|
||||
| ||||
Acadêmico: Jose Gregori Além de saudar o patrono e fundador da cadeira, o novo acadêmico destacou a tarefa de "ver além e transmitir a boa vontade"
Nunca em minhas pretensões antevi cena como esta. Mesmo sendo hospede permanente do imprevisível, pois, sou devoto de Nossa Senhora do Acaso, não sei bem por onde começar. Talvez pela franqueza de confessar que a Academia não estava no meu horizonte de desejos até que uma generosa e irresistível conspiração de afetos intimou-me a sair do casulo e apresentar-me ao voto soberano dos seus acadêmicos. Não me faltava o desejo de fazê-lo, reconheço, mas é que considerava minha trajetória modesta e minha biografia praticamente encerrada e já sem ímpeto para grandes saltos, quando amigos e amigas daqui da Academia e de fora, foram reabrir-la, introduzindo esse capítulo que considero um dos mais honrosos. E que me trouxe um sentimento de jubilo. Jubilo é bem a palavra, melhor que euforia que tem um toque de espevitamento; jubilo é algo profundo que me alegra por dentro, me toma o coração e explode num sorriso permanente que não consigo controlar. É jubiloso ser distinguido por um colégio qualificado e independente que decide por razões auto-justificadas no âmbito exclusivamente pessoal e intocável de cada um dos seus membros. Especialmente quando se é recebido com palavras tão acolhedoras e tão generosas de José Renato Nalini, magistrado vertical, que sabe que a sentença é o fruto do diálogo da lei, com o fato, a prova e o discernimento do juiz. Daí a necessidade do juiz ser culto, tecnicamente preparado e, especialmente dotado da sabedoria das coisas e do mundo. É assim, exatamente assim que é Nalini que se fez articulista, professor e escritor, cujo alto e diversificado espírito, inspira, acelera e clarifica o pulsar dessa Academia. A Academia é uma sociedade sem ingerências externas. Daí, repito, meu jubilo, mas que é suficientemente autocrítico para avaliá-lo como uma escolha, além do campo de escol da literatura e dos que dela, por opção e talento, fazem ofício. Fui chamado a me apresentar à Academia mais por uma vida participada e quiçá atuante e agregadora que utilizou sempre a palavra, o diálogo, as idéias, como lastro, farol e instrumento, na dualidade verbo e ação, ação e verbo que foi, afinal, como conduzi minha vida. Junto - me agora as minhas confreiras e meus confrades, compreendendo o papel da Academia, ou melhor, dizendo, os papeis da Academia de Memória e Ação, cujo ritmo rima com o olhar para o presente, alongando-o ao futuro, mas preservando o que, do passado, merece ficar, no continuum dialético que mestre Machado de Assis sintetizou: “Nada é novo; o que é já foi e há de vir a ser.” Essa cadeira 15 que recebo para ocupá-la é um rio que vem de longe alimentado por sete figuras que a forjaram: Luiz Gama, como patrono, Alberto Faria, como fundador e, cinco ocupantes meus antecessores: Sud Mennucci, Américo Moura, Ernesto Leme, Paulo Pereira dos Reis e José Altino Machado. Todos tiveram a ligá-los o traço de interesse público, seja na vida ou nos escritos. Quase todos ocuparam postos públicos de caráter político e administrativo. Só eu sou paulistano; meus antecessores nasceram em outros estados: Bahia, Luiz Gama, Rio de Janeiro, Alberto Faria, ou cidades do interior paulista, Piracicaba, Sud Mennucci, Santa Bárbara do Oeste, Américo Moura, Bragança Paulista, Ernesto Leme, Piquete, Paulo Pereira dos Reis, Taubaté, José Altino Machado, mas o caráter exclusivamente regional não os marcou, pois, todos desbordaram para o interesse nacional. Deles todos, foi de Luiz Gama, patrono da cadeira, a biografia que terá atingido mais abrangência, no campo público, pois, confundiu sua vida com a causa da abolição. Viveu uma existência, nos seus cinqüenta e dois anos, com páginas que animariam um romance. Da Bahia, onde nasceu em 1830, veio para São Paulo vendido como escravo e, nos fins da adolescência, conseguiu enquadrar-se nos casos legais de excepcionalidade que permitiam, em situações raras, ganhar a liberdade, a alforria, mesmo antes da abolição. Com 17 anos de idade, aprendeu a ler