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DISCURSO DE POSSE
Acadêmico: Roberto Duailibi
Graciliano Ramos dizia que “Entre a gramática e a censura o escritor sempre encontra seu caminho.” Deixo essa frase a todos como inspiração de vida. Hoje é um dia especial para mim, estou emocionado, honrado em fazer parte desse seleto grupo, feliz por ser um membro da Academia Paulista de Letras. Sinceramente, meu muito obrigado!

Excelentíssimo Acadêmico Gabriel Chalita, Presidente da Academia Paulista de Letras;

Excelentíssimos membros da Diretoria da Academia Paulista de Letras;

Excelentíssimas autoridades aqui presentes, que tiveram a delicadeza de incluir minha posse em suas agendas.

Confreiras e confrades acadêmicos;

Minha querida família, em especial minha esposa Sylvia, cujo apoio constante me permitiu enfrentar momentos em que tudo parecia insuperável;

Querido maestro Julio Medaglia, amigo de tantos anos, obrigado por suas gentis palavras. Elas são musica para meus ouvidos.

Amigas e amigos presentes que sempre acompanharam minha carreira Os americanos, em seus quartéis, têm uma recomendação a todos os que são convidados a dar palestras: “Comece dizendo o que você vai dizer, diga o que tem a dizer; e termine dizendo o que você disse.”

Fiquei muito feliz em ser escolhido pelos membros da Academia Paulista de Letras, ainda mais para ocupar a cadeira de uma pessoa tão brilhante e de biografia tão digna quanto o doutor Paulo José da Costa Junior, um homem que não tive o privilégio de conhecer a não ser pelo noticiário e pelo relato agradável de amigos.

Tenho certeza de que sua aura ainda habita este ambiente, que sua contribuição para a preservação de nossa língua será sempre lembrada. Assumo com toda honra o lugar do nosso querido Paulo José da Costa Junior, um grande advogado, apaixonado pelo direito, professor emérito, voz ativa em todas as mudanças jurídicas importantes, fonte obrigatória em toda reportagem vinculada à jurisprudência em sua área de atuação.

Antes de falar especificamente sobre ele, entretanto, me sinto obrigado a reverenciar a todos os que já sentaram e honraram com suas ideias e feitos a cadeira 21, como seu primeiro ocupante, Álvaro Guerra, carioca de Piraí, colaborador de muitos jornais. O sucedeu Roberto Cochrane Simonsen, santista formado na Escola Politécnica e autor do livro História Econômica do Brasil.

Na sequência, vejo o gaúcho Alegrete José de Freitas Vale, homem do direito que fundou a lendária Vila Kyrial, referência na cultura literária da época e que era frequentada por nomes como Lasar Segall, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, entre tantos outros. Ele também usava o pseudônimo Jacques D’Avray e escreveu, por exemplo, a obra L’Étincelle, à qual Coelho Neto se referiu como um evangelho de dor e glória.

Plínio Barreto, de Campinas, foi outro ocupante da cadeira 21. Jornalista frequente em O Estado de S.Paulo, o nosso Estadão, escreveu inúmeros textos e livros, como Páginas Avulsas, prefaciado por Antonio Cândido. O sucedeu Ibrahim Nobre, que teve papel destacado na Revolução Constitucionalista de 1932.

Por seu envolvimento político acabou preso e exilado, retornando apenas em 1947, por ocasião da inauguração do prédio do antigo Banespa, na praça Antonio Prado.

Nesse dia, a ele foram pedidas algumas palavras de improviso e Nobre disse de pronto:
“Guardai silêncio
Que no peito enjaulo
Ante a paisagem
Que daqui se avista.
O chão, quem sabe,
Pode ser São Paulo,
Porém o homem
Já não é paulista”.

Do alto daquele que era o mais alto edifício da cidade ele profetizou o que se tornaria a nossa São Paulo, uma capital do mundo, na qual se desconhecem as origens, os limites, na qual se é impossível represar guetos ou tendências ou deixar de aceitar regionalismos ou caminhos culturais. Nos tornamos uma cidade do mundo, uma grande metrópole.

Leonardo Arroyo de São José do Rio Preto sucedeu Ibrahim Nobre. Um jornalista que atuou na Tribuna de Santos, Folha da Manhã, Jornal de São Paulo, que escreveu livros para todos os públicos, inclusive infantis, como Estórias do Galo e do Candimba e Você foi à Bahia.

Antes do nosso querido Paulo José da Costa Junior também sentou-se na cadeira 21 Odilon da Costa Manso, que nasceu em Casa Branca, foi outro homem brilhante do nosso Direito, deu aulas de Direito Nacional na PUC e também esteve como voluntário na Revolução de 32.

