2021 voltar |
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