e foi-se engajando na atividade forense voltada a defesa de criaturas que se amontoavam na legião dos esquecidos sem rosto, voz e vez na sociedade da época. Foi com seu talento jurídico mais intuitivo que acadêmico, pois, não atingiu o grau de bacharel que foi construindo, perante os juízes paulistas, uma espécie de jurisprudência da necessidade que tinha a apoiá-la sua vontade férrea e seus excepcionais dotes tribunícios. Podemos imaginar o que significou, numa época em que a escravidão circulava como moeda corrente e fincava suas raízes no próprio DNA da sociedade brasileira, que, em nome das pouquíssimas e deficientes leis protetoras, desprovido de apoios de massa ou de organizações mobilizadoras, como um Quixote de ébano, Luiz Gama ter conseguido a liberdade para mais de quinhentos cativos. A causa da liberdade é sempre a mais ilustre, mas merece ser magnificada quando obtida em circunstâncias tão adversas. Ao tempo das lutas libertárias de Luiz Gama, a condição do negro escravo era contabilizada como fator econômico que alicerçava a produção da riqueza nacional, pelo que, os que desejavam alterar esses termos, punham em risco a própria riqueza nacional. Mesmo sabendo hoje, pelas investigações precursoras de nosso confrade Jorge Caldeira que o Brasil não foi uma monocultura chapada, pois entremeada de bolsões comerciais e industrias, esse lado pioneiro e diversificado não penetrara ainda no coração humanista de sociedade. Por isso, essa luta, de Luiz Gama, ainda que levada aos pretórios forenses entrava em choque direto com a ordem estabelecida, a coisa decidida pelos tribunais, e as acomodações escapistas de que “afinal as coisas sempre foram assim”. Luiz Gama, pedindo justiça para seus irmãos de cor, era a voz discordante, solitária, insistente como um canto chão, reivindicando a alteração daquilo que todos aceitavam, até pelo hábito, como expressão da natureza das coisas. Sabemos, porém, que são essas vozes pioneiras e incompreendidas que, com a força que lhes vem lá do fundo da consciência ética, é que fazem a diferença. Não se resignam a pitadas de compaixão; jogam-se inteiras à causa que se transmuda em vida. São elas, afinal, que modificam a história e re-humanizam o mundo. A literatura de Luiz Gama, talvez não tenha o tamanho de sua luta civilizadora, mas, dentro da azáfama forense que devia ser seu cotidiano, teve vagares, para em 1861, escrever as “Primeiras Trovas Burlescas de Getulíno”. O pseudônimo vem de “Getulia”, nome de uma região do Norte da África, e o livro enfeixa versos críticos, as vezes satíricos, sobre temas e pessoas, especialmente políticos do tempo de Luiz Gama”. “Com sabença profunda irei cantando Altos feitos de gente luminosa Que a trapaça mexendo portentosa A mente assombra e pasma à natureza Espertos eleitores de encomenda Deputados, Ministros, Senadores Galfarros, Diplomatas e Chuchadores De quem reza a cartilha da esperteza” in “Lá vai verso” Desses versos fustigadores, passa a comovente carta que escreveu a seu filho Benedito, capitão militar, indicando a leitura da Bíblia e a famosa vida de Jesus de Renan, terminando por aconselhá-lo a ser, nas suas palavras, “republicano com foi o homem Cristo”. Luiz Gama, figura grande de energia e talento, despertou imensa admiração entre vultos importantes de nossa literatura, mas ressalte-se a do grande romancista Raul Pompéia, do clássico “Ateneu”, que confessava “votar-lhe o grande culto das lendas heróicas”, e que comparou a luta de Luiz Gama pelos infelizes a “uma candeia que ilumina as trevas do desespero”. Hoje em dia, é muito animador constatar que a vida de Luiz Gama vem sendo, cada vez mais conhecida, por obras e pesquisas sérias e elucidativas, como o recentíssimo livro da Professora Lígia Ferreira, “Com a Palavra Luiz Gama”, editado pela Imprensa Oficial. Esse crescente interesse ajuda a mostrar que a dinâmica da história brasileira, os pólos ativos de sua configuração, não se confinaram a protagonismos hegemônicos, mas se pluralizaram no esforço e participação de todas e diversificadas camadas da sociedade. Vida menos atribulada, mas sempre dedicada