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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO PAULO BOMFIM
Acadêmico: Celso Lafer
O poeta e acadêmico Paulo Bomfim recepciona o colega Celso Lafer e comenta suas memórias sobre a cadeira 23.

As ondas do Báltico trazem às praias paulistas a genialidade de uma família.
Sementes da Lituânia brotam num quadro de Segall e frutificam na saga dos Lafers que aportam em São Paulo de Piratininga.
E tudo principiou no Largo de São Francisco onde o pai transmite ao filho o amor à Justiça e à Liberdade; o Largo se alarga ao Arouche quando as portas acadêmicas se abrem para saudar a chegada de Celso Lafer.
Paralelamente querido confrade, quatro destinos predestinados entrecruzam-se em Araraquara em torno da Chácara de meu bisavô Carlos Baptista de Magalhães.
Em épocas diversas, sua mãe, minha mãe, Gilda de Mello e Sousa e Ruth Cardoso fazem os trilhos da Araraquarense se encontrarem num universo de amor e idealismo.
A Cadeira 23 faz parte de meu mobiliário sentimental.
Seu fundador Monsenhor Manfredo Leite casou meus pais, batizou-me na Igreja da Consolação e foi meu eleitor em 1963.
Maior amigo do avô Sebastião Lebeis, um santo agnóstico, acompanhou a vida de minha família em momentos de alegria e de tristeza.
Cavaleiro exímio, cavalgava todas as manhãs nas redondezas do educandário que dirigia em Vila Mascote.
Grande orador sacro abençoou os jovens que partiam com seus sonhos para as trincheiras de 32.
Diretor do Colégio do Carmo, seus restos mortais repousam na Ordem Terceira e sua lembrança acompanha os passos do poeta.
Seu sucessor na Cadeira 23 foi o professor Fernando de Azevedo que tomou posse envergando o fardão da Academia Brasileira de Letras.
Quando o ilustre sociólogo e educador candidatou-se a primeira vez a este sodalício, como era de praxe na ocasião, submeteu o discurso que faria ao presidente Aristeu Seixas.
Ambos de gênio forte se desentenderam a respeito de alguns tópicos de sua oração de posse.
Fernando de Azevedo retira a candidatura e Aristeu Seixas indica meu nome. Assim, curiosamente, fui eleito para vaga de vivo.
Na ocasião, lancei Fernando de Azevedo para Intelectual do Ano “Troféu Juca Pato”.
Futuramente tive a alegria de participar de sua eleição, onde agora se repete o caso de um acadêmico primeiro tomar posse na Academia Brasileira e, posteriormente, em nossa Academia.
Sucedendo a Fernando de Azevedo, é eleito o médico e historiador Lycurgo de Castro Santos Filho, que presidiria esta casa e o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo com raro brilho.
Prosseguindo o destino histórico desta cadeira elegemos então Antonio Ermírio de Moraes que tive a emoção de saudar.
Manfredo Leite e ele unem-se nas mais belas lembranças de minha juventude.
Saudando Antonio Ermírio saudei a vida e a obra de meu antigo colega.
Amizade nascida nos anos 30 nos bancos do Liceu Nacional Rio Branco.
Para substituir um homem insubstituível, só alguém da dimensão de Celso Lafer, que recebo com o mesmo entusiasmo que recebi seu antecessor.
Com Celso Lafer a filosofia ilumina nossas tradições.
Humanista e industrial como Antonio Ermírio, é homem raro nestes dias massificantes em que máquinas se humanizam e os homens se mecanizam.
Quatro luzes marcam os pontos cardiais de sua Rosa dos Ventos: o pai, Jacob Lafer, o tio Horácio Lafer, o sábio Miguel Reale e Hannah Arendt a estrela guia.
A chácara do General Arouche, primeiro diretor da nossa primeira faculdade, engalana-se para receber uma das glorias da São Francisco.
Aquele que comandou de maneira notável o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e o Ministério das Relações Exteriores.
O Livre Docente de Direito Internacional Público e professor titular de Filosofia do Direito torna-se lenda na lembrança dos alunos fascinados pelo mestre.
Na magia desta noite, gostaria de lembrar que os caminhos daquele que dá nome a este logradouro e Celso Lafer se encontram na distância.
Ambos professores da São Francisco e ambos industriais.
Arouche instala em 1828, no burgo paulistano, fábrica de tecidos empregando um mestre, seis oficiais, um aprendiz e vinte mulheres tecelãs.
Nesse local e na Casa Verde, faz surgir a primeira plantação de chá que celebraria rituais acadêmicos de cordialidade.
Na cidade transfigurada em Cosmópolis, ouvindo ao longe o marulhar do Báltico, invocando Miguel Reale damos a Celso Lafer as boas vindas a esta casa que sempre foi sua.



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