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Acadêmico: Gabriel Chalita "Irmã Dulce é, agora, santa. Agora, não. Sempre foi. Mesmo imperfeita como todos os humanos. Mesmo caminhante de um barro empoeirado que nos faz chorar choros doídos."
Irmã Dulce é, agora, santa. Agora, não. Sempre foi. Mesmo imperfeita como todos os humanos. Mesmo caminhante de um barro empoeirado que nos faz chorar choros doídos. Foi atacada não poucas vezes. Soube compreender e ensinar: "As pessoas que espalham amor não têm tempo nem disposição para jogar pedras". Espalhar amor foi sua decisão de vida. Inspirada em outras vidas. Como as de outros santos do mês de outubro. Teresinha é a santa da delicadeza. A que pedia ao Senhor que, quando partisse, pudesse enviar uma chuva de rosas para acalmar os ânimos dos que vivem por aqui. Francisco é o que sai de Assis para ensinar ao mundo a fraternidade. Irmão Sol, irmã Lua, irmão Dia, irmã Noite, irmãos cantantes em um cenário em construção. Foi ele o defensor da vida e da natureza. O que têm em comum Dulce, Teresinha e Francisco? Antes de ousar um entendimento, trago a lembrança daquela que apareceu para sinalizar que os que sofriam também eram feitos do tal barro humano. De um barro, em um rio, surge um sinal. A mãe de Jesus se faz Aparecida. Em sua casa, os choros se multiplicavam e, depois, partiam. E os sorrisos, mesmo que provisórios, acendiam vidas. Em sua casa, correntes que prendiam escravos se partiam e partiam os corações dos que começavam a compreender que ninguém pode ser dono de ninguém. Francisco deixou até as ricas vestes para se sentir livre. Teresinha orou pelo mundo sem nunca titubear na profissão de esperançar. E Dulce? A doce Dulce dos pobres. A enérgica Dulce dos que teimavam em humilhar. Irmãos seus não nasceram para o abandono. Em cada pobre jogado, um desafio. Em cada vida desperdiçada por vidas insensíveis, um convite à ação. Foi ela curadora de muitos destinos. Foram eles curadores de muitas histórias. E um bocado de vida ia surgindo. E o mundo ia sendo obrigado à gentileza. Mesmo que o mundo de algumas pessoas, apenas. Não importa. Eram os três capazes de amaciar conversar e de incendiar injustiças. Doces e duros. Colhiam a luz da oração para pintar um outro quadro da vida humana. Menos injusto e mais próximo do sonho primeiro do Artista. Em Aparecida, prosseguem os peregrinos. A simplicidade abre as portas para uma humanidade humana. Os joelhos se dobram para que se escutem as verdades. Não. Ninguém deveria jogar pedras. Não. Ninguém deveria ensurdecer o sorriso. Não. Ninguém deveria esquecer o amor, o amar. O que têm em comum, então, Dulce, Teresinha e Francisco? Se ainda não brotou uma resposta, prossiga plantando. São eles inspiradores. E como são necessários! Há quem acredite no dual do existir. Que, sem o mal, não compreendemos o bem, assim como, sem a noite, não compreendemos o dia. Há quem acredite que não é assim. Que, em essencial, só há o bem, o mal é um nome que se dá às ausências. Ninguém conhecendo o bem opta por não fazê-lo. Então, está certo que precisamos de inspiradores. Para que não desistamos. Para que não nos esqueçamos de que um fósforo apenas é capaz de trazer calmaria a um medo, mas é, também, capaz de causar medo a uma valente floresta. Há muitos incendiadores por aí. E quanto mal fazem com seus discursos de ódio e com suas esquizofrênicas relações. Chamemos, pois, os iluminadores. Que permaneçam. Em nossa “casa comum”. A casa, tantas vezes, assaltada pelas faltas. O fato é que ainda nascem crianças. O fato é que a vida não é dada a desistências. O fato é que outubro é apenas um mês, mas, nos outros meses, também precisamos compreender. E, compreendendo, sentir. Ou, sentindo, compreender. Pouco importa. O que importa mesmo é se importar. Foi assim com Dulce, Teresinha e Francisco. Importando-se, mudaram eles o mundo. Publicado no dia 20 de outubro, no jornal O Dia (RJ) voltar |
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