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Acadêmico: Gabriel Chalita "Eu só quero que vocês saibam que a Marvel sempre foi e sempre será um reflexo do mundo que vemos da nossa janela"
Disse Stan Lee, depois de mais de 90 anos existindo, criando, emocionando: "Olá, heróis! Aqui é o Stan Lee falando. Eu só quero que vocês saibam que a Marvel sempre foi e sempre será um reflexo do mundo que vemos da nossa janela. Esse mundo pode mudar e evoluir, mas uma coisa que nunca irá mudar é o jeito que contamos nossas histórias de heroísmo. Essas histórias têm espaço para todos, independentemente da sua raça, seu gênero, sua religião ou da cor da sua pele. As únicas coisas que não têm espaço aqui são o ódio e a intolerância. Esse homem do seu lado, ele é seu irmão. Aquela mulher ali, ela é sua irmã. E aquela criança passando... Quem sabe? Ela pode ter poderes proporcionais ao de uma aranha. Somos todos parte de uma grande família: a família humana”. Stan Lee fez a família humana sorrir mais, se conhecer mais e se encantar com o poder de êxtase de suas personagens. Sua vida não foi fácil. Facilitou ele a vida quando fez das dificuldades um combustível para ir adiante. E foi. Foi para um outro mundo e ficou por aqui, um mundo tão carente de super-heróis que nos ensinem que o ódio e a intolerância nunca deveriam ocupar espaço. Sua simplicidade foi a marca de sua trajetória. Eu o encontrei em Los Angeles para falarmos sobre a Amazônia e suas tantas possibilidades. Sobre animais e mistérios. Sobre destruidores e construtores de uma floresta que é o espelho da vida. Vitória Régia, Uirapuru, Tartaruga, Macaco Uacari e um tal Boto, personagens reais e fantásticos. Falamos de Lamal, o antagonista. O que tem o poder da dissimulação. Era ele uma oficina incansável de ideias. Falou com serenidade sobre o bem e o mal. Sobre o que nos ilumina e sobre o que nos pesa. Os pesos dos antagonistas servem como contraexemplo. A trama precisa de emoção. E a emoção tem um papel essencial no dizer das histórias. Somos seres emocionais. Cada um de seus personagens carrega o poético cotidiano e o extraordinário. Como a vida. Vivemos dias cheios de repetições e, ao mesmo tempo, com um poder de unicidade. Encon tramos as mesmas pessoas, e as mesmas pessoas têm o necessário para nos encantar. Encantados, somos capazes de mudar o mundo. O mundo ficou mais encantado com a vida de Stan Lee. A arte tem uma razão de ser. Eleva a consciência, aproxima o humano do humano e faz refletir. Contou-me como criou o Homem-Aranha. Falou dos “nãos” que recebeu. Sua própria equipe dizia que aranha era um animal muito asqueroso e que, portanto, não faria sucesso. Ele ouviu. Refletiu. Permitiu ao tempo que acalmasse a sua inquietação. Mas persistiu. "O Homem-Aranha queria nascer", disse-me ele com seu jeito leve, um sorriso maroto. "E nasceu". Quis ele saber do meu processo criativo. Contei rapidamente como comecei a escrever. Ele pediu que eu deixasse de lado a pressa e lhe desse detalhes. Ouviu cada pequeno trecho de uma história que imaginava eu não ser importante para um homem de sua importância. Todas as histórias nascidas de vidas humana têm importância para quem tem a grandeza de Stan Lee. Quando nos despedimos, vi o seu caminhar lento contrastando com a mente ágil de quem nunca teve preguiça de criar. Andava ao lado de um amigo, de um velho amigo, nas calçadas daquela cidade. Iam se alimentar. Saí de lá alimentado. Descanse em paz. A presença e as lições de Stan Lee *Gabriel Chalita é professor, escritor e presidente da Academia Paulista de Letras Publicado na Revista Isto É Dinheiro dia 16 de novembro. voltar |
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