Vejam, portanto, quanta responsabilidade me atribuem neste momento, que considero de glória.

Mas cabe aqui, com toda eloquência, homenagear meu antecessor, o doutor Paulo José da Costa Junior.

Era um homem simples, abnegado, que dava atenção a todos, que mantinha com seus alunos uma relação de amigo, mais que de mestre.

Nos finais de semana gostava de ir para sua fazenda no interior paulista. Apaixonado por cavalos, criou o haras Pajoco, uma brincadeira com suas iniciais e só deixou de cavalgar por recomendação médica pouco antes de sua morte.

Em torno do seu nome se formou uma das mais representativas bancas de advogados da cidade, um local de tradição advocatícia, que passou às mãos do filho Fernando.

Trata-se da terceira geração de advogados da família, uma tradição que deve ser perpetuada, na medida em que os netos do doutor Paulo pretendem seguir seus passos no direito.

Doutor pela universidade de Roma, doutor Paulo ensinou em instituições italianas, na Universidade de São Paulo, onde chefiou o departamento de Direito Penal e em outras faculdades brasileiras. Tornou-se conhecido do público ao comentar, em emissoras de rádio e televisão, casos de grande repercussão. É de sua lavra, por exemplo, o livro “Crimes Famosos” no qual analisa delitos notórios como “O crime da rua Cuba” e “O maníaco do parque”. Escreveu também sobre outros assuntos e fez uma autobiografia.

Era considerado um dos membros mais assíduos e dedicados da Academia Paulista de Letras. Paulo José da Costa Junior era cidadão paulistano, de Itatinga e cidadão italiano.

Doutor Paulo partiu aos 90 anos, mas perpetuou sua biografia com seu legado de paciência e carinho com que sempre tratou seus alunos, amigos e parentes. Teve quatro filhos, oito netos e dois bisnetos. Os filhos Fernando José da Costa e Paulo José da Costa Neto, Rui Alexandre Costa e Paola Adriana Costa certamente devem se orgulhar muito dos feitos do pai.

Depois de sua morte, para se ter ideia de seu carisma, alguns de seus alunos, reconhecendo seu caráter e papel formador, criaram no Facebook uma página como forma de homenageá-lo. Os seguidores são ex-alunos, professores, colegas de profissão, admiradores de sua obra, gente que conviveu e pode desfrutar de seus ensinamentos e experiência, gente que de alguma forma teve na formação pessoal muito do que ele sempre pregou.

Formado pelas Arcadas na Turma de 1946 era titular da cadeira de Direito Penal da faculdade. Professor, livre docente pelas Universidades de São Paulo e Roma, autor de inúmeros livros de Direito e criminalista reconhecido no meio jurídico e empresarial.

Desde jovem, ele se mostrou um apaixonado pela literatura brasileira, foi um estudioso da História da Academia Brasileira de Letras e para minha felicidade, foi meu antecessor na cadeira número 21 da Academia Paulista de Letras.

Encerro aqui minhas palavras, emocionado, sabendo que tenho pela frente uma enorme responsabilidade, a de honrar cada um desses nomes, de honrar a cada um dos membros da Academia Paulista de Letras que neste momento me conduzem à condição de acadêmico.

Tão logo me chegou a notícia de minha indicação custei a acreditar, pois sinceramente não me sinto à altura de pertencer a esse panteão.

Olho ao lado e vejo nomes que para mim são referência, muito dos quais tenho o prazer da convivência e posso, para meu orgulho, chamar de amigos. Vejo-os como patrimônios de nossa cultura, gente séria que de fato trabalha e zela pela preservação de nossa língua, pessoas como Lygia Fagundes Teles, Ruth Rocha, meu vizinho Celso Lafer, Antonio Mendonça, Walcyr Carrasco, Mauricio de Souza, Ignacio de Loyola Brandão. Gabriel Chalita, Julio Medaglia, meu médico Raul Cutait, José Pastore, Miguel Reale Junior, Eros Grau, Bolivar Lamonier, Dom Fernando e todos os demais membros desta academia, que aqui chegaram por méritos e reconhecimento ao excelente trabalho que estão realizando.

Consciente dessa minha condição, encaro minha escolha como uma homenagem aos milhares de redatores publicitários. Àqueles que, nas agências de publicidade, nos departamentos de propaganda dos clientes e veículos se dedicam a esse ofício, que não tem hora de começar nem de acabar, cujos desafios continuam antes e depois da hora do expediente, no meio do banho, durante o café da manhã, no jantar, no meio do sono.

