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Acadêmico: José Renato Nalini Seis meses nos separam de fevereiro de 2022, quando se celebrará o centenário da Semana de Arte Moderna. A essa altura, a programação já deveria estar elaborada e divulgada, para atrair a atenção da lucidez brasileira, a começar pela intelectualidade bandeirante.
Faltam só seis meses Seis meses nos separam de fevereiro de 2022, quando se celebrará o centenário da Semana de Arte Moderna. A essa altura, a programação já deveria estar elaborada e divulgada, para atrair a atenção da lucidez brasileira, a começar pela intelectualidade bandeirante. É urgente resgatar o testemunho daqueles que fizeram o movimento modernista e tentaram conciliar as ideias do grupo paulista com o grupo do Rio, liderado por Graça Aranha. Para Menotti del Picchia, um dos mais atuantes da “família bandeirante de 22”, São Paulo tem “uma data marcando oficialmente seu ponto de partida: 9 de janeiro de 1921. Foi aí que surgiu o que Mário da Silva Brito – o historiador melhor informado sobre a revolução cultural que resultou no “modernismo brasileiro” – denominou: o “Manifesto do Trianon”. Menotti conta que a origem do acontecimento deve ser buscada em 1920, por ocasião do encontro dele com Oswald de Andrade. Ambos não se conheciam. Menotti havia publicado, ainda quando estudante no Largo de São Francisco, o poema “Moisés”, criticado por Oswald, com a “oswaldiana mordacidade”. Menotti considerava “Moisés” uma insurreição lírica à corrente poética que imortalizara a paulista Francisca Júlia e fazia a glória de Martins Fontes, autor de “O Verão”. Menotti respondeu, “ressentido e azedo”, à crítica de Oswald. Mudou-se para Itapira, onde era fazendeiro. Escreveu “Juca Mulato” e perdeu o desafeto de vista. Quando estava almoçando no Hotel Migliore, onde então morava, surpreende-se com Oswald sorridente apresentar-se e dizer que “Daysi lera o Juca Mulato e queria conhecer o autor”. Daysi era o amor da época e estava muito doente. Menotti concordou em fazer uma visita. Mas não deixou de espicaçar Oswald, dizendo que São Paulo precisava de uma revolução para substituir a arte já superada. Oswald concordou, o que Menotti considera algo parecido à queda de Saulo na estrada de Damasco e a abertura para a verdadeira luz. Mário de Andrade considerava Oswald de ‘mariscador de gênios”. Talentoso, começou a recrutar adeptos para o movimento que Menotti queria instaurar. Guilherme de Almeida, já conhecido pelo poema “Nós”, Sérgio Millliet, Plínio Salgado, Luis Aranha, Agenor Barbosa, Motta Filho e outros. Agregaram-se os artistas Anita Malfatti, pioneira da revolução plástica, Di Cavalcanti, Jean Graz e seu cunhado Gomide, Brecheret, grupo que Mário de Andrade considera o gatilho que faria a “Paulicéia Desvairada” explodir. Menotti narra que “era nessa ocasião redator político de “O Correio Paulistano”, órgão do todo poderoso Partido Republicano Paulista, então orientador supremo e ditatorial da política brasileira. Através do espírito culto e liberal de Washington Luís, meu amigo e Presidente do estado, consegui, paradoxalmente, colocar, desde o início da nossa insurreição, o grande matutino ultraconservador a serviço do movimento nitidamente revolucionário, movimento que viria a ser, na definição de Mário de Andrade, ‘uma ruptura, num abandono consciente de princípios e técnicas, uma revolta contra a "inteligência nacional”. Foi essa ruptura que Oswald e Menotti denunciaram e externaram em São Paulo, no Trianon, em 9.1.1921, oportunidade em que um banquete celebrou o nascimento do poema “As Máscaras”. Poema romântico, mas estopim da bomba modernista. Já em 1921, há portanto, exatos cem anos, o grupo modernista estava coeso e representava uma força nova dotada de consciência. “É chegado, portanto, o momento de declarar publicamente a sua existência e o que importa mais, de revelar a disposição em que se encontra para a luta que se sabe, vai ser árdua. É a hora de romper as hostilidades não mais isoladamente, escrevendo ora um ora outro, artigos na imprensa para falar, de maneira genérica, de arte nova e fazer referências nem sempre precisas de seus editores entre nós”, diz Mário de Andrade. Esse trio: Menotti, Oswald e Mário, pode ser considerado a “santíssima trindade” da Semana de Arte Moderna de 22. Na noite de 9 de janeiro de 1921, Brecheret esculpira a máscara de Menotti, a este oferecida por Oswald. Oportunidade pública de lançar o grito de renovação modernista. Oswald fez um discurso que se tornou famoso. Advertiu que perante “um desarmado e pacífico mundo passadista”, formado pelos comensais que homenageavam Menotti, o próprio homenageado “ali infiltrado sorrateiramente, comparecia para – fazendo soar uma tecla diferente em meio àquelas aclamações – declarar : “Tu és nosso, junto à bandeira que consagramos; a ti entregamos a máscula insígnia das responsabilidades que te esperam”. Essas responsabilidades ecoam a até hoje, delimitam as fronteiras da cultura brasileira e precisam ser devidamente comemoradas. Principalmente nesta era em que a cultura é vilipendiada, a história desprezada, o belo ameaçado e a natureza sacrificada. Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão Em 14 08 2021 voltar |
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