|
||||
| ||||
Acadêmico: José Renato Nalini Como deixar de protestar diante de uma política partidária mais interessada em preservação das benesses, na manutenção dos privilégios e na adoção de táticas de permanência nessa esfera nefelibata, sem qualquer contato com a crua realidade em que vivem milhões de brasileiros.
Tem de protestar! Convoca-se a cidadania para manifestações no dia reservado à celebração da Pátria. Há motivos para protestos? Inumeráveis. Vale se indignar com o menosprezo devotado à natureza, o que fez o Brasil ser considerado “pária ambiental”, a evidenciar incompatível ignorância. A nação, carente de investimentos, destrói seu maior tesouro, sem ao menos tentar explorá-lo. Protestar contra o desemprego. Mas não só. Contra a educação deficiente que continua a transmitir informações e dados, quando o processo de formação das novas gerações teria de passar por capacitação de outros atributos. Saber enxergar, analisar a realidade, criticar o que está errado. Entusiasmar-se pelas perspectivas que surgiriam espontaneamente, desde que o ensino/aprendizado acordasse para a realidade da Quarta Revolução Industrial. Como deixar de protestar diante de uma política partidária mais interessada em preservação das benesses, na manutenção dos privilégios e na adoção de táticas de permanência nessa esfera nefelibata, sem qualquer contato com a crua realidade em que vivem milhões de brasileiros. Merece aplauso a estipulação de Fundo Eleitoral superior a cinco milhões de reais, quando há semelhantes passando fome? Será que é importante para a República manter esse critério de Fundo Partidário e Fundo Eleitoral, ambos sustentados pela massa de contribuintes submetida à maior carga tributária do planeta? Os brasileiros de bem estão contentes com a disseminação das fake News, com a injúria, a difamação e até a calúnia destinada a personalidades que ocupam funções às quais chegaram pelo processo normativo que rege esse procedimento? Qual a reação dos brasileiros ante a notícia de que, mesmo diante da existência de recursos reservados, o governo não cuidou de propiciar acesso e conectividade para as escolas de onde sairiam – porque é agora incerto cheguem a sair – os líderes do Brasil de amanhã. É fato a ser comemorado ou a ser inserto em página ignominiosa de nossa História? Tem havido protesto contra as mortes no trânsito, as mortes por falta de assistência médica, por falta de vacina, por inexistência de leitos hospitalares, principalmente em UTI, algo que motive o Estado a assumir uma atitude compatível com as necessidades da população? Poucas as vozes que se levantam contra a tendência armamentista que torna os beligerantes ainda mais pretensiosos na convicção de que estão prontos a enfrentar os criminosos. Arma, instrumento feito para ceifar a vida, é algo que não deveria sequer ser fabricado. A inteligência humana já desenvolveu processos que não impliquem na mortandade. Ou será que não existem instrumentos neutralizadores, paralisadores, que inibam a continuidade da prática de um ilícito ou mantenham o pretenso infrator sob controle? O que se faz contra as milícias, que dominam espaços cada vez maiores e nem chegam a competir com o Estado, pois este foi plenamente substituído por essas organizações. Constitui razão de orgulho para o Brasil ser o terceiro país que mais aprisiona, tornando repletos os presídios com a juventude que desistiu de acreditar nas promessas da selvageria mercadológica da qual está excluída? Celebrar o que no dia 7 de setembro? O instituto da reeleição, matriz de uma cornucópia de males? A lentidão das reformas sem as quais o País continuará a ser periférico, ou de desenvolvimento tardio, ou – como se dizia antigamente – uma nação subdesenvolvida? É evidente que a surdez moral, a cegueira à realidade, o fanatismo, a alienação e outros ingredientes possam propiciar um espetáculo popular em 7 de setembro, com o objetivo de que tudo está bem e que aqui se vive o melhor dos mundos. Algo que recorda a fábula francesa do “tout va bien, Madame La Marquise”, ou sua versão lusa, no “Tudo bem, sem novidade”. Que haja reflexão e atitude. Afinal, não é o povo o único titular da soberania? O que pode fazer quando, em vez de comemorar, ele tem maiores razões para protestar? Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 01.09.2021 voltar |
||||
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562. |