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ONDE ESTÁ NOSSA MEMÓRIA?
Acadêmico: José Renato Nalini
Infelizmente, o Canto Orfeônico acabou

Onde está nossa memória?

Outro dia, a propósito da Festa da Padroeira, lembrei-me de Haydée Dumangin Mojola, autora do Hino a Nossa Senhora do Desterro e também do Hino a Jundiaí. Descobri, entre meus guardados, uma outra obra criativa da musicista jundiaiense: "Meu São Paulo", marcha patriótica em homenagem à Concessa Álvares Penteado.

A letra é "Ó meu São Paulo, tu terás sempre a glória, de conquistar toda vitória. Os teus filhos, pela pátria estremecida, darão seu sangue, suas próprias vidas. São Paulo, berço de heróis e de nobrezas, És do Brasil o Estado das riquezas. É no teu seio varonil, que encerra as riquezas, que fazem altaneiro o Brasil. Sempre avante! Marchar! Com coragem, lutar. Para a vitória final. Deste torrão natal. Sempre atuar. Os teus filhos são bravos: a luta ou a morte. Mas não ser escravos. Oh! Paulistas! Povo altivo lutarás. Oh! Paulistas. São os heróis, e sempre amantes. Que orgulho, só de tua raça. Nunca a derrota te ocorre. Não esqueças que em tuas veias corre sangue dos heróis bandeirantes".

A partitura foi editada pela Casa Odeon, editora, rua João Pessoa, 177, Santos, telefone 3200. Isso fez-me lembrar do nosso Professor Luiz Biela de Souza. Ele compunha hinos para todas as ocasiões. A cada visitante que ingressava numa sala de aula, os alunos levantavam-se e, sem necessidade de qualquer ordem do professor ou professora, entoavam: "Sede bem-vindos, aqui entre nós, visitantes ilustres. As palavras não podem traduzir, a grande honra, que nos proporcionam. Por isso saudemos com cantos. Os ilustres visitantes".

Ele compôs hinos para as normalistas - "De Jundiaí, parte a normalista, a ensinar, a educar, a instruir, conduzindo a criança paulista, a um Brasil bem melhor construir"... Também parece dele a canção destinada a substituir o nosso "Parabéns a você", copiado do "Happy Birthday to you" americano.

Salvo engano, era algo assim: "Saudemos, com alegria, o que hoje, comemoras, seja a casa onde moras, a morada da alegria, o refúgio da ternura.. Feliz aniversário!". Seria dele o cântico natalino "Noite azul, sem igual, Deus nos deu, um feliz natal! Nosso lar, está cheio de luz, paz na terra, nasceu Jesus...".

Sei que o professor Biela era um amante da música e um entusiasta de sua disciplina, o Canto Orfeônico. Mantinha um coral que ensaiava num salão à rua do Rosário, onde era a casa da família Raphael Ungaro. Ele tinha toda a paciência com jovens nem sempre afinados, nem sempre atentos, mas que ele conseguia reunir e domar, com sua vontade de tornar o mundo mais bonito. Com a música se consegue isso.

No Divino Salvador, antes Ginásio e depois Colégio, o professor de Canto Orfeônico era Durval Fornari. Ensaiava os cantos para as celebrações escolares, fazia com que os alunos treinassem várias vozes e o clima era muito gostoso, embora rapazes - em plena adolescência - não fossem especialmente aficionados da arte canora.

Lembro-me do "Bandeirantes, nós fomos no passado, para então, nossa pátria percorrer, difundindo este canto pelo Estado, bandeirantes tornamos logo a ser". Havia uma canção em latim que entusiasmava a turma: "Ah, Ah, Ah, bachanalia! (bis) Oh beata tempora, bibimus in nemora, ah, ah, ah, bachanalia!". As cinco vogais tinham versos próprios. De "A" a "U". O resultado era bem interessante, cada grupo de alunos iniciava a estrofe com "A", antes de terminar começava outro com "É" e assim por diante. Um efeito muito agradável. Durval Fornari se impunha com empatia, conseguia fazer todos oferecerem o melhor nessas aulas que ensinavam postura, convivência, respeito pelas diferenças, cooperação e capacidade de sincronização.

Infelizmente, o Canto Orfeônico acabou. Meu querido amigo, o Maestro Júlio Medaglia, sempre lamenta a insensatez. Se a música estivesse presente, a violência fugiria. Jundiaí chegou a ter festivais de música estudantil, composta por alunos. Interpretada por eles. Com torcida e tudo. Recordo-me de apresentar uma final desses eventos, junto com Cláudia Maria de Lucca, depois Sra. Gaetano Parise, no salão do colégio que se chamava Instituto de Educação Experimental Jundiaí.

Foi ali que tive a alegria e o privilégio de iniciar a docência de Sociologia para o curso de especialização de normalistas, a convite do inesquecível professor Nassib Cury.

Todos eles, hoje uma saudade. Ainda moram em nossas lembranças. E quando nos formos? Continuarão a residir na memória coletiva de uma cidade que não costuma reverenciar seus melhores vultos?

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 12.09.2021



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