|
||||
| ||||
Acadêmico: José Renato Nalini "Tristes tempos em que se começa demolindo a estrutura de concreto, com
destruição da paisagem, para depois demolir a estrutura moral, com a
dissolução de laços familiares e parentais."
O antropólogo João Galera registrou, por meio de desenhos com nanquim, casas paulistanas com o intuito de preservar sua memória, "antes que acabem". Infelizmente, a sanha demolitória deste Brasil desmemoriado é pródigo em derrubar. A exposição "Antes que acabe" já acabou. Foi até 31 de julho no Museu da Casa Brasileira. Mas é um exercício que todas as cidades poderiam fazer. Sou do interior. Minha cidade, Jundiaí, já foi muito mais bonita. Duas ruas, principalmente, acolhiam residências caprichadas, construídas com amor por seus proprietários, para que suas famílias ali crescessem e permanecessem. Assim como acontece com as famílias, as construções também foram adulteradas. Algumas destruídas à noite, antes que o tombamento impedisse a família de transformá-las em estacionamentos. Outras foram alugadas e passaram a sediar repartições públicas. Impessoais e feias. Que tragédia a falta de amor pela arquitetura, pela memória e pela preservação da História! É óbvio que a juventude, sem parâmetros visuais arquitetônicos, não tem como desenvolver o sentido de pertencimento à sua rua, à sua vizinhança, à sua cidade. Por isso a pichação, a vandalização, a destruição daquilo que "não tem dono". Um exercício que os professores de História e Português poderiam desenvolver em suas escolas seria a reconstituição de fachadas de prédios que o alunado considerasse bonito. E redações para que pudessem contar o motivo dessa predileção. Se não ensinarmos às crianças o amor pela sua cidade, elas nunca desenvolverão o carinho com que têm de tratar as pessoas. Pois uma casa é o santuário da família. Ou do que restou dela, nestes tempos em que se dissolve o vínculo sem piedade, separando pais e filhos, inoculando o ódio e o desprezo onde só deveria residir o amor. O que restou da paisagem? O que restou do amor? Tristes tempos em que se começa demolindo a estrutura de concreto, com destruição da paisagem, para depois demolir a estrutura moral, com a dissolução de laços familiares e parentais. Sem dó nem piedade. Depois dizem que o homem é a primícia das criaturas e o único ser racional dentre as espécies… voltar |
||||
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562. |