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ORAÇÃO AOS PAIS
Acadêmico: Gabriel Chalita
Gabriel Chalita faz uma singela homenagem aos pais.

Aos pais que já se foram, uma oração. Suas lembranças povoadoras
de afetos continuam por aqui.
Despedidas sempre causam algum desconforto, alguma dor. Muitas
dores me visitaram quando meu pai partiu. Chãos se abriram, dúvidas
surgiram, a fé precisou ser reabastecida. Difícil imaginar o dia seguinte
ao da partida. Nem um abraço, nem um beijo, nem um colo, nem um
olhar. Apenas as lembranças. Lembranças tantas, eu tinha e tenho do
meu pai.
Aos pais que estão, uma oração. Filhos vão crescendo e ganhando
forma. Repetem ou repelem gestos e atitudes dos pais. O pai superherói,
o pai protetor, o pai companheiro. Mas há o pai violento e o pai
ausente. Há o pai que não se afeiçoa e parte, partindo. Há filhos que
buscam o que não tiveram. Substituições são difíceis. Há símbolos
que nos significam vida. Geradores de vida, cuidadores de vida são
essenciais.
Uma oração à essência da paternidade. Desde os inícios. A gravidez
conjunta. O amor intenso à mulher que vai vendo seu corpo
transformado por uma nova vida que insiste em nascer. Juntos.
Acompanhando os movimentos e aguardando a surpresa. E, depois,
os primeiros choros, os primeiros passos, os primeiros risos.
Meu pai brincava comigo brincadeiras de amor. Corrigia-me nos meus
deslizes e incentivava as minhas invencionices. Eu gostava de criar
palavras e de fazer discursos. Ele ria e me prometia presença.
Uma oração aos pais ausentes. Tristes desperdícios. O não
acompanhar os centímetros que vão se acumulando, as
transformações físicas e psíquicas que não dão trégua. Uma palavra
aqui e a surpresa, “onde teria o filho aprendido essa frase, essa
expressão?”. E os dias vão ganhando vida quando vidas vão
ganhando importância. Momentos de amor. Um presente. Muitas
presenças. Uma viagem. Muitos olhares. Um escorregão. Muitas mãos
para segurar.
As mãos de meu pai eram grandes. Grande também era sua
generosidade. Ditos de sabedoria ainda me acordam quando
adormeço no caminho. Caminhava vagaroso, meu pai, porque
valorizava o tempo da contemplação.
Uma oração aos pais que adotaram. Que souberam gerar filhos em
seus corações. Que interromperam possíveis trajetórias de
abandonos. Que compreenderam o cuidar como um dom significante
que nos dá um outro, a felicidade. O dom de ser feliz não é capaz de
existir sem o exercício cotidiano do cuidar.
Uma oração aos pais que se perderam no meio do caminho ou que
ainda estão perdidos, mas que têm vontade de acertar. Pais superheróis
são expressões apenas de linguagem. Pais são feitos da
matéria-prima humana, dos erros, das imperfeições, das
necessidades.
Ouvi tantas histórias de filhos intransigentes na ausência de perdão
aos seus pais. Porque cambalearam na vida, porque erraram. O
tempo nos traz ventos de alívio que têm um milagroso poder
concertante. Só os não generosos remoem os erros de ontem.
Uma oração aos pais do futuro. Que pensem antes de decidir. Que
saibam que os caminhos mudarão. Nunca mais estarão sozinhos.
Filhos não são brinquedos. Que se descarta vez ou outra. São
sementes que precisam do regar correto, constante, amoroso.
Uma oração ao Amor Maior. Sem Ele, não teríamos pais, nem vida,
nem oração.
Que cuide Ele dos que se foram e com Ele vivem. Que cuide Ele dos
que estão por aqui.
Ao meu pai, esta oração e a minha saudade e um corolário de lindas
histórias que nunca passarão.
Ao seu pai ... deixo para vocês a criatividade da homenagem, a
delicadeza das palavras.



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