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CAPITALISMO APÓS A PANDEMIA
Acadêmico: José de Souza Martins
Debates, análises e decisões consistentes sobre o futuro do capitalismo, após a pandemia, estão ocorrendo em diferentes lugares do mundo, especialmente nos países ricos. A fácil e rápida disseminação do vírus invisível alcançou não só as visibilidades do mundo real, mas sobretudo as fragilidades e contradições da economia amplamente exposta às perturbações que se propagam a partir das anomalias disseminadas por ocorrências como a da Covid-19.

Debates, análises e decisões consistentes sobre o futuro do capitalismo, após a pandemia, estão ocorrendo em diferentes lugares do mundo, especialmente nos países ricos. A fácil e rápida disseminação do vírus invisível alcançou não só as visibilidades do mundo real, mas sobretudo as fragilidades e contradições da economia amplamente exposta às perturbações que se propagam a partir das anomalias disseminadas por ocorrências como a da Covid-19.

A economia moderna se tornou um sistema de conexões inevitáveis. Atingido um elo débil, de âmbitos que não o propriamente econômico, outras debilidades acabam se manifestando e propagando. Não é casual que, no mundo inteiro, o debate sobre a pandemia tenha se tornado um debate sobre a economia. O vírus revelou-se mais convincente do que a economia de Chicago.

O impacto das diferentes irracionalidades que caracterizam a economia contemporânea torna-as mais graves do que tem sido até aqui. São fatores de problemas que não podem ser resolvidos pela economia nem pelos economistas.

São essas conexões que farão com que o futuro do Brasil não seja decidido aqui, mas lá fora, nos países de que somos economicamente dependentes, por governos e instâncias sobre os quais não adianta usar pólvora nem saliva.

Eminentes figuras internacionais, de grande respeitabilidade tem dito e sublinhado, nestes últimos meses, com grande autoridade, que a economia mundial já não será a mesma após a pandemia. A questão ambiental tem sido colocada em primeiro lugar como questão reguladora da nova economia que virá.

Mas também a questão da pobreza, das migrações decorrentes dos desenraizamentos e das exclusões sociais nos países de terceiro mundo que padecem de grave insuficiência de capitalismo e inviabilidade de economias alternativas. Países em que a economia tradicional foi destruída para favorecer a expansão propriamente capitalista, caso de economias camponesas e tribais.

Menosprezar camponeses e indígenas, porque suas economias não são capitalistas, expressa unicamente ignorância e falta de conhecimento científico em relação à diversidade econômica, social e política do mundo. Uma coisa que tem sido invocada pelo próprio governante brasileiro e alguns de seus mais notórios auxiliares. Como aconteceu na exibição de uma índia brasileira destribalizada e urbana na comitiva do presidente da República às Nações Unidas, como evidência do índio que deu certo.

Essa gente não em a menor idéia do que está dizendo e do que está fazendo. Incentivar a destribalização e o desconhecimento da rica singularidade social e cultural dessas populações é destruir um patrimônio humano, culturalmente superior ao da cultura dos que usam abusivamente o poder que tem para impor seu desconhecimento aos frágeis e desvalidos.

As populações indígenas são guardiãs da natureza, dotadas de culturas que explicam o ambiente, suas regularidades e o modo de protegê-lo e o tem protegido até aqui. Elas tem muito a ensinar aos que pretendem ensinar-lhes sem saber o que ensinam.

O reconhecimento da diversidade do mundo e dos perigos que corre, depende da ciência e dos cientistas. Único meio de dialogar com as etnociências das populações simples, expressões de ancestral sabedoria proto-científica.

Uma preocupante indicação do que está acontecendo no Brasil é motivada justamente pelo desdém do governo atual pela ciência, pela contraposição de um senso comum rastaquera às descobertas e recomendações científicas. O Brasil tem hoje ciência consolidada em todos os campos do conhecimento científico. O Brasil faz ciência de Primeiro Mundo hoje minimizada por um governo de Terceiro Mundo. É espantoso que militares não vejam a diferença e insistam em coadjuvar a ignorância que nos governa e nos ameaça enquanto seres humanos e como nação.

Pólvora da bravata contra a saliva da diplomacia e do bom senso não dará conta de enfrentar e solucionar um confronto a sério com as potências que reagirem contra o risco de uma catástrofe ambiental no Brasil, país que é uma das principais “fábricas” de oxigênio no mundo.

Governantes de vários países e o próprio presidente eleito dos EUA já falaram em diferentes modos de criar um fundo milionário que acabará sendo um sistema de 3 compartilhamento do destino da Amazônia. Nossa geopolítica subdesenvolvida, de manuais velhos de mais de meio século, não considera tema de seu interesse e preocupação os problemas que o vírus desencadeou sem bater continência a quem quer que seja.

Esta fase que, vê-se agora, tem sido a da decadência de um modelo de capitalismo que pôs milhões de seres humanos à margem da estrada e os descartou. Até crianças, são excluídas já ao nascer.

Publicado em Eu& Fim de Semana, jornal Valor Econômico, Ano 21, nº 1.044, São Paulo, Sexta-feira, 11 de dezembro de 2020, p. 3



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