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Acadêmico: Gabriel Chalita "Em seu coração, Isadora gostaria de que tudo fosse eterno. A felicidade é uma estrela distante de ser compreendida se perdemos quem amamos."
Quando pode, Isadora vai ao baile. Quando pode, porque tem ela o dever/prazer de cuidar dos netos. Tem ela as atribuições de abrir e fechar a Igreja e de preparar tudo para que os que buscam oração se sintam acolhidos. Isadora já completou muitos anos de vida, anos intensos. Enterrou alguns dos seus. Chorou o inconformismo da perda. Em seu coração, Isadora gostaria de que tudo fosse eterno. A felicidade é uma estrela distante de ser compreendida se perdemos quem amamos. Um filho se foi. O marido, também. E, também, os pais. E a única irmã. Mas há os filhos que restaram. Dois. Um casado e outro solteiro. O casado tem 5 filhos. Netos que enfeitam de aroma a árvore da vida de Isadora. Gosta Isadora de baile. Dança a dança da amizade com amigos que também sabem viver a vida. Prefere as músicas antigas. No intervalo de uma dança e outra, enquanto beberica uma bebida qualquer, comenta ela das letras. Cada uma tem uma história. "Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor". Ela repete a letra para as amigas. E exclama: "Quem foi o gênio que compôs isso?". E prossegue distribuindo vida em potes de sorrisos. E abraços. E cumprimentos com exclamações a quem havia desaparecido e ressurgiu. "O que houve? Faz tempo que você não vem. Que bom que veio!" E outra canção. "Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias...". Isadora para no tempo e viaja para o colo de seu pai. Um contador de histórias, um iluminador de histórias alheias. Como ele gostava dessa canção. Em casa, desde sempre, ele reunia as duas filhas para cantarolar. "Afinado e de bom gosto", diz Isadora para o amigo que ensaia outra dança. O baile vai chegando ao fim. Tudo muito simples, tudo muito saboroso. O sabor das poucas comidas que alimentam Isadora é percebido no prazer que ela tem em degustar. O presente é um presente. O passado vem, vez em quando, para permitir a saudade que cumpra o seu papel. O futuro será bom, é só isso que ele tem a dizer sobre o amanhã. Já o presente, é como um baile com boas músicas, com dançarinos decididos a marcar de alegria cada movimento. Com amigos que sabem que um sorriso desinteressado vale mais que desejos desnecessários sobre um futuro que nem sabemos. Quando chega em casa, Isadora, antes de dormir, faz sua oração. "Obrigada Senhor, por mais um dia, por mais um dia bom". E adormece sorrindo. Publicado no dia 11 de novembro de 2018, no jornal O Dia (RJ). voltar |
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