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Acadêmico: Gabriel Chalita "A escola é um espaço em que se realizam. A professora gosta de estar ali; a menina, também. A professora escolheu a profissão da esperança, a menina é a esperança que cresce todos os dias e que há de desabrochar para enfeitar um tempo imprevisível."
Mariana é filha única. Seus pais trabalham muito e muito se preocupam com a educação de Mariana. Quando estão em casa, toda a atenção é dedicada à menina. Brincam, desenham, contam histórias. As histórias que contam abrem os universos que vivem dentro de Mariana. Ela se emociona, ri, chora, às vezes, e pede mais. Às vezes, pede que contem novamente a mesma história. É assim sempre. Renata, a mãe, diz que a decisão de ter um filho muda completamente a vida de um casal. E que, por isso, é preciso renunciar a muitos espaços para estar presente no ofício grandioso da maternidade. Rafael, o pai, tem dois empregos. Passa o dia entre uma coisa e outra. Mas todos os tempos livres são para a amada filha. Pois bem, era o dia do professor. E Mariana acordou cedo, como de costume para ir à escola. A professora de Mariana chama-se também Mariana. E gosta do que faz. Com idades diferentes e nomes iguais, parecem viver uma plena sintonia. A escola é um espaço em que se realizam. A professora gosta de estar ali; a menina, também. A professora escolheu a profissão da esperança, a menina é a esperança que cresce todos os dias e que há de desabrochar para enfeitar um tempo imprevisível. Os alunos preparam uma homenagem à professora. E coube a Mariana dizer algumas palavras. Ela ensaiou em casa, com os pais, na noite anterior. Foi ela quem decidiu o que dizer. Os pais apenas ajudaram na lapidação das palavras. Melhoraram juntos um traço aqui e um respiro ali. Os alunos entoaram um canto, desses que trazem o carinho em forma de canção, e o fizeram lindamente. Um coral é sempre um somatório de esforços e talentos banhados pela magia da música. Depois da canção, a entrega das flores. Olhando para as flores que já descansavam no colo da professora, a menina começou a sua oração. Falou dos plantios. Falou dos encontros. Falou do cuidado. Deu pausa. Sorriu. Recebeu de volta o sorriso. Prosseguiu. Lembrou o primeiro dia, a primeira aula, o primeiro "não", os tantos "sins". Lembrou a importância de estarem ali. Pausa e nova troca de olhares e de sorrisos. E foi dizendo o que preparou. E encerrou desconcertando de emoção a professora. "Temos o mesmo nome, professora, e a mesma vocação". A professora olhou aguardando a conclusão. "A senhora já é uma mestra e eu sou uma aprendiz. Mas, um dia, eu quero ser a Mariana mestra também. Quero ser professora como a senhora. Quero entrar e dar "bom dia" e fazer com que o dia seja bom. Quero terminar desejando que o próximo dia chegue logo para estar novamente ensinando. Professora, a senhora é nossa inspiração. Obrigada por compreender o bem que nos faz". E prosseguiu a menina dizendo e mexendo a cabeça de um lado para o outro. Levemente. O cabelo acompanhava o movimento. O olhar era de sorriso. Na Mariana professora, algumas lágrimas teimavam em revelar o que o sorriso já havia feito. Era um dia do sol. À noite, a menina contou tudo com detalhes aos pais. Os dois, preocupados com tempos de tantos desentendimentos, deram uma pausa. Era preciso dar permissão as lágrimas que também resolveram visitá-los. Rafael olhou sorrindo para Renata e confirmou: "Que delícia que é ter uma família". Publicado no dia 21 de outubro, no jornal O Dia (RJ). voltar |
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