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Acadêmico: José Renato Nalini ”As eleições neste ano são o grande assunto nacional. Impossível deixar de lembrar que renovaremos o Executivo e o Parlamento nas duas mais elevadas esferas da Federação. Os programas televisivos insistem na tecla dos temas que não podem faltar no debate eleitoral.”
As eleições neste ano são o grande assunto nacional. Impossível deixar de lembrar que renovaremos o Executivo e o Parlamento nas duas mais elevadas esferas da Federação. Os programas televisivos insistem na tecla dos temas que não podem faltar no debate eleitoral. A possibilidade de interação permite aferir o que se passa na consciência de boa parcela da cidadania, ao menos aquela antenada com o que acontece no Brasil. Surgem temas como corrupção, impunidade, situação das penitenciárias, segurança pública. Tudo o que só pode ser corrigido a longo prazo, através daquilo que é o mais relevante, mas que não parece habitar a consciência dos que participam dos programas da TV: a educação . Só a educação corrigirá seculares práticas brasileiras. Falo em “educação”, o que é muito diferente de “escolarização”. Nesta, ao menos numericamente, conseguimos a universalização. Mas o produto da escola é aquele de que o País necessita? Educar é um processo permanente, que envolve toda a Nação. A receita já foi fornecida pelo constituinte em 1988: educação é direito de todos, mas dever do Estado e da família, em colaboração com a sociedade. Ou seja: ninguém está dispensado de educar. De formar as novas gerações, para que assumam suas responsabilidades no amanhã que bate às portas. Amanhã que já chegou, se houver detida atenção para os efeitos da irreversível 4ª Revolução Industrial. Há um longo caminho a percorrer. O excesso de partidos políticos obriga o governante a fazer alianças. O chamado sistema de coalisão, que pode degenerar para governo de colisão! Máquina inflada, com estrutura que passou ao largo da racionalidade e da eficiência. Tudo tem tradição no Brasil. Quando a Corte de D. João fugiu de Lisboa ante a invasão do General Junot e veio aportar na Colônia, chegou com milhares de corte-sãos. Além da família real, todo o funcionalismo acompanhou os soberanos. No relato saboroso de Raimundo Faoro, citando Hipólito da Costa no livro “Os donos do poder”, verificava-se que “nos escalões mais baixos, o número de funcionários aumentava, inflando e emperrando a máquina administrativa, uma vez que muitos cargos foram sendo criados apenas para atender os recém-chegados, que reclamavam sua subsistência. A maior parte dos emigrados…comportou-se como uma “chusma de satélites”. Eram os vadios e parasitas que continuariam no Rio de Janei ro o ofício exercido em Lisboa: comer à custa do Estado e nada fazer para o bem da Nação. A máquina inchava e, para dar conta das novas despesas, geraram-se impostos pelo Brasil todo. Foi em tom de brincadeira séria que a população denunciou a corrupção nessa corte voraz: “Quem furta pouco é ladrão/quem furta muito é barão/Quem mais furta e esconde/Passa de barão a visconde”. É evidente que a percepção do povo enxergava malversação do dinheiro público. Aquilo que a experiência colonial também deixou nítido para observadores mais sagazes. Para as autoras de “Brasil: uma biografia”, Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, muitos administradores se portaram inadequadamente, fazendo “parte de uma linhagem de governantes locais prepotentes, corruptos e venais, que se aproveitavam da investidura régia para enriquecer depressa, em geral de forma ilícita. Na belíssima oratória de Padre António Vieira, que os conhecia bem, a cobiça desses governantes era sem remédio, e punha em risco a estabilidade do domínio português na América: “Esta é a causa original das d oenças do Brasil: tomar o alheio, cobiças, interesses, ganhos e conveniências particulares por onde a Justiça se não guarda e o Estado se perde”, bradava Vieira do púlpito. E concluía: “Perde-se o Brasil (digamo-lo em uma palavra) porque alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar nosso bem: vêm cá buscar nossos bens”. Nada obstante o que a História relata, os tempos são outros. A cidadania tem condições de fiscalizar e de eleger pessoas honestas. Não como atributos excepcionais ou virtudes que as tornem superiores às demais. Honestidade como pressuposto, sem o qual ninguém pode pretender gerir a coisa pública, que é comum a todos, que é de todos. voltar |
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