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Acadêmico: Gabriel Chalita "Não sei se há um amor à primeira vista ou se há desejo que vai se transformando em amor com o namoro, com o conhecimento. Não sei se há um amor maior, um namoro que foi muito melhor do que os outros ou se as comparações já são, em si, ruins."
Namorar é conhecer, é cortejar, galantear. Namorar é celebrar a presença mesmo quando a presença está ausente. É lembrar que se tem alguém para amar. É elevar. No início de um namoro, há o desejo e o medo. O desejo de que seja real o que parece onírico. O desejo de que seja eterno o pulsar mais valente do coração. O desejo de que seja correspondido. E aí vem o medo. O medo de que seja ilusão, apenas. O medo de que os defeitos do outro sejam impossíveis de serem tolerados. O medo de que os meus defeitos afastem a pessoa amada. Desejo e medo causam bagunça. Mas os inícios de namoro sempre trazem alguma bagunça. Bagunça o pensamento, o cotidiano, as escolhas. Uma bagunça boa, talvez. Lembrar as frases ditas. Lembrar os olhares. Lembrar os primeiros afagos. Mesmo a quem não assume, o romantismo faz um bem enorme. Há quem comece um regime, há quem se matricule em uma academia de ginástica, há quem compre roupas novas, cuide melhor do cabelo, da pele. Afinal, há alguém com quem dividir os dias. O tempo pode ser aliado ou não do namoro. A rotina pode ser deliciosa ou corrosiva. As palavras de delicadeza pronunciadas nos inícios não podem se esconder nos dicionários. Mesmo que o namoro não esteja no início, sempre haverá um início. O início de um ano, o início das férias, o início da primavera, o início de um dia. Há sentimentos que combinam com esses inícios. E, também, com as partidas. No início, quando um dos dois viaja ou quando apenas vai para casa, há despedidas carinhosas. Há um secreto desejo de que o tempo em que estarão separados passe rapidamente, e o tempo em que estão juntos não passe. Passados alguns anos, depois de muitas despedidas, depois de alguma segurança de que as despedidas são provisórias, as despedidas perdem o seu encantamento. Ou não. Há namoros que perfumam o cotidiano com os mais tenros dizeres. Independentemente se tudo começou ontem ou há 50 anos. Namoros em que um boa-noite é sempre colocado com a intenção de que quem eu amo tenha a melhor noite do mundo. E que um bom-dia seja a frase ideal para esclarecer que o meu dia é bom porque o outro existe dentro dele. Há quem esteja sem namorar há algum tempo. E há aquele que desacredita no amor. Talvez por incursões fracassadas em namoros insinceros. Talvez por abandonos ou por paixões que não foram correspondidas. Dor de amor é dor doída demais. Mas passa. Um dia, o dia diz que é hora de viver novamente sem a onipresença do amor que não me amou no meu pensamento. E outras possibilidades surgirão. Certamente, surgirão. Há ainda as teimosias do amor. Há gente que vê amor onde não há. Pessoas que projetam um amor em quem já tem o seu amor ou não demonstra nenhum desejo de reciprocidade. Namorar alguém e ser correspondido é elevação. Namorar alguém e não ser correspondido é desperdício. Não sei se há um amor à primeira vista ou se há desejo que vai se transformando em amor com o namoro, com o conhecimento. Não sei se há um amor maior, um namoro que foi muito melhor do que os outros ou se as comparações já são, em si, ruins. Não sei o que faz com que o cupido fleche alguém e determine que esse alguém terá algum senhorio sobre mim. Só sei que viver sem amor é viver sem o tempero mais saboroso que já se inventou. Amor est vitae essentia. Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 12/06/2016. voltar |
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