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Acadêmico: Gabriel Chalita "O amor nos retira da multidão e nos dá o poder da unicidade. Faz toda diferença saber que alguém nos ama."
Os comentários na porta do teatro são instigantes: "Eu brincava na rua ouvindo Nelson Gonçalves, tempo bom". "É a mais linda voz que o Brasil já teve". "As músicas que ele cantava eram músicas de verdade, tinham história. Uma letra melhor do que a outra". Os cabelos brancos vão se misturando aos jovens que esperam a porta se abrir. Já sentados, um vídeo com o jovem Nelson Gonçalves inaugura a noite de emoção. Canta ele "Naquela mesa" e "A Volta do Boêmio". E a orquestra vai se ajeitando, e os dois jovens atores, Guilherme Logullo e Jullie, vão arrumando os seus camarins em cena. E cantam juntos "Quando eu me chamar saudade", no palco central. E revelam o medo de Nelson de ser esquecido. Há um desfile de canções e de textos para trazer Nelson Gonçalves ao palco. Há um confessionário de dramas humanos, de corações partidos, de medos acumulados que contracenam com um coração que beija o alto, que contempla o luar e que não desiste de amar. A diretora Tania Nardini preocupou-se com cada quadro. Tudo é pensado para o embate entre o Nelson razão e o Nelson emoção. Há até uma luta de boxe, foi ele um lutador de boxe, em que músicas com intenções diferentes brigam no ringue das decisões. Quem vence? Melhor assistir. A direção musical de Tony Luchhesi é primorosa. Agrada aos românticos de todas as idades. Loggulo, um dos mais notáveis artistas do musical brasileiro, mostra uma elegância ímpar no bailar dos diferentes ritmos cantados por Nelson. Do tango à valsa, passando por delicados movimentos de amor. Jullie está à altura. A voz celestial em um corpo de menina que vive inteira o Nelson dos "nãos". Quantos "nãos" teve Nelson que enfrentar em sua vida de sonhador! Reprovado em concursos de calouros, criticado por Ari Barroso, foi ele persistente o suficiente para encontrar o seu lugar de iluminuras. Logullo traz o Nelson brigando com um relógio, suplicando ao tempo que passe mais rapidamente. Viveu ele tempos de prisão. As drogas roubaram instantes preciosos de sua vida, e o próprio Nelson, em vida, fez questão de revelar o seu calvário para ajudar os outros a não caírem nas mesmas teias do horror. O tempo da peça vai passando. A plateia vai passando do riso ao silêncio, do silêncio ao canto, do canto à emoção. O final é surpreendente. Os aplausos pedem um pouco mais. Uma senhora diz que "Esses moços" lembra o seu marido que já partiu. Uma outra fala de um adeus e da música "Devolvi".Os jovens comentam sobre o amor. Uma menina olha para o seu namorado e revela "que bom que encontrei você". O amor nos retira da multidão e nos dá o poder da unicidade. Faz toda diferença saber que alguém nos ama. E assim as pessoas vão saindo do teatro. Algumas cantarolando, outras abraçadas, outros brincando de olhar. Em tempos de pouca atenção ao outro, de fragilidades das relações humanas é bom relembrar os que gastaram a vida alimentando de vida a vida das pessoas. Viva Nelson Gonçalves, viva o artista brasileiro. Publicado no dia 13 de janeiro, no jornal O Dia (RJ). voltar |
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