as letras, é a do fundador da cadeira 15, Alberto Faria. Carioca, nasceu em 1869, vivendo tempos em São Paulo, na Cidade de São Carlos onde redigiu o jornal “Arauto” e Campinas, dirigindo o “Correio de Campinas”. Em sua atividade literária deu sempre atenção as produções que o engenho popular, com impulso não livresco, reúne debaixo do conceito de folclore. Esse interesse pela produção popular alinhou-se ao escritor erudito, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, que entrou na controversa questão das Cartas Chilenas apoiando Tomaz Antonio Gonzaga, como o autor das Treze Cartas, assinadas sob o pseudônimo de Critilo, criticando o Governador colonial da província de Minas Gerais. Hoje a questão da autoria dessas Cartas Chilenas está pacificada com o consenso da crítica, que se trata mesmo de Tomas Antonio Gonzaga, como defendeu o fundador da Cadeira 15, Alberto Faria. Os três primeiros integrantes da cadeira 15, meus antecessores, Sud Mennucci, Américo Moura e Ernesto Leme, tiveram em comum a formação básica em escola pública, a tão celebre e saudosa Escola Pública, que alicerçou a formação cultural de várias gerações nesse país. Como esses três predecessores, milhares de outros tiveram essa iniciação sólida e enriquecedora na Escola Pública o que torna inquietante a pergunta que não pode calar, mas fica ainda com a resposta aberta: porque a educação pública competente, universalista e democrática, apesar do esforço de muitos homens públicos, se desmereceu tanto em nosso país? Os três predecessores atingiram posições de relevo: Sud Mennucci no campo de ensino público, Américo Moura, na filologia, Ernesto Leme no jornalismo, no magistério superior e na ONU. Sud Mennucci, nascido em 1892, escreveu sobre nosso patrono Luiz Gama, no estilo de pré-biografia enaltecedora e bem pesquisada com o título “O precursor do abolicionismo no Brasil” e escreveu também incontáveis trabalhos sobre ensino, destacando-se “A Crise Brasileira de Educação”, onde seu alvo crítico foi a transição sócio-econômica pelo qual passamos, na década de 30. O Brasil, alterando a economia, vinha transferindo a vida do Campo para Cidade, no início do processo de urbanização, mas a educação rural, relegada, ficará no esquecimento. A voz crítica de Sud Mennucci erguia-se para o território cinza, em que a educação tradicional do interior ficara abandonado o que bem ou mal funcionava, em proveito do “novo” ou “moderno” que ainda não ultrapassava o limbo da intenção sonhadora. Um dos seus livros denominou, sugestivamente, de “Discursos e Conferências Ruralistas”. Sud Mennucci foi um nostálgico, mas alguém que identificou o desequilíbrio recorrente de nossa cultura, que vez por outra, abandona o feijão concreto pelo sonho fugaz. O segundo predecessor, Américo Moura, nascido em 1881, foi professor de escola pública, deixou trabalhos sobre a língua portuguesa, como os “Ensaios de Filologia” e pesquisou e escreveu sobre as raízes e descendências de velhos troncos de famílias paulistas. A família “Maciel”, por exemplo. Formou-se em Direito, na celebre turma do Largo São Francisco que teve Ruy Barbosa como paraninfo no discurso conhecido como “Oração aos Moços”, missão, afinal, cumprida por Reynaldo Porchat, professor paulista, em razão de moléstia do grande baiano que não pode locomover-se a São Paulo. Fazia parte dessa turma, também, o Professor Soares de Mello, meu professor de Direito Penal e que foi membro dessa Academia. Ernesto Leme, terceiro predecessor, nascido em 1896, foi meu professor na Faculdade de Direito. Guardo-o na lembrança de homem formal e cerimonioso com a fala escandida e rascante de Bragança Paulista. Foi Presidente dessa Academia de 1971 a 1974 e foi Embaixador Especial do Brasil na ONU. Lá, na dimensão internacional, foi uma voz forte, ao condenar a posição privilegiada dos únicos cinco países que tem direito a veto na ONU, desfazendo, às vezes, por mero voluntarismo unilateral, decisões de centenas de outros países que não gozam desse esdrúxulo privilégio. Ainda na ONU, Ernesto Leme chamou, também, a atenção para temas tão atuais como, “refugiados”, “trabalho