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Acadêmico: José Renato Nalini Não é brincadeira não. Conseguiram cavar ainda mais o poço. Quando se pensou haver chegado ao fundo, ainda havia outras camadas de miséria a serem removidas. O PIB é uma vergonha. O desemprego continua elevado. O capital externo fugiu. Cérebros também escapam e vão para melhores ares.
Não é brincadeira não. Conseguiram cavar ainda mais o poço. Quando se pensou haver chegado ao fundo, ainda havia outras camadas de miséria a serem removidas. O PIB é uma vergonha. O desemprego continua elevado. O capital externo fugiu. Cérebros também escapam e vão para melhores ares. Nada obstante, o Estado espetáculo continua a oferecer instantes de fugaz ufanismo. Celebra-se uma proposta, como se ela já consistisse em obtenção do resultado sonhado. Viaja-se, exibe-se, inundam-se as redes sociais com autopromoção. Qual a consistência disso tudo? O abandono dos espaços públicos nos reconduz àquela fase medieval de imundície e peste negra. Seres humanos habitam os passeios, os vãos, as escadarias, as entradas de lojas, de prédios e de qualquer lugar que os abrigue. Dormem, se alimentam, defecam, transam. Tudo à vista de quem queira enxergar. Aqueles que têm a fortuna de trabalhar, vão se anestesiando. Passam impassíveis por esse quadro dantesco e o próximo necessitado se torna invisível. Visível é a perseverança com que grupos bem armados e cada vez maiores, explodem caixas eletrônicos, interceptam comboios de carros forte, se apoderam de dinheiro e de mercadorias alheias. Nunca dantes neste país, se apreendeu tanta droga. Quantidade suficiente para abastecer mercados rentáveis em todo o planeta. Os motociclistas superaram os pedestres nas mortes do trânsito. Os índices de homicídio de jovens continuam em alta, em busca do horroroso campeonato do País que mais dizima a sua juventude. Para compensar, acaba-se também com o meio ambiente. Desarticulam-se as equipes de fiscalização, flexibilizam-se os requisitos para o desmatamento e se libera o ingresso de centenas de pesticidas proibidos no mundo civilizado. Porque no Brasil tudo pode. Aqui não há limites para a inclemência e a insensibilidade em relação a um patrimônio que não foi construído por esta geração dendroclasta e cruel. À falta de consenso no Parlamento, que foi concebido como a mais importante função, exatamente aquela que formula as “regras do jogo”, sobram atuações teatrais de qualidade discutível. O palavreado nos debates faria Rui Barbosa chorar de vergonha. A coerência e lucidez do Ministro Paulo Guedes foram postas à prova e a notícia de que ele pode deixar o governo, que deveria causar uma reação favorável à aprovação das reformas imprescindíveis, gerou algo inacreditável: “ninguém é insubstituível!”. Como foi que o Brasil chegou a este melancólico estágio? Esquecemo-nos da História. De exemplos de honradez que podem ser invocados, mas que foram varridos da memória coletiva, diante do evidente retrocesso da ética pátria. Pode-se não concordar com tudo o que eles fizeram. Mas esta Terra de Santa Cruz já teve um José Bonifácio de Andrada e Silva, um Pedro I que precisa ser redescoberto. Um jovem criativo, talentoso, inteligente. Compositor e redator de uma Constituição Imperial a de 1824 infinitamente superior à “Cidadã”. Seu pai, um mecenas sereno e ponderado. Um Irineu Evangelista de Souza, o injustiçado Visconde de Mauá que se tornou um dos empresários mais poderosos e ricos do mundo, mas que voltou à pobreza para deixar limpo o seu nome. Mais recentemente tivemos André Franco Montoro, sempre à frente de seu tempo. O inesquecível San Tiago Dantas, Alceu Amoroso Lima, e figuras beneméritas como o geógrafo Milton Santos, o erudito Antonio Cândido, o pastor do acolhimento, Dom Paulo Evaristo Arns, o corajoso Dom Helder Câmara, Irmã Dulce, a caminho dos altares, Zilda Arns, Carmem Prudente, Dorina Nowill. Quantos cérebros privilegiados, existências voltadas ao próximo e ao aprimoramento do convívio. Quantos mais não serviriam de inspiração no momento angustiante em que a Nação está imersa numa espessa nuvem de ignorância e a lucidez parece ter desistido de bradar e, principalmente, de agir. Quem é que nos vai tirar deste melancólico atoleiro moral? Publicado em 27 de janeiro de 2020: https://renatonalini.wordpress.com/2020/01/27/quem-nos-tira-do-atoleiro/ voltar |
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