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Acadêmico: José Renato Nalini "Quem sente a orfandade sabe que isso é real. E orfandade não tem idade. Ela machuca em qualquer fase da existência."
A mãe é a personagem principal na formação do destino do filho. Sente-se hoje, com incrível intensidade, a influência materna no traçado do destino de uma pessoa. Reverencio a mãe, a primeira e insubstituível mestra, a artífice do caráter de sua prole, a executora do mais autêntico e importante dentre os currículos: o currículo implícito ou oculto, cujo conteúdo são as mais relevantes normas para o convívio. As regras do bem viver. Bem viver que significa conviver. Saber respeitar o semelhante. Todos somos muito mais parecidos do que diferentes. Não é errado afirmar que somos irmãos. Ao menos, primos próximos, portadores de idêntica base genética. Mínimas as distinções do DNA que provou, cientificamente, inexistir razão para preconceito ou discriminação. Lembro-me das mães por inúmeros motivos. A falta que minha mãe me faz, após quase onze anos de partida. Ainda ouço os seus conselhos. Adivinho o que ela me diria em situações ora enfrentadas. Penso nas mães que têm a enorme responsabilidade de transmitir aos filhos as lições de vida para uma era de incerteza, de insegurança e de certo desalento generalizado em relação à insegurança em todos os aspectos. Não se sabe o que será o futuro, tudo o que era sólido - o capítulo dos valores - de repente se liquefez. Mais ainda: evaporou-se. Perdeu-se na atmosfera viciada de contaminação dos hábitos civilizados. Vejo que a descoberta de um texto inédito de Machado de Assis procura refletir a dor da perda materna. O nosso maior literato perdeu a mãe aos 9 anos. Para a vida toda levou esse fardo: administrar o vazio que a morte da pessoa mais importante em nossa existência deixa, e que nunca será outra vez preenchido. Já se anunciava o grande romancista, perito conhecedor da alma dos homens, nessa crônica/lamento: “Eu era pequeno, era feliz; porque não conhecia os enganos do mundo. Inocente corria por entre campinas, colhia flores e ia derramá-las sobre minha mãe... Oh! Eu sou infeliz, muito infeliz... Aos 9 anos perdi minha mãe, fiquei só no mundo; só como a rola sem ninho! Entrei no mundo das desilusões e dos desenganos... E haverá quem não chore uma mãe? Quem não sinta um vácuo no coração quando uma lágrima se desliza sobre o túmulo de uma mãe? Como eu sofro! Minha mãe, lá da mansão dos justos, lança a benção sobre teu filho, pede a Deus pela felicidade do padecente... Eu sem ti, chorarei sem consolação”. Quem sente a orfandade sabe que isso é real. E orfandade não tem idade. Ela machuca em qualquer fase da existência. Aqueles que têm a ventura de ter mãe, não economizem carinhos. Ela merece tudo e mais um pouco. Uma palavra a mais para as mães que têm responsabilidade redobrada nesta época em que os valores se fragilizam e desaparecem, deixando um travo amargo de desilusão. É preciso renovar a esperança em dias melhores. Os homens nasceram para crescer em felicidade. Não é fácil encontrar motivos para ter confiança no futuro. Mas o colo da mãe, refúgio blindado para o infortúnio, ainda é o ambiente mais propício para devolver ânimo e coragem. O Brasil é maior do que as crises. Confiemos em nossa infância e em nossa juventude. Mães: reforçai esse contingente, muni-o de fé e certeza de que um porvir menos plúmbeo nos espera, se soubermos construí-lo com trabalho, empenho e sacrifício. Não há quem substitua a mãe na capacidade que tem de moldar a personalidade da criança que gerou, amamentou, acompanhou e o acompanhará enquanto ela viver. E depois, como afirmou Machado de Assis, continuará com ele, a pedir a Deus pela felicidade do padecente. Por: José Renato Nalini (fonte: Correio Popular) | Data: 26/08/2016. voltar |
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