escra vo”, “liberdade de informação” e isso em 1954 assinalando, em suas palavras, que “tais preocupações estavam na tradição, - na verdade vou até mais longe em afirmar que são da essência de nossa cultura democrática, latina e cristã”. Paulo Pereira dos Reis sucedeu Ernesto Leme, nasceu em 1919, foi historiador que conduziu a fundo suas pesquisas que sustentaram estudos como “Colonialismo Português e a Conjuração Mineira” e o “O Indígena do Vale da Paraíba”. Nesse livro, na verdade dessa pesquisa, feito livro, Paulo Pereira dos Reis levantou pacientemente as características das várias tribos, melhor dizendo, das várias nações indígenas que viviam no Vale do Paraíba, acompanhando o nomadismo que muitas delas praticaram e seus usos e costumes. Nestas suas pesquisas, localizou as memórias de uma curiosa figura alemã, Ulrico Shmidi, ex-soldado a serviço da Espanha, que, em 1552, fez uma viagem, por terra, de Assunção, no Paraguai, a São Vicente, descrevendo os Tupis. Nessa descrição, o alemão informa sobre os Tupis: “eles comem seus inimigos e vice-versa”, mas, “na véspera de matá-los”, concedem, numa espécie de festa, algumas regalias, ao condenado, “mesmo uma mulher para que a tenha a seu gosto”. Meu antecessor imediato, José Altino Machado, nascido em 1924, foi um contista imaginoso e fértil. De vida intensa, companheiro de luminares paulistas da advocacia criminal, como Pedroso Horta e Castro Neves, encontrou vagares para escrever e publicar quatro livros de contos, “A Figura Refletida”, “A Outra Gessy”, “A Primeira Vez”, “Um Rosto na Janela”, num total de 82 contos editados. Sua escrita flui espontânea e, seguindo a caracterista do gênero conto, de desfecho sempre surpreendente, pois, contempla alternativa não suspeitada nas premissas. Muitos de seus contos são mosaicos primorosos e mostram bem o quanto as imposições de vida, num país ainda adolescente, como o Brasil, subjugam o talento literário que tem de ceder espaço para outras ocupações. José Altino Machado tinha recursos literários para se ter dedicado exclusivamente ao conto. E ponto. Mas relegou-o e partiu para o grande cenário público e foi governador do Acre, ao tempo território, Deputado Federal, Ministro de Tribunal de Contas e advogado de êxito. Mas, em tudo, se houve com brilho ostentando envolvente simpatia com cuja figura, leve e elegante, cruzei incontáveis vezes no Fórum Paulistano. A obra escrita, como toda obra de arte, tem de despertar algo mais que o convencional, o previsível, a imensa planície que se repete e não surpreende. Há de ter um toque de espanto. Parece-me que José Altino Machado, nos seus contos, sempre nos surpreende. Vai o leitor sendo levado a um caminho que o conduzirá a um termo que já adivinha mas, súbito, o que sucede é o que não foi pressentido. Da surpresa do epílogo dos contos de José Altino Machado disse nosso confrade Hernani Donato que prefaciou seu livro “Um rosto na janela”: o modo teatralmente surpreendente, deliciosamente malicioso com que Altino desfecha os dramas e ponto finaliza suas histórias”. No seu conto “A Figura Refletida” o personagem julga ter encontrado um “sósia”, com todas as reações simetricamente semelhantes, quase um clone, e quando, intrigadíssimo, está a ponto de descobrir a identidade do outro tão parecido e misterioso, descobre que é ele mesmo projetado no espelho. É assim, com a capacidade de projetar a realidade que, de repente, escapa para o plano onírico e surrealista, mas sem perder a verossimilhança, que José Altino Machado trama seus contos, com toques que, às vezes, ao lê-lo, fez-me lembrado Julio Cortazar e sua maestria caleidoscópica de misturar a realidade e o fantástico. Minhas Senhoras e Meus Senhores Vejo hoje a Academia Paulista de Letras com uma Diretoria extremamente imbuída de seus objetivos, muito bem presidida por nosso confrade Antonio Penteado Mendonça, um dos nomes que São Paulo inteiro freqüenta com suas crônicas inspiradas. Vejo a Academia também, como “lócus” onde pessoas com afinidades vindas dos livros e da literatura mas, também, de vivências convergentes, se encontram, por