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Acadêmico: Gabriel Chalita "O cenário é bastante estranho. Mas há saída. E a saída é a educação. Do povo e dos jornalistas. "
A ‘pós-verdade’ e a verdade “Pós-verdade”, como conhecemos hoje, é uma palavra, que foi usada pela primeira vez em 1992, pelo dramaturgo Steve Tesich. De lá para cá, ela ficou restrita a alguns grupos que tentavam compreender o sentido do pouco apreço pela verdade. Ou da “preguiça de pensar” sobre o que se tenta vender como verdade. Foi no ano passado, entretanto, que a “pós-verdade” ganhou força. Tamanha força que a Oxford Dictionaries a elegeu a palavra do ano de 2016. Donald Trump vendeu que estava sendo apoiado pelo Papa Francisco, vendeu que Barack Obama era um dos fundadores do Estado Islâmico. Vendeu que, proibindo os estrangeiros, garantiria emprego a todos os americanos. Sem a tal “preguiça de pensar”, esses produtos não seriam comprados. Trump venceu as eleições. Venceu prometendo ser a voz dos americanos, venceu prometendo destruir pontes e criar muros o oposto de seu antecessor. A Grã-Bretanha decidiu deixar a União Europeia. A venda deu certo. O discurso de que o custo para os ingleses era exorbitante fez eco. Por aqui, muitos políticos venderam que não eram políticos e ganharam as eleições em importantes cidades. O eleitor comprou. Os que têm o poder de investigar defendem a ideia de que precisam falar muito sobre suas investigações para que tenham apoio popular. A mídia compra essa ideia. E se apressa em criar mitos e destruir biografias. A “preguiça de pensar” diminuiu a possibilidade de uma reflexão mais profunda sobre o papel de quem tem o poder de investigar. E o povo acompanha o desenrolar de casos e mais casos de corrupção. Não sabe muito bem dos detalhes ”preguiça de pensar”, mas divulga-se pelos meios disponíveis o que dos meios disponíveis recebe. Combater a corrupção é um dever de governantes e de governados. É lutar contra uma praga que há muito rouba direitos de quem mais precisa. Mas há que se atentar para os que se valem desse discurso com fins pouco corretos. Ou dos que, com “preguiça de pensar”, generalizam o mal feito. Frequentemente, vejo alguém comentando uma verdade recebida pelo Facebook ou pelo Whatsapp. Frequentemente, vejo a própria pessoa que acabou de comentar a tal da verdade pensando sobre ser a sua verdade inverossímil. Pensou um pouco e percebeu que o que foi vendido como verdade não poderia ser comprado. Mas sem esse pensamento, as máquinas de divulgação vão registrando os compradores desses boatos. As crenças pessoais, os preconceitos, os egoísmos vencem os fatos objetivos. É certo que as novas formas de comunicação têm sido um canal dessas não-verdades. Mas os meios tradicionais de notícias também vêm sendo pouco criteriosos no trato com a verdade. Justiça seja feita, há excelente jornalistas, mulheres e homens ciosos do seu ofício e do seu poder. Mas há também o outro lado. A busca pelo furo jornalístico, ou outras razões pouco éticas, faz com que a verdade seja menos importante do que alguma fonte que garanta que, pelo menos, há alguma fumaça para que o noticioso fogo ganhe espaço. Se no dia seguinte se descobrir que a fumaça era de pó de estrada e não de lenha de floresta, escreve-se sobre outra coisa. Admitir o erro é exceção no mundo da imprensa. Mas se é fato que vivemos a “pós-verdade”, o que fazer para virar a página? O que fazer para escrever um outro texto? Mais elaborado. Com mais cuidado. A verdade é uma utopia? A verdade é relativa? É possível se chegar à verdade? Essa discussão não é nova! Desde Sócrates e dos sofistas, trava-se essa batalha. Sócrates queria a verdade. Os sofistas não se preocupavam com ela, mas com a aparência da verdade. Como não acreditavam na verdade, queriam o que parecesse ser a verdade, talvez para agradar, talvez para receber o vaidoso aplauso. Sócrates não se preocupava em agradar. Preocupava-se em chegar até a verdade, demorasse o tempo que fosse necessário. Como dizer isso a um jornal de televisão ou de rádio? Ninguém tem tempo. A notícia vendida por alguém é comprada por outro alguém e vendida para milhares ou milhões de pessoas. Mas e a verdade? E os danos provocados pela ausência da verdade? Ausência que pode vir da pressa ou da má fé. As audiências dos telejornais têm caído. O número de leitores de jornais e revistas, também. Há uma nova geração descrente das informações que a mídia tradicional passa. Mas crentes no que leem em seus círculos digitais. O cenário é bastante estranho. Mas há saída. E a saída é a educação. Do povo e dos jornalistas. Do povo e dos que devem promover a justiça. Do povo e dos marqueteiros das eleições. Do povo e dos políticos. Parece utópico, mas, se combatermos a “preguiça de pensar”, o ciclo da “pós-verdade” pode causar menos estragos e ser menor. Entre Sócrates e os sofistas, a humanidade optou por Sócrates. Na teoria. http://www.poder360.com.br/opiniao/opiniao/imprensa-embarca-na-pos-verdade-avalizada-pela-preguica-de-pensar/ voltar |
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