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Acadêmico: José Renato Nalini "Quem se detém a encarar a palavra, é por ela inevitavelmente conquistado. Conquista definitiva, de cumplicidade que só se apura com o tempo."
A 24ª Bienal do Livro de São Paulo já produziu um efeito magnífico para a selecionada plateia de formadores de opinião que participou da solenidade de abertura. Foi o show de Maria Bethânia, cada vez melhor e mais inspiradora, a declamar, a cantar e a provocar a reflexão dos extasiados ouvintes de sua performance. Sua voz faz com que tudo revista encanto novo. Canções antigas adquirem colorido inesperado. Apelos se impregnam de emotividade mais intensa. Que privilégio participar desse momento mágico. Para além da beleza auditiva, permanece a responsabilidade de refletir sobre o que Bethânia ali nos legou. A mensagem de aluna da escola pública, que se viu nesse universo despertada para a transformação que só a palavra é capaz de propiciar a quem se propuser ouvi-la. Quem se detém a encarar a palavra, é por ela inevitavelmente conquistado. Conquista definitiva, de cumplicidade que só se apura com o tempo. A paixão pela palavra, qual fonte copiosa e infinita, continua a jorrar pela vida afora o precioso milagre do encantamento. Bethânia se lembrou com carinho de sua primeira professora. Pronunciou com respeito o seu nome. O nome reverenciado daquela que incutiu na artista o amor pelos poetas populares, cujos nomes também deveriam ser decorados guardados no coração e proclamados com veneração por todos os alunos, em todas as escolas, todos os dias. A escola pública produziu maravilhas e continua a produzi-las. No imenso universo das redes oficiais deste nosso Brasil tão heterogêneo e tão complexo, é a professora do estado ou do município a mais heroica das profissionais. A despeito das dificuldades, das incompreensões, da ingratidão e da falta de reconhecimento, quantas delas continuam a propagar o conhecimento, a difundir a sabedoria, a entusiasmar o aluno a desvendar o mundo e a persistir na busca do crescimento interior, que não tem termo definitivo, mas tem a duração de cada existência. Que bom seria que egressos da escola pública alardeassem, como o faz Maria Bethânia, o legítimo orgulho dessa proveniência que é a mais comum entre os brasileiros e que precisa tanto do reconhecimento, do respeito e do carinho de quem ainda considera a educação o maior desafio e a maior esperança da gente brasileira. (Jornal de Jundiaí 01-09 ) voltar |
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