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Acadêmico: Gabriel Chalita "Não há liberdade no ódio, não há liberdade na mentira, não há liberdade na injustiça."
Páscoa vem de passagem. Passagens interrompidas cheiram a escravidão. Páscoa é liberdade. Passagens enterradas cheiram a morte. Páscoa é vida. Foi assim nos idos de antigamente, quando um povo sonhava em sair de uma terra onde eram tratados com indignidades para experimentar, mesmo que no deserto, a sensação de irmandade. Os irmãos não se escravizam uns aos outros. Foi assim, também, nos dias de Jesus. Pregaram na cruz o Pregador do Amor. O que houve? Não era Ele que curava os que de cura precisavam, que abraçava os que ninguém abraçava, que olhava com os olhos de amanhecer? Os paralíticos andavam, os leprosos sentiam-se acolhidos, os desesperançados amanheciam. Então, que mal fez Ele? Por que os gritos de "crucifica-o" abafaram as canções de liberdade? Escravos de opiniões alheias, afogados nos ódios dissipados por aqueles que tinham medo de perder algum poder, já não sabiam o que faziam. E é assim, do alto da dor, que diz Jesus: "Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem". E não sabiam mesmo. E não sabemos nós quando optamos por tudo o que nos restringe a liberdade ou a vida. Os tempos são outros, mas as algemas persistem a nos enganar. Desconhecemos a passagem necessária que nos leva à montanha sagrada, que nos permite ouvir o sermão da humildade. Lá, em uma relva suave, os sentimentos poderiam ser suavizados. O Galileu falava de amor e de humildade, de perseguições e de justiça, de engodo e de verdade. É a verdade que nos liberta. Mas o que é a verdade? Como encontrá-la? Talvez esteja ela naquele ferido que aguarda alguém que desça de onde estiver e que dele cuide. Foi assim que Ele explicou quando falou da vida que não se encerra, quando desenhou a face do próximo. O bom samaritano. O próximo é quem cuida de mim. O amor ao próximo é o que me revela a verdade mais sagrada, a tal liberdade. Não há liberdade no ódio, não há liberdade na mentira, não há liberdade na injustiça. Mas estão todos eles por aí, o ódio, a mentira, a injustiça. Sim, está por aí como por aí estão a morte e a escravidão. Mas hoje é Páscoa, é passagem, é mais uma vez um convite a deixar as algemas, as que querem nos colocar e as que queremos colocar nos outros, e partirmos para viver o chamado que Ele nos faz. O Paraíso começa aqui, nos sorrisos que somos capazes de dar, nos abraços que consolam, nos olhares que nos retiram da multidão e que conferem o poder de unicidade. O que Deus nos oferece vai além dos templos e das cerimônias, mas são eles importantes quando nos ajudam a compreender, nunca a odiar. Seria muito estranho acreditar em um Deus que representasse o ódio ou a vingança ou as matanças de reputação. Em nome de Deus, só pode falar quem tem voz de liberdade. Quem tem ouvidos capazes de ouvir o barulho das cachoeiras e dos animais, quem tem lágrimas que jorram emoções. Em nome de Deus, só pode falar quem O experimenta. Experimentar Deus é mais humano que compreendê-lo. Depois de todos os acontecimentos daqueles tempos, depois dos ditos dos que viram que o túmulo estava vazio, que a vida havia vencido a morte; depois de reconhecerem aquele homem falando “Que a paz esteja convosco”, puderam eles, podemos nós, compreender- não há força mais poderosa que o Amor. Era o amanhecer de mais um dia... Publicado em jornal O Dia (RJ), 01 de Abril de 2018 voltar |
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