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A CARAVANA DE CHICO BUARQUE
Acadêmico: Gabriel Chalita
"Chico talvez nem saiba, mas muitas histórias de amor começaram assim: em uma Caravana de canções decidida a conquistar outros mares. O eterno guri já passou dos 70 e está longe de perder o poder de navegar."

Paulo e Fátima são namorados. Faz algum tempo. Conheceram-se em uma esquina em uma antiga viela na velha Portugal. Ele, brasileiro; ela, nascida no Porto. Viram-se pela primeira vez quando Paulo pedia uma informação. Ela o informou. Olharam-se com delicadeza e, depois de caminharem por algum tempo, resolveram não mais se despedir.

Paulo trabalha com turismo, Fátima é professora. O primeiro inverno na Europa não foi fácil para Paulo, carioca da Tijuca. Acostumado ao calor, precisou de roupas diferentes e do diferente jeito de Fátima para o necessário agasalhar.

Estavam agasalhados, os dois, no dia em que portugueses e brasileiros lotaram um tradicional teatro do Porto para aplaudir Chico Buarque de Holanda.

Chico começou sua Caravana na timidez habitual. O público foi ao delírio. Autor de letras que surpreendem pela diversidade de temas e de ditos poéticos, embaixador de um estilo de fazer da canção um grito de liberdade, de identidade, de amor. Conhece Chico a alma da mulher e a descreve com maestria. Percorre os sentimentos humanos de separação e de encontro, a gota d'água da desatenção ou o tempo da delicadeza.

A música, como tem de ser, foi tomando o ambiente. Mulheres e homens cantavam juntos. Chico sorria. Do seu jeito. De quem disfarça a genialidade. De quem compreende o ofício de levar sua Caravana além-mar.

Na terra de Camões e de Fernando Pessoa, Chico, um brasileiro, é ovacionado. Os gritos de gênio se misturam aos aplausos pedindo bis. Ele volta. Canta mais. Termina. O púbico quer ficar. Volta novamente e, novamente, emociona.

Foi quando Paulo, o brasileiro, olhou para Fátima, a portuguesa, e entregou a ela um anel de enlace.
Fátima sorriu. Paulo sussurrou algo em seu ouvido. Ela acenou com a cabeça dizendo “sim”.

Paulo, o carioca, malandro bom, escolheu o melhor dia para agasalhar os outros dias que viriam em sua vida. Fátima, professora de crianças, aprovou o romantismo, a escolha da canção e da ocasião.

Chico talvez nem saiba, mas muitas histórias de amor começaram assim: em uma Caravana de canções decidida a conquistar outros mares. O eterno guri já passou dos 70 e está longe de perder o poder de navegar.

No mar salgado de Portugal, no dia do show de Chico, nada de lágrimas a não ser as de emoção. Não sei em que dia Fátima e Paulo se casarão. Nem em que Igreja. Nem o que servirão para celebrar. Sei que, do pouco que ouvi e vi, o que já aconteceu foi mágico, e romântico, e original.

Na saída, a noite já estava mais silenciosa. Aqui e ali, pequenos trechos de cantorias das canções de Chico. As velhas ruelas e suas esquinas aguardavam outros encontros.

Havia luar.

Publicado no dia 10 de junho, no jornal O Dia (RJ).




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