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Acadêmico: Gabriel Chalita Uso, hoje, as minhas mãos para escrever. Olho para elas e me lembro das mãos grandes do meu pai. Ah, tempo indomável. Os dias jovens foram escapulindo das minhas mãos e me permitindo apenas segurar as lembranças.
Foi em um dia triste quando, tristemente, senti o peso das mãos duras de um professor. Era um escolher de crianças para algumas canções que encerrariam o ano em uma escola pequena do interior. E eu queria ser escolhido. Sorri as horas que separavam a hora da decisão. Arrumei o melhor de mim para ser visto e, talvez por isso, exagerei quando ele pediu a voz. Sem envelopar as palavras, depositou a pesada mão sobre o meu ombro e explicou que o meu problema não era apenas cantar mal. Era cantar mal e alto. Abaixei o volume do entusiasmo e me sentei embaixo de uma árvore que nos escondia do calor dos dias de verão do fim do ano. No silêncio do "não" recebido, esqueci que eu era criança e que crianças são ensinadoras de prazeres cotidianos. Pensei em pedir para que devolvessem meu sorriso. Desisti. Sozinho, pensava em meu pai. Eu havia dito a ele que cantaria na festa do fim de ano, e ele sorriu orgulhoso. Na parte da aula depois do intervalo, intervalei nada as minhas tristezas. Não culpo o professor. Faz tempo demais para julgamentos. Andei da escola até minha casa. Meu pai me viu da loja e me chamou com sorrisos. Leitor dos detalhes dos sentimentos, ele viu meu vazio. "Filho, venha ficar comigo um pouco, preciso de você". Foi dizendo e acariciando o meu rosto com suas generosas mãos. Não me perguntou da dor, apenas me apresentou novamente a alegria. Olho as minhas mãos gastas de tempo e viajo em seus significados. Quantas carícias fui capaz de oferecer? Quantas atenções desperdicei ao negar as minhas mãos aos agachados das dores da vida? Construí, com ela, caminhos. Coloquei tijolos sobre tijolos na argamassa dos "sins" e dos "nãos", das pontes e dos muros. Acenei aliviando medos, mas, com ela, ameacei, quando, medroso, esqueci pensamentos. Escolhi dedo para apontar, demonstrando arrogâncias. Errei. Com elas, pedi perdão, quando amadureci. Que beleza a arquitetura das mãos. As mãos do pianista que antecipam o paraíso. As mãos do cirurgião que arrancam males que arrancam vidas. As mãos calejadas dos colhedores de esperança, aliviadas pela alegria das mudanças de estação. Meu pai me chamou para a horta. E, antes do jantar, apanhamos verdes. E falamos da terra. Subindo a escada, ele emprestou sua mão para chegarmos juntos. Com a outra, o que colhemos. Minha mãe limpava o feijão em uma mesa iluminada pela sua alegria. Ao lado de Rosa, que trabalhava conosco e que, desde sempre, nos enfeitou a vida. As mãos do meu pai e da minha mãe se encontraram e os dizeres combinaram com os seus gestos. Lavei as mãos, mas não o constrangimento do não recebido antes do jantar. E, então, minha mãe fez a pergunta que eu não gostaria sobre o coral. E só perguntou de tanto que eu havia dito antes, tamanha era minha empolgação em fazer parte. E eu pensei em mentir. E eu abaixei a cabeça e apartei as mãos de raiva de mim por não ser cantor. Meu pai entendeu e disse: "Melhor não participar esse ano, assim temos mais tempo para plantar, você me ajuda com a horta, não é meu filho?". E o assunto ganhou despreocupação. Meu pai piscou para mim e prosseguiu agradecendo as mãos de minha mãe capazes de nos alimentar com tanto sabor. Disse eu, depois, a ele do professor. Quis dizer alguns dias depois. Valorizou nada a minha voz boa ou ruim. Disse não entender de canções, mas de sentimentos. E que ele me amava muito. Sem compreender muitas teorias, plantou em mim a certeza de que o amor não exige perfeições. Anos depois, minhas mãos foram as últimas a segurar a cabeça do meu pai. Em um quarto de despedidas. Ele teve forças de sorrir para mim antes de plantar gentilezas no outro lado dos mistérios. Uso, hoje, as minhas mãos para escrever. Olho para elas e me lembro das mãos grandes do meu pai. Ah, tempo indomável. Os dias jovens foram escapulindo das minhas mãos e me permitindo apenas segurar as lembranças. Hoje, canto a canção da vida no tom que consigo, que compreendo ser capaz de aliviar outras vidas das mãos pesadas dos que não prestam atenção na dor alheia. voltar |
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