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Acadêmico: Gabriel Chalita Conheço o Roberto, há algum tempo. Estudamos juntos. Choramos juntos os primeiros percalços do amor. As adolescências e os "nãos" dolorosos. Lembro-me, como se fosse hoje, dos seus olhos de lágrima e do seu peito de ausências, quando Camila disse que era outro o seu amor.
Conheço o Roberto, há algum tempo. Estudamos juntos. Choramos juntos os primeiros percalços do amor. As adolescências e os "nãos" dolorosos. Lembro-me, como se fosse hoje, dos seus olhos de lágrima e do seu peito de ausências, quando Camila disse que era outro o seu amor. Roberto carrega o trauma de ser trocado, de ser abandonado. Eu, também. Comigo, foi Maria Tereza. A mulher que se vestia de bela e que desfilava para mim. Bem, era isso o que eu imaginava até entender que eu era, apenas, um amigo divertido que era bom aluno e que a ajudava em cansaços. Amadurecemos. Eu, hoje, namoro uma mulher que me surpreende nas delicadezas. Meu nome é Romeu e o dela é Julieta. Parece mentira, mas não é. Não nos escolhemos pelo nome, mas pelo enlevo. Desde os primeiros ensaios, quando disse tonterias e ela sorriu. Vimos, juntos, um luar. Falamos nada. Sentimos que deveríamos sentir, de mãos dadas. Julieta, não poucas vezes, elogiou meu silêncio. Roberto diz que eu exagero. Que um pouco do que digo é imaginação. Que Julieta é exigente demais comigo, que cobra atenção, que me rouba aventuras necessárias a um jovem. E foi com essa conversa que ele me convenceu a desistir, nos dias que antecedem o carnaval. Insistiu que vivêssemos novas aventuras em novos lábios. Que eu experimentasse amar outras mulheres, mesmo que fosse um amor de carnaval. Eu relutei. O que sentia por Julieta bastava. Ele insistiu. Disse que minha fragilidade era incompatível com quem gostava de viver. Gosto de viver com Julieta. Gosto de esperar sua chegada. Gosto de caminhar com ela. Gosto até das suas broncas para as minhas desatenções. Sou, confessamente, distraído. Não sei por que concordei. Achei justo ficar um tempo sozinho e experimentar outras experiências. Mas como conversaria com Julieta? Que desculpa daria? Um término sem razão. A razão era não decepcionar um amigo. Ele foi me convencendo, inclusive, me falando de futuros. Se eu quisesse, eu voltaria com ela. O carnaval era o melhor tempo para estar solteiro. E, depois, eu decidiria. A tal liberdade. E foi assim que marquei a conversa. E foi assim que ela se aproximou com um perfume de desejo. E foi assim que ela sorriu um sorriso que me trouxe o silêncio essencial e que me lembrou de onde eu gostaria de estar. Sim, tenho amigos. E gostaria, talvez, de brincar com eles. E de seduzir outras mulheres. Tenho desejos, evidentemente. E é bom conquistar. Mas é melhor estar com ela. Definitivamente. Seus cabelos molhados emprestavam mais poesia àquela chegada. Esqueci de Roberto. Esqueci dos seus textos desconectados com os meus sentimentos. Liberdade? Eu era livre para brincar no colo da minha amada, eu era livre para ouvir os seus sussurros e era livre para fazer de nosso cotidiano uma novidade. Não. Não preciso conquistar outra mulher. Não sou tão carente para sair enlouquecido em busca de outros sabores que acalmem o meu paladar. Seu beijo me é suficiente para a fremente aventura do estar. Julieta não soube do meu balançar. E, hoje, já é domingo de carnaval. Fomos juntos a alguns lugares. Dançamos alguma música. Comemos juntos o que preparamos juntos. E estou feliz. É tão difícil encontrar um amor. É tão difícil ouvir os sinos tocarem, quando os olhos se aproximam. Então, por que ensaiar indelicadezas e trair os sentimentos? Ouço os meus amigos e compreendo as suas escolhas. A minha é continuar assim, dormindo e acordando com a mulher que amo. No domingo de carnaval e em qualquer outro dia dos tantos dias que virão por aí. Publicado no dia 23 de fevereiro, no jornal O Dia (RJ). voltar |
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