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FRANCISCO
Acadêmico: Gabriel Chalita
Gabriel Chalita conta a história de Francisco, o cachorro com nome de santo.




"Que nome você quer dar a ele?" - era a pergunta que a mãe fazia ao filho.

"Francisco".

"Francisco é nome de santo e não de cachorro".

O filho ficou prestando atenção à resposta da mãe, enquanto olhava o olhar do cãozinho que acabara de chegar em casa para viver com eles.

Luciano, do alto dos seus 7 anos, explicou à mãe:

"Francisco é o santo que sempre gostou dos animais. Então, ele não vai ficar ofendido. Vai gostar. Pode ter certeza disso. Eu mesmo já expliquei para ele".

"Explicou para ele como, menino?"

"Engraçado, né, mãe? Tem um monte de imagem de santo, aqui em casa, e a senhora não conversa com ninguém. Eu converso, uai".

A mãe ficou perplexa diante do filho: "Nossa, nunca imaginei".

"Eu vi o filme da vida de São Francisco, mãe. É muito lindo. Eu disse para ele que nós iríamos adotar um cachorrinho. E eu quase o vi sorrindo. É isso. E aí eu expliquei que o nome seria Francisco, embora eu vá chamá-lo de Chico".

"Oh, meu filho. Acho que você tem razão".

"Mãe, a gente aprende muito com os animais. Lembra do Spiff? Ele fazia festa toda vez que a gente chegava, ficava feliz quando saíamos com ele para passear, agradecia o menor carinho" disse o garoto choramingando.

"Chora não, meu filho. O Spiff está no céu dos cachorrinhos".

"Mãe, eu não sei se tem céu dos cachorrinhos. Eu sei que ele fez da nossa vida um céu. E agora é a vez do Francisco".

"Olha aí Luciano! Ele acaba de fazer xixi".

"Calma mãe. Ele aprende. Cachorro aprende mais fácil que gente".

"Por que você diz isso, meu filho?"

"Já viu cachorro fazendo maldade mãe? Já viu cachorro com preconceito? Já viu cachorro exigindo alguma coisa para dar amor?".

A mãe, que sempre se surpreendeu com Luciano, seu único filho, estava radiante de felicidade. Ela sempre teve medo das suas ausências. Viviam apenas os dois. O marido a deixara pouco tempo depois do nascimento do filho. Ela trabalhava duramente para manter a casa e dar o melhor ao menino. Invariavelmente, liam juntos à noite. Gostavam das histórias que nasciam das experiências de amor.

Durante o dia, pouco se viam. Vanessa tinha para si que, se ela falhava na quantidade, não podia falhar na qualidade. Os finais de semana eram lindos. Programas simples, mas juntos. O cachorro que morreu vivera com eles momentos preciosos de aconchego. Enquanto ela lia ou contava histórias ao filho, observava o menino deitado com o cachorro deitado nele, possivelmente, também atento à história. A despedida de um cachorro é sempre dolorosa. Depois de algum tempo, Luciano pediu um outro. A mãe concordou. E assim chegou Francisco que, por enquanto, olha assustado e faz xixi no lugar errado. Isso é pouco pelo muito de prazer que ele será capaz de proporcionar. Sem muito esforço. Apenas vivendo. Apenas festejando o estar vivo.

Pronto. O xixi já está limpo, e Francisco se espreguiça no colo de Luciano. E respira fundo como que sentindo as batidas de um coração menino. Viverão juntos por um tempo. Será um tempo bom. Um tempo de delicadezas e aprendizagens.

O Santo, cuja festa se deu no início deste mês, vê a cena e aprova. O nome e os afetos. É nessa fotografia que ele quer estar. O essencial está ali. Vanessa, Luciano, Francisco e uma arquitetura propícia para o alicerce da bondade. Se algo falta, o que está presente basta. Pelo menos é o que diz o rabinho acelerado do novo habitante daquela casa.




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