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Acadêmico: Gabriel Chalita Mas nem sempre é. Pessoas são mais complexas do que as águas salgadas ou do que as areias que se deixam banhar por elas.
A praia é sempre um convite para um mergulho nas delicadezas da natureza. O caminhar contemplativo, o molhar os pés, acompanhados de outros pés ou não, o preencher o corpo com o sal que sobe e desce, que vai e vem, o deitar para esquecer ou desejar, o que foi ruim ou o que há ainda de surpreender. É assim o mar, com os mistérios de tantas vidas que se encontram, democraticamente, em suas águas. Quem são as pessoas que vão e vem e que aproveitam uma pausa para respirar? Deveria ser lindo. Inda mais em um dia de sol. Mas nem sempre é. Pessoas são mais complexas do que as águas salgadas ou do que as areias que se deixam banhar por elas. Era, então, um dia de sol. E o movimento trazia ondas de pessoas pela rua, pela calçada, pelos quiosques de alimentação. Foi quando vi uma briga. Não dessas assustadoras de arrastões. Não das que envolvem armas de fogo. Eram dois namorados. Penso eu. Jovens, ainda. Ele parecia ter se excedido na bebida, ela parecia disposta a revidar à altura. E começaram a gritar. Algumas crianças correram assustadas. Faziam tranquilamente seus castelos de areia quando ouviram a deselegância. Um senhor tentava intervir. Ela ameaçava bater nele com uma garrafa vazia de alguma bebida. Ele gritava alto dizendo que sabia que ela o traía. E usando palavras pouco adequadas para quem diz amar. Ela não deixava por menos. E o ameaçava dizendo que o corpo dela a ela pertencia e que era ela que decidia quem deveria ou não se deitar com ela. Ele chorava, gritando, dizendo que a amava. Ela, tentando jogar a garrafa, caiu. Ele caiu, também. Caíram os dois em suas dignidades. Estranhamentos em histórias de namoro há, mas não se resolvem em formas de espetáculo. Inda mais em dia de sol. Um casal chegou para ajudar. Ele, depois de ter caído na areia, parecia ter adormecido. Efeito do álcool, talvez. Ela, indignada, dizia que ele era um vagabundo. E foi assim que o casal conseguiu ajudá-los a ir embora. Percebi que eram conhecidos. Trataram-se pelo nome. E o dia prosseguiu. Outras brigas devem ter ocorrido em outras praias ou naquela mesma. Outros sustos. Outras agressões. Queria perguntar ao sol, que do alto avistava tudo, a sua opinião. As baixezas nos roubam instantes preciosos. Histórias de amor, de amor de verdade, não permitem que as ondas do mar retornem de sua chegada sem cumprir a sua finalidade. Rastros precisam ser apagados para que a jornada prossiga. Mas os caminhantes só conseguem prosseguir, se tiverem olhos de ver o espetáculo correto do ir e vir de gentes em uma praia em um dia de sol. Ainda assisti ao sol se despedir. Outras pessoas, também. Algumas aplaudiram sorridentes. Lembrei-me do casal. E o dia descansou mais uma vez. Publicado no dia 30 de setembro, no jornal O Dia (RJ). voltar |
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