escolha e deliberação comum, para intercambiar idéias, experiências e saberes, entendendo que devem cultivar a língua portuguesa, sua correção e evolução necessária como um rio que receba a energia sempre renovadora de suas margens. Cada um dos integrantes da Academia contribui com a marca de seu temperamento e das circunstâncias que terá vivido, mas, além das diversidades que os individualiza, haverá o consenso de todos na defesa da língua portuguesa e da liberdade de expressão, dogma demogratica. Atualmente, nos dias que vivemos nesse século XXI de sobressaltos em que, praticamente, a preocupação central do mundo se tri dimensiona, na convivência com as desigualdades do desenvolvimento que ainda prendem milhões de pessoas na miséria e na incultura; no perigo do chamado aquecimento global da temperatura por força, especialmente da queima de carbono; e na violência e riscos crescentes da vida urbana de todas as cidades. Face a esse triangulo perverso, caberia indagar: uma Academia de Letras centrada no culto da língua e da literatura, pode dar relevância ao seu papel na sociedade? Sim, mais do que nunca é a resposta categórica. Recordo a frase de Jonh Donne ao ensinar, a quinhentos anos atrás, que “nenhum homem é uma ilha em si mesmo mas uma peça de um continente”. Essa idéia de alargamento das opções e de que o sal da terra não é monopólio de um setor, de uma seita, de um partido ou de um grupo, mas a resultante do somatório de um “continente” é o que faz avançar a humanidade. Assim, tanto é importante a renda e o emprego como geradores do desenvolvimento como a arte, as letras e a literatura gerando sonhos e esperanças. Especialmente, nesses tempos em que, como tem constatado nosso confrade Ignácio Loyola Brandão viajando ou peregrinando por todo o Brasil, há fervente desabrochar de interesse pelas letras em todos os setores, com congressos, encontros, simpósios e flip, flippes e bienais. Suponhamos que, por milagre, se resolvessem todas as preocupações do trinômio que tracei desigualdade, aquecimento e violência. Com tudo solucionado, restaria sempre a civilização. Restaria o pensamento, a cultura e a preocupação do que fazer delas. E o pensamento, a literatura, o amor às idéias é algo que deve ser imorredouro na criatura humana, pois, esses, afinal, são os instrumentos permanentes para procurar as chaves simbólicas de nossa existência. Jamais uma equação econômica ou matemática, ou a ganância ou o consumo serão suficientes para explicar a estrutura da célula humana, quando sabemos que essa célula, ama, odeia, renuncia, ambiciona, busca a transcendência no desempenho do que lhe é específico: a dignidade humana. O conjunto delas sempre almejará uma libertação que a livre de dúvidas na procura de algo que traga conforto, até porque, nascemos com uma tendência inesgotável de curiosidade. E a arte, as letras, a literatura, tanto na poesia ou na prosa, e no papel impresso ou no “bite” virtual, é o campo por onde essa curiosidade deve transitar. É dos últimos dias, a entrevista ao jornal “O Globo”, em que Lygia Fagundes Telles, estrela guia das letras brasileiras, evocando Rimbaud, disse que “é preciso ser vidente”. E o que é ser vidente? Responde Lygia: “É abrir a cortina do tempo e ver além dele. Aquele que vive plantado em seu espaço e em seu tempo não consegue ver além”. Minhas senhoras, meus senhores E é esta a tarefa, e esta a nossa tarefa: ver além. Perceber o que, na dimensão pessoal e da vida em sociedade, devemos fazer para que cada um possa, no seu espaço, transmitir “a boa vontade” da lição bíblica para que, no nosso país, possamos reforçar expandir, e consolidar a Democracia, que passo a passo, estamos construindo, isto é, a solidariedade que, partindo do Brasil, se faça rede planetária, no entendimento que cada pessoa não está no mundo só para si; está também para os outros. E que a felicidade dependerá de como equilibrar a dimensão pessoal com a social. E a melhor e mais eficiente balança para conquistar esse equilíbrio são os Direitos Humanos. Muito obrigado. voltar |
||||
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562. |