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Acadêmico: José Renato Nalini Havia uma teatralização incipiente nas escolas.
A magia do teatro O teatro é uma arte completa. Utiliza-se da linguagem - e no início era o Verbo - da expressão facial, gestual, da movimentação física, da comunicação. Ensina a disciplina e o timing. É uma escola de convivência num saudável aprendizado. Jundiaí já foi palco - sem trocadilho - de notáveis experiências teatrais. Sei disso porque nasci de um casal de artistas amadores. Conheceram-se no teatro paroquial, da Matriz Nossa Senhora do Desterro e da Cruzada da Mocidade Católica de São Bento. As paróquias tinham seus grupos teatrais e evangelizavam formando equipes que aprendiam a representar e a se apresentar para públicos praticamente domésticos. Mas havia experiências também na indústria, como o Grupo Dramático Guarany, das Indústrias Andrade-Latorre, depois Grupo Guarany de Comédias. Havia uma teatralização incipiente nas escolas. As Irmãs Vicentinas faziam os alunos representar, em festivais aos quais compareciam os pais e toda a família, encantados com os "artistas" que tinham em casa. Os salvatorianos também. Principalmente os seminaristas, eram profícuos promotores de teatro que também servia para a transmissão de lições morais e afinadas com a fé católica. Tudo isso foi desaparecendo, mas não deveria. Faz muita falta. Sobra mediocridade e futilidade, falta um olhar mais profundo para a solidez da dramaturgia. Perdi recentemente querida amiga, a dramaturga Renata Pallottini, que escrevia peças, ensaiava, dava aulas e era sempre receptiva ao interesse ou curiosidade da juventude. Hoje parece não existir mais esse mecenato teatral, que em São Paulo tanto produziu com Alfredo Mesquita e sua Escola de Arte Dramática e em Jundiaí teve algo análogo com Luis Latorre e seu irmão Miguel. Mas ainda existe esperança. Vejo que um jovem professor, Renato Andrade, ao perder o pai, o economista Afonso Andrade, baseou-se na obra de Antonio Bivar, também falecido em 5.7.2020 - ambos vítimas da covid - para retomar um trabalho ligado às artes cênicas. Bivar viveu até os 81 anos e legou peças marcantes como "Cordélia Brasil", "Abre a janela e deixa entrar o ar puro e o sol da manhã", "O cão siamês ou Alzira Power". São obras da década de sessenta do século passado. Mas são inesquecíveis para a História do Teatro Brasileiro. Baseando-se na trajetória de Bivar, Renato Andrade preparou o espetáculo "Entre Lá e Cá, Existe um Lugar". É um produto que se preocupa com o legado, naquilo que cada um pode deixar para o mundo e para as pessoas próximas. O que estamos fazendo nesta peregrinação pela Terra? O que se tornará nossa memória? Como é que aqueles que não nos esquecerem se lembrarão de nós? A montagem dessa peça foi carinhosamente preparada por Renato Andrade, que preparou dez solos de seis minutos cada, interpretados por personagens que encarnam aqueles da obra de Bivar. Também foi ensaiado um outro espetáculo, chamado "Tudo que Ainda não Falamos", com o mesmo elenco em narrativas pessoais e criativas, a respeito das perdas sofridas durante a pandemia. Todos os sábados, até 14 de agosto, haverá oportunidade para assistir a ambas as obras-primas. Basta reservar os ingressos - gratuitos - no site da Sympla. Tudo iniciativa de um jovem que, em dezembro, foi surpreendido com o fechamento da Escola de Atores, onde lecionava desde 2005. Perplexo, mas não resignado, abriu em janeiro a sua própria escola, chamada "Jogo Cênico". No primeiro semestre já recebeu 41 matrículas, para três diferentes cursos, ministrados de forma remota. As aulas continuarão em agosto e, se for possível, poderão ser presenciais. O professor-diretor é um entusiasta. Diz ele: "Quando você se coloca no lugar de um personagem, é suprida uma necessidade de pertencimento, que talvez não seja mais oferecida em outras áreas, como o jornalismo, a publicidade ou a arquitetura". É de jovens e de iniciativas assim que todos têm carência. Jundiaí, que foi pioneira no teatro amador, bem poderia voltar com essa prática saudável, um hiato à volúpia da internet, que só treina os olhos e os dedos, enquanto sacrifica a fala, a verbalização, enfraquece a linguagem e sepulta a comunicação. Vamos pensar nisso? Publicado no Jornal de Jundiaí - Opinião Em 25 de julho de 2021 voltar |
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