Compartilhe
Tamanho da fonte


DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO JÚLIO MEDAGLIA
Acadêmico: Roberto Duailibi
O acadêmico Julio Medaglia recebe o colega Roberto Duailibi, destacando sua trajetória e sua paixão por frases, que renderam nove livros e um aplicativo para tablets e celulares.

Saudação ao novo acadêmico Roberto Duailibi

Exmo. Sr. Presidente da Academia Paulista de Letras Prof. Gabriel Chalita
Senhoras e senhores aqui presentes
Prezados colegas desta Casa

O antigo ocupante da Cadeira de Nº 3 desta Academia, Mário de Andrade, a qual hoje tenho a honra de ocupar, levaria um susto se aqui chegasse para assistir à posse de um novo membro especializado em criar pequenos filmes, para serem veiculados via satélite (satélites esses há milhares e milhares de quilômetros de distancia do Largo do Arouche), feitos para provocar pessoas a adquirirem determinados bens de consumo.

Mário, que passou toda sua vida escarafunchando sertões, matas, aldeias, cafundós deste Brasil afora na busca de manifestações puras, espontâneas, criadas por pessoas ingênuas, aparentemente incultas, e que, por seu trabalho, ganharam inusitado status cultural, transporia rapidamente esse susto e saudaria, melhor que eu, a chegada a esta Casa do novo confrade, Roberto Duailibi.

Cito este fato para lembrar a todos que a APL não é e nunca foi um mausoléu da criatividade paulista, uma instituição com olhos voltados apenas para o passado e a personagens longínquos, mas dialoga, sempre através da mãe - palavra, com a inteligência, a criatividade e os meios de expressão contemporâneos, expostos das mais diversas maneiras - e em grande estilo!

Quando no início do século passado começaram a surgir os veículos eletrônicos de comunicação de massa, a reação das sociedades foi diversa.

Na Europa criaram-se empresas para-estatais para administrar rádios e TVs as quais foram correndo buscar seus ídolos do passado e seus legados culturais para preencher suas programações. Assim, naqueles países, os novos meios eletrônicos se tornaram veículos de antigos veículos do teatro, do concerto, do livro, do cabaré etc. Aqui não. Como o Brasil não possuía maiores e mais pesadas tradições, inibidoras de novas ideias e procedimentos de criação, os operadores desses novos meios trataram logo de brincar com as engenhocas eletrônicas, semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos.

Ou seja, esse nosso rádio e TV lúdicos, se deram conta muito rapidamente que uma provocação através dos veículos eletrônicos, incentivaria a aquisição de bens e movimentaria a economia nacional. Mas, de repente, a coisa mudou. Em vez de meras gracinhas sonoras, televisivas ou impressas, feitas para excitar nossos desejos consumistas, criou-se no Brasil uma legião de super-profissionais publicitários que aceitaram o desafio de produzir pequenos eventos dramatúrgicos, com elevadíssimos investimentos, alta profissionalidade, muita criatividade, e elevado nível artístico.

Filmetes que se assistia aqui entre um capítulo e outro de uma novela, ou jornal, hoje são exibidos em concorridos festivais internacionais.

E foi nesse momento e nessa atividade que Roberto Duailibi se tornou um mestre, um revolucionário.

Em 1968, ao lado de outras duas brilhantes cabeças, as dos espanhóis Petit e Zaragoza, Duailibi operou uma transformação na área, introduzindo um novo tipo de inteligência num ramo que mesclava a alta criatividade com o raciocínio empresarial.

A partir de sua redação de um projeto publicitário, sua mente abrangente estendia a ação a um completo evento dramatúrgico que envolvia cinegrafistas, iluminadores, maquiadores, atores diretores de cena algo semelhante ao que ocorria com os geniais produtores de Hollywood. Hoje quando se vê livros sobre filmes antológicos de um Billy Wilder ou Hitchcock, que reproduzem scripts, impressos em mal ajambradas folhas de papel, repletas de rabiscos e até sujeiras, mal se imagina que dali surgiriam espetáculos feiticeiros que iriam fazer parte afetiva de nossas memórias.

E mais. Se o Brasil produz hoje uma televisão que, do ponto de vista de linguagem, é a mais dinâmica e fluente do mundo, isso se deve à influência que a publicidade exerceu sobre os profissionais do vídeo-tape. E podemos afirmar também que, se o cinema brasileiro atual ganhou agilidade, naturalidade narrativa e elevado nível profissional, mesmo não tendo se industrializado como nos Estados Unidos, sua linguagem ganhou essa dinâmica graças aos profissionais egressos da moderna TV que passaram a fazer também filmes. Ou seja, uma dupla influência da publicidade, portanto.

Se, para fora, a empresa de Duailibi foi das mais premiadas internacionalmente aliás, a primeira da faturar o cobiçado Leão de Ouro de Veneza - nacionalmente pode-se dizer que foi também uma verdadeira maternidade de outras agências. Grande parte das recentes e bem sucedidas empresas de publicidade nacionais foram criadas por profissionais egressos da DPZ. Alem do reconhecimento e respeito que tem por parte dos profissionais da área e das empresas que com ele trabalharam, Duailibi recebeu também as mais diversas homenagens.

Foram prêmios, ocupação de cargos, alguns honoríficos de diversas instituições como a de conselheiro da Bienal de São Paulo, por exemplo ele deixou também registradas suas ideias em inúmeros livros que abordam os mistérios da criação em sua área de atuação.

Além disso, Duailibi possui uma curiosa obstinação que se interliga diretamente com sua atividade profissional. Como se sabe, na publicidade, o genial criador é aquele que consegue, em apenas 30 ou 60 segundos, elaborar uma ação, com a suficiente provocação e sedução para vender um produto.

Assim, ele desenvolveu pesquisas no decorrer de sua vida para identificar frases, citações, adágios ou ditados populares igualmente curtos, que, em pouquíssimas palavras, também revelam grandes sabedorias, ensinamentos de impacto ou desafios.

Seus 9 livros estão repletos de instigantes provocações em forma de pequenas frases, tão inquietantes quanto aquelas ideias que ele coloca em nossas casas via TV, rádio ou impressos para fazer a gente acreditar que, comprando determinado sabonete, a felicidade completa chegará às nossas vidas.

Não tenho duvidas que uma mente com tais características irá enriquecer os diálogos de nossa Academia e trazer novas visões da cultura e da inquietação social do Brasil e do mundo de hoje.

Seja bem vindo à esta Casa, querido amigo Roberto Duailibi.


Júlio Medaglia

São Paulo, 20 de agosto de 2015



voltar




 
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
Imagem de um cadeado  Política de privacidade.