Ideias nunca param, surgem assim, inesperadas.

Por isso convém ter sempre à mão uma caneta, um bloquinho de anotações, um gravador. As ideias são fugazes e é bom não deixá-las escapar. Quase sempre surgem em horários impróprios, assim, num lampejo divino que se expressa numa frase, numa imagem, num gesto.

Me considero, portanto, um redator. Eu sou um proletário da palavra, que sempre lutou pela preservação do vernáculo e suas inovações positivas. A meu favor posso apenas e tão-somente assegurar que amo as frases e as palavras e a independência que elas proporcionam.

Sou fascinado pelo valor das frases que resumem pensamentos e intenções. Muito antes dos 140 caracteres entrarem na moda, já cultivava o valor da concisão. Os livros de frases, que começaram como ferramenta de trabalho, e que já são oito, hoje se transformaram num banco de dados de mais de 600.000 frases e um magneto para pessoas que amam as letras em todo o mundo. Com o apoio de uma eficiente equipe, onde se destaca a Marina Pechlivanis, os livros se transformaram em aplicativos, mas continuarão impressos.

Em dados momentos, propaganda e literatura se confundem. Os personagens, as frases, os slogans, criados pela boa publicidade, por exemplo, se incorporaram de tal maneira à cultura popular, ao nosso dia-a-dia, que adquiriram vida própria.

Mas o que é a boa propaganda? No campo tênue da comunicação, sempre combati a mentira, o exagero, a omissão da verdade. Minha geração fundou o Conar, instrumento muitas vezes de indignação das pessoas contra as falsas promessas, a concorrência desleal, a irresponsabilidade comercial. Essa sempre foi minha luta, e em seus embates vivi episódios pitorescos, incompreensão de colegas e clientes, mas, no final, o apoio de ambos.

Ao lado de José Zaragoza e de Francesc Petit, meus sócios e amigos, formamos a lendária DPZ, que se tornou uma referência da verdade, da originalidade, do bom gosto e da moral nos negócios. Criamos outros personagens que aparentemente foram imortalizados pela cultura popular. Sei que têm vida fugaz, que se esgotam quando o produto se torna obsoleto ou anacrônico. Se muitos personagens literários ganharam as telas, nós, por meio dos nossos, também tivemos sucesso e chegamos ao público através de nossas mensagens de alerta, sempre com tom de ousadia, sarcasmo, humor e irreverência, pois acreditamos que a verdadeira criatividade sempre rompe padrões.

Os próprios acadêmicos, pela sua presença na vida cultural brasileira, são personagens que se incorporaram à nossa vida, se tornaram mitos. Assim, ao chegar às primeiras reuniões na Academia, além dos inúmeros amigos de longa convivência, aqui estavam outros que eu já conhecia através dos livros ou através de suas oratórias, ou ainda simplesmente por suas famas. Era como se a convivência com todos fosse de dezenas de anos.

Por sua força, a propaganda é, sem dúvida, uma das maneiras de se preservar a língua de um povo ou evitar que ela seja degradada. Sempre lutei pela prevalência da língua portuguesa, nesse mundo hoje tão repleto de palavras em inglês, como ontem era o francês. Nunca cheguei ao exagero dos portugueses, que lutam denodadamente contra os neologismos da informática, por exemplo.

Esse meu discurso de entrada na Academia Paulista de Letras foi preparado para contar um pouco dessa minha trajetória, dos meus inúmeros e profícuos contatos com as letras. Vi, por versões passadas, discursos memoráveis de amigos, muitos dos quais aqui presentes e aos quais agradeço novamente a presença. Sempre aprendi que o tempo custa muito e é preciso dizer as mensagens em poucas palavras, sem perder a objetividade.

Me formei pela Escola de Propaganda de São Paulo e tive a chance de trabalhar ao lado de nomes consagrados de nossas letras, como Renato Castelo Branco, Orígenes Lessa, Said Farhat, Antonio Bandeira, Ricardo Ramos, Geraldo Santos, Julieta Godoy Ladeira e Hernani Donato, que foi membro ativo dessa nobre Academia. Fui amigo pessoal de Emil Farah e Jorge Medauar.

A atividade literária, afinal de contas, sempre favoreceu os que têm um lado mais forte nas ciências humanas, como o direito, jornalismo, a publicidade, a diplomacia, quando não a própria essência da inspiração, a poesia, como um dom divino, um bafejo supremo e que a muitos atinge.

