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ENTRE JOVENS
Acadêmico: Gabriel Chalita
A curiosidade dos participantes de uma palestra e o desejo de melhorar as coisas, contagiado pela energia dos jovens, é o tema do artigo do acadêmico Gabriel Chalita, publicado no jornal Diário de São Paulo.



Fui dar uma palestra para jovens universitários. Entre tantas.
Entre tantos jovens, reanimei minhas esperanças. Não que seja adepto do pessimismo, do derrotismo, das mágoas acumuladas por decepções com a conduta humana. Mas, vez ou outra, há cansaço. Há tantos desacertos que algumas manhãs parecem padecer de força suficiente para alimentar o dia que virá.
Era uma manhã. O tema da palestra, "A ética na construção do conhecimento". Logo na chegada, os olhares já apontavam para bons momentos. Jovens apinhados em todos os cantos. Nas cadeiras, no chão, nos espaços próximos ao palco. Tão próximos estavam eles naquela manhã. Agradeci a receptividade e comecei a prosa. Amparei-me em alguns pensadores, filósofos que se debruçaram sobre o tema. Fizemos uma viagem a tempos e espaços diferentes. Há inquietações que fizeram com que produzissem belas teorias sobre o conviver humano, sobre a conduta necessária para a conquista da harmonia.
Chegamos aos tempos de hoje. A amplitude da temática não se esgota em algumas horas. A ética é pauta para qualquer assunto da conduta humana. A ética é alicerce para construções sólidas. É inspiração e é hábito. É o caminho para o bem comum. Na política, nas relações empresariais, nas religiões, nas profissões, no professar crenças de tempos de respeito e encantamento. Ou se é encantado pelo estar no mundo ou dificilmente se buscará compreender as diferenças e a beleza em suas relações. É por isso que o belo e o bom são convivas de um mesmo banquete.
Na atenção e nos olhares dos jovens, nascia a minha oração de gratidão. Era bom estar ali. Era bom saber-me educador. Ofício da generosidade. O professor dá um pouco de si e um pouco do que sabe a cada encontro com os seus aprendizes. Dá e nada lhe falta. Dá e a ele se acrescem novos horizontes.
Lembrei-me do Papa João Paulo II quando, no encontro com os jovens na capital mineira, usou o nome da cidade para expressar o seu contentamento com a multidão que ali estava: "que Belo Horizonte". Que belo horizonte era aquela visão. Jovens. Sequiosos de vida. De futuro. Alistados no batalhão da esperança.
Terminei a palestra e vieram as perguntas. Profundas. Complexas. Sinceras. E as respostas que geravam outras perguntas. E o tempo foi insuficiente. E prosseguimos desobedientes. Era bom estar ali. Era bom beber nas águas ainda puras de tantas promessas de amanhãs.
Acabado o encontro, encontramos tempo para conversar durante a travessia até os portões da universidade. O diretor dizia que era preciso me liberar, que eu tinha uma agenda repleta. Repleto estava eu pela curiosidade daqueles moços. Linda a "Oração aos moços" de Rui Barbosa. Atravessamos juntos aqueles pátios entreolhando as nossas histórias com o desejo de melhorar as coisas, com o ânimo de animar o país, com a responsabilidade de quem sabe que a ética é coletiva e individual. É decisão de um grupo e de um indivíduo. Não quero entrar na distinção entre moral e ética. Quero apenas aplaudir os jovens. E agradecer.
Não tenho a ingenuidade de julgar que está tudo bem. Não. Definitivamente, vivemos uma crise aguda. Política. Comportamental. De valores. Mas, em outros tempos e em outros espaços, a humanidade já enfrentou esses amargores. E, docemente, prosseguiu. Flores brotaram em áridos caminhos, águas nasceram em regiões desérticas, pássaros rasgaram céus desabitados. Jovens compuseram canções, quando o silêncio forçado nos forçava a viver a ditadura.
Liberdade era o vento que soprava quando nos despedimos naquela manhã.
Ainda hoje vivo o restante daquele dia.





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