Ainda na cidade de Campo Grande, onde nasci, tive meus primeiros contatos com a palavra. Longe de tudo, com poucas condições, a cidade tinha um clima quente e modorrento, onde os dias custavam a passar e pouco havia a fazer, principalmente por uma criança ávida pelo conhecimento, a não ser correr e brincar pelas poeirentas ruas de terra... e ler.

Meu pai era um libanês que chegou ao Brasil como tantos outros. Ele escrevia muito bem em árabe e francês. Sustentava uma família de sete filhos com o apoio incansável da mulher, Cecília. Ele sempre nos obrigava a ler e a decorar poesias, uma por semana, em português. Assim que a tínhamos na ponta da língua declamávamos num almoço ou jantar.

Mas foi em São Paulo que eu realmente aprendi a ler.

Vivendo com minha avó Ada Vianello, e Tia Ignês, aprendi lendo o jornal “O Estado de São Paulo”.

Minha avó dizia “Nenhum neto meu volta a Mato Grosso sem ler O Estado inteiro”. Desse período de minha vida que eu poderia chamar de “italiano”, lembro-me do orgulho que nos dava ter um tio que atuava no teatro, Nino Nelo, e um primo que atuava no rádio, Edmundo Gregorian.

As condições de minha infância eram difíceis, mas não sofríamos privações. Meu pai viajava pelo interior escaldante, na nobre atividade de vendas e minha mãe administrava um comércio, no que hoje é considerado o centro da cidade. Naquele tempo, as ruas eram de terra e minha lembrança destaca apenas o caráter de solidariedade que existia entre os patrícios. Todos se uniam e se ajudavam, todos com muitos filhos e enfrentando os mesmos problemas.

Daquela época, uma de minhas melhores lembranças é a biblioteca da cidade. Mesmo sem ter grandes recursos, havia uma bibliotecária que se esmerava em seu trabalho e dava ao lugar uma aura de templo. Havia um silêncio quase sagrado, uma iluminação tênue, um cenário perfeito para viagens e aventuras pelos livros.

Talvez por esse gosto precoce por livros e por reconhecer a sua importância, mantenho espontaneamente quatro bibliotecas próprias. Uma delas fica em minha casa, onde convivo com aqueles livros de consulta permanente, os companheiros de jornadas, que podem ser livros de instruções ou poesia (a grande inspiração), ou grandes romances, ou as novidades de autores recém-chegados que é preciso sempre conhecer. Há ainda aqueles livros que visam agradar aos olhos, com os incríveis recursos atuais de produção de conteúdo e industrialização, obtidos através do desenvolvimento das máquinas fotográficas e das câmaras, dos processos de impressão e do desenvolvimento de tintas de alta precisão.

Cultivo também uma grande biblioteca sobre a imigração libanesa para o mundo, mas focada no Brasil. Nela cultivo grande iconografia e inúmeros mapas, além de peças orientalistas que nada têm a ver com a imigração propriamente dita, mas são sim uma visão romântica europeia sobre o Oriente.

Uma terceira biblioteca junta literatura profissional, ficção e, certamente, a maior coleção no Brasil sobre livros de frases, provérbios, pensatas, em várias línguas. Nessa tarefa, organizei-me com o apoio de uma bibliotecária excelente, Célia Toron, e uma estudiosa, Marina Pechlivanis.

E, finalmente, no Rio de Janeiro, onde também temos uma residência, cultivo livros sobre a história da cidade, desde sua fundação, além de ampla iconografia e memorablia carioca.

Quando minha família mudou-se para São Paulo, fomos morar na Vila Mariana, na rua Eça de Queiroz. Sempre curioso e ávido por conhecimento, fiz questão de buscar saber quem era afinal Eça de Queiroz, essa figura cuja pintura, na parede de uma padaria na esquina com a rua Domingos de Morais, me fascinava. Talvez isso me tenha despertado para a busca de sua obra tão rica.

Acabei lendo quase todos os seus livros, como O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A Cidade e as Serras. Afinal, Eça era meu vizinho...

Foi assim, pesquisando, lendo de tudo, decorando, escrevendo que, como tantas outras pessoas de minha geração, aprendi a gosta de ler e escrever.

Recebendo notícias de rádio, trocando mensagens com amigos ou correspondentes, por meio de cartões postais e cartas, buscando informação nos livros, nas revistas e jornais. A partir desse universo construí minha vida, minhas relações, meus amigos, minha família.

Graciliano Ramos dizia: “Comovo-me em excesso, por natureza e ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões”. Essa frase resume o Roberto Duailibi que eu ainda mal conheço ao longo dessas décadas.
Tudo que me caia às mãos eu lia, todo tipo de livro, de literatura, de poema, de texto. E, por viver numa loja, todo tipo de propaganda, que devorava como se tivesse sido feita por mim. Tentava, claro, me aprimorar, ler o que mais me falava à alma. Essa formação, e a generosidade de professores, me deram a chance de ser orador da minha turma ainda no curso ginasial, no Colégio Benjamin Constant, antiga Deutschshule Vila Mariana. Sob o aspecto escolar, sempre me considerei um privilegiado. Em São Paulo, mas já no científico, no Colégio Bandeirantes, acabamos conseguindo uma bolsa de estudos. Até hoje sou grato ao Professor Barifaldi por sua generosidade.

Nesse tempo, também comecei a trabalhar no Jornal de Vila Mariana, onde corria atrás de anúncios e escrevia notas. Com o tempo, fazia de tudo: vendia classificados, escrevia notícias, acompanhava a gráfica, ajudava a distribuir.

Quando fui trabalhar na Standard , na Thompson e na Varig, na DPZ, toda essa bagagem de conhecimento e personagens seguiram comigo, estavam dentro de mim, eram meu patrimônio.

Acho que na vida, ao longo dela, levamos sempre uma grande mala e nela vamos carregando um pouco de tudo a cada dia. As nossas emoções, os nossos medos, nossas alegrias, amores, amigos, nossas tristezas, sucesso, desventuras. Essa bagagem acaba tendo de tudo um pouco e o equilíbrio entre os itens é que formam o nosso próprio personagem.

Minha bagagem me permitiu criar, estabelecer o meu jeito de fazer propaganda. Aprendi a buscar ser diferente e ser conciso, o que cultivei como uma virtude.

Creio que como parte de uma sociedade em constante mutação, inserida num planeta no qual as novas tecnologias todos os dias assumem papéis em nossas vidas, a Academia precisa defender não apenas o vernáculo convencional, mas as novas formas de expressão, o novo jeito de dizer as coisas por meio de abreviaturas, de sinais, de imagens.

Ainda recentemente li que “um emoji vale por mil palavras” sendo “emoji” uma palavra absolutamente nova. Também a forma paulista de dizer, um português rico, cheio de vocábulos e que só fazem engrandecer nossa cultura. Essa é a nova linguagem escrita, a que está nos livros, que formatam o novo jeito de se dizer as coisas e se atingir os objetivos da mensagem desejada. Em todos os campos da atividade humana temos visto isso. Uma cerquilha, que define um hashtag, por exemplo, passou a ser referência de busca na internet, outra palavra que se incorporou ao vernáculo de forma tão precisa que parece estar entre nós há centenas de anos.

A profissão deu-me também a oportunidade de estudar fonética a maneira como a língua é falada, seus sotaques, gírias e entonações, suas expressões populares. E o que esses sotaques significam para quem os ouve.

É com esse vigor e pretensas habilidades na defesa de nossa língua e suas vertentes mais antigas e mais modernas que passarei a ocupar a cadeira de número 21. Um assento emblemático e que já foi ocupado por nomes ilustres e com toda certeza bem mais importantes do que o titular que ora ocupa esta tribuna.

Sempre exerci minha profissão com o sentido de missão. Minha vida e atuação profissional sempre se deram baseadas num conjunto de dogmas formado pela verdade, originalidade, bom gosto criativo e moral nos negócios.

No momento em que vivemos uma crise política e econômica, em que assistimos uma propaganda política da pior qualidade, que atingiu esse estágio ao longo dos anos, não poderia neste momento deixar de expor minhas críticas.

Ao contrário da propaganda comercial, que tem mantido o bom nível, que se tem demonstrado eficiente e criativa, a propaganda política envereda por um caminho que considero até perigoso.

O que faz hoje é perigoso na medida em que se busca contrapor brasileiros entre si, explorar regionalismos e opções políticas, de fé e de vida.

Sempre serei uma voz contra tudo isso. Essa é uma das minhas causas, a de fazer propaganda com verdade, originalidade, bom gosto e moral.

Esse é o jeito que moldei minha trajetória. Graciliano Ramos dizia que “Entre a gramática e a censura o escritor sempre encontra seu caminho.”

Deixo essa frase a todos como inspiração de vida.

Hoje é um dia especial para mim, estou emocionado, honrado em fazer parte desse seleto grupo, feliz por ser um membro da Academia Paulista de Letras.


Sinceramente, meu muito